Rio de Janeiro, 18 mai (RV) - Dentre tantas celebrações e eventos neste mês
de maio, demonstrando a riqueza de nossa caminhada eclesial na história, temos, também
a comemoração de um dia especial para reflexão sobre as comunicações sociais, jornada
que foi desejada pelo decreto “Inter Mirifica” do Concílio Vaticano II – que é o único
dia especial criado nos documentos conciliares para ser festivamente celebrado e refletido
em nossas comunidades. O documento conciliar é um passo importante na tomada de posição
da Igreja Católica com relação às comunicações, escrito há quase cinquenta anos. Graças
à sobriedade deste documento, ele se colocou como intermediário entre épocas diferentes
e abriu as portas para os desafios vindouros neste importante e multifacetado campo
das comunicações sociais.
No Brasil comemoramos o Dia Nacional das Comunicações
a 5 de maio e, como Igreja, nós celebramos o Dia Mundial, aqui no Brasil, no Domingo
da Ascensão do Senhor, neste ano no dia 16 de maio, quando então celebraremos o 44º
Dia Mundial das Comunicações Sociais. Sabemos quão importante são os meios de comunicação,
sobretudo nestes últimos tempos,quando cada vez mais se propaga a tecnologia e a utilização
de métodos sofisticados e modernos. Com esse avanço técno-científíco, a Igreja também
tem que saber utilizar destes bons e confiáveis métodos para continuar a sua missão,
que é “Anunciar a Palavra de Deus a todos os povos”.
É importante frisar que
a mídia não substitui a participação pessoal em nossas comunidades e nos sacramentos,
assim como supõe uma vida coerente daquele que a utiliza, pois transmitimos os valores
também através do tom de voz, dos gestos, dos olhos, da escolha de textos, da maneira
como comunicamos. Embora existam muitas ferramentas tecnológicas que tendem a disfarçar
muitas realidades, no entanto, o ser humano tem uma comunicação que vai além das palavras,
mesmo eletrônicas, que chegam ao coração das pessoas. Por isso, trabalhar com os meios
de comunicações supõe uma conversão pessoal ainda mais profunda e sincera.
Para
este ano, o Papa Bento XVI escreveu uma mensagem que tem o seguinte tema: “O sacerdote
e a pastoral no mundo digital: as novas mídias a serviço da Palavra”. Com estas palavras
o Papa quis fazer uma relação do Ano Sacerdotal, o qual estamos celebrando com esta
mensagem sobre a comunicação, pois o padre deve ser um bom comunicador a exemplo de
Nosso Senhor Jesus Cristo que comunicou o Pai. Assim, os padres têm como papel fundamental
anunciar Cristo, Palavra de Deus encarnada, e “comunicar a multiforme graça divina
portadora de salvação mediante os sacramentos. Convocada pela Palavra, a Igreja coloca-se
como sinal e instrumento da comunhão que Deus realiza com o homem e que todo sacerdote
é chamado a edificar n’Ele e com Ele”. (Mensagem do Papa Bento XVI para o 44º Dia
Mundial das comunicações.)
Para dar respostas adequadas às várias questões
no âmbito das grandes mudanças culturais, particularmente sentida no mundo juvenil,
tornam-se um instrumento útil as vias de comunicação abertas pelas conquistas tecnológicas.
Colocando à nossa disposição meios que permitem uma capacidade de expressão praticamente
ilimitada, o mundo digital abre perspectivas e concretizações notáveis ao incitamento
paulino: “Ai de mim se não anunciar o Evangelho!” (1Cor 9,16). Diante disso, o padre
acaba por encontrar-se como que no limiar de uma “história nova”, porque quanto mais
intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais ampliadas forem
as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais o sacerdote será chamado a ocupar-se
disso pastoralmente, multiplicando o seu empenho em colocar a tecnologia a serviço
da Palavra de Deus.
A coragem de estar presente nos “meios de comunicação”
e em especial hoje com as novas ferramentas digitais, deve ser para o padre, mas também
para todo cristão, um desafio constante. No “território livre” da internet encontramos
as mais variadas, complexas e bizarras opiniões. Muitas vezes faltam as ideias e opiniões
que realmente traduzam o pensamento de Cristo, do Evangelho, da Igreja. Existe muita
desinformação sobre muitos aspectos do trabalho eclesial, e com os “preconceitos”
que hoje grassam pela mídia, também com relação à fé e à religião, e, se não estivermos
presentes, estaremos nos omitindo em uma grande missão que nos compete. O tema que
o Papa Bento XVI escolheu na festa dos Arcanjos Gabriel, Rafael e Miguel e publicou
no Dia de São Francisco de Sales e que neste domingo é comemorado deve ser aprofundado
e trabalhado ainda mais em nossas comunidades.
Quando falamos de comunicação,
lembramos que ela não se resume “aos meios”, mas é um “processo” humano importante.
E aprofundando todo esse caminho, a Igreja procura tanto formar o seu povo para um
correto uso como também quer ajudar profeticamente a sociedade humana a refletir sobre
o como está hoje utilizando a mídia. A maioria dos governos procura, seja por legislação
impositiva, seja por pressão ditatorial, seja pela economia controlar os meios de
comunicação. De outro lado, nem sempre o nosso povo é formado para uma “leitura crítica
da comunicação” e acaba absorvendo tudo o que é inserido na mídia, como se fossem
“verdades” incontestáveis. Depois de passarmos por uma etapa onde a leitura de textos
era muito valorizada e discutida, fomos para os resumos e com letras maiores para
chegarmos à ilustração com fotografias ou com imagens como fundamentais para a comunicação.
Hoje estamos na cultura das “manchetes”, cientificamente trabalhadas e escolhidas
por especialistas para causar impacto, seja para as vendas ou audiências maiores,
ou para impor ideias ou culturas. Muitas regiões do mundo tomam conhecimento de assuntos
que ocorrem distantes de seu local de habitação apenas pelo filtro da manchete “pinçada”
de um texto maior que nem sempre retrata exatamente a ideia do proponente. Este é
um dos temas que é importante discutir e comentar nestes tempos dominados pela mídia
que, junto com um belo e importante trabalho, luta também para poder sustentar-se
e ser realmente “livre”. Uma das grandes discussões que ora ocorre em nosso país é
justamente sobre a “liberdade de imprensa”, quando ideias antagônicas se contrapõem
na defesa ou condenação dos termos do PNDH 3, mesmo depois da publicação das propostas
de modificações. Não podemos simplesmente ou sentimentalmente defender ou condenar
posições e, sim, com ideias claras e objetivas discutir com seriedade o assunto e
discernir o que queremos para o futuro de nossa nação.
Quantos documentos nestes
últimos tempos nos falam sobre o Evangelizar com novos métodos, pois eis os novos
métodos e as novas formas: os meios de comunicação. Temos que utilizar destes meios
da melhor forma possível para, através da rádio, Televisão, Internet e outros meios
fazer com que a Palavra de Deus chegue a todos aqueles que ainda não a conhecem, mas
também àqueles que conhecem para nutrir-se cada vez mais da sua espiritualidade.
O
padre, através dos meios de comunicação, poderá dar a conhecer a vida da Igreja e
ajudar os homens de hoje a descobrirem o rosto de Cristo, conjugando o uso oportuno
e competente de tais meios adquiridos já no período de sua formação no seminário e
ainda a sua formação posterior, com uma sólida preparação espiritual, teológica e
humana. Dessa maneira, a tarefa do consagrado é aplainar as estradas para os novos
encontros, assegurando sempre a qualidade do contato humano e a atenção às pessoas
e às suas verdadeiras necessidades espirituais para reconhecerem o Senhor; dando-lhes
a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da palavra
de Deus que salva e favorece o desenvolvimento integral.
Portanto, as novas
mídias oferecem aos padres e a todo povo fiel perspectivas sempre novas e, pastoralmente,
ilimitadas, que solicitam a valorizar a dimensão universal da Igreja para a comunhão
ampla e concreta; a ser no mundo de hoje testemunhas da vida sempre nova, gerada pela
escuta do Evangelho de Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos salvar.
O Papa termina a sua mensagem dizendo que: “é preciso não esquecer que a fecundidade
do ministério sacerdotal deriva primariamente de Cristo encontrado na oração, anunciado
com a pregação e o testemunho da vida, conhecido, amado e celebrado nos Sacramentos,
sobretudo da Santíssima Eucaristia e Reconciliação”.
Os meus cumprimentos
a todos os comunicadores e, em especial, aos membros das “Pascons” de todas as comunidades
que celebram nestes dias suas semanas ou dias de reflexão sobre o tema do Dia Mundial.
Que o Senhor nos ilumine e nos ajude a construirmos um mundo mais justo e humano com
o nosso trabalho através da utilização desses instrumentos que, se bem utilizados,
podem ajudar o presente e o futuro da humanidade.
D. Orani João Tempesta, O.
Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Presidente da Comissão Episcopal para a Cultura, Educação
e Comunicação da CNBB