2010-05-11 20:14:39

PAPA DURANTE VOO A PORTUGAL: MAIOR PERSEGUIÇÃO CONTRA IGREJA VEM DE SEUS PRÓPRIOS PECADOS


Cidade do Vaticano, 11 mai (RV) - A relação entre secularização e fé, a crise econômica e as suas influências na Europa, o sentido da peregrinação em Fátima, com uma reflexão sobre as feridas mais recentes sofridas pela Igreja, como a ferida dos abusos sexuais – que encontram ressonância na própria mensagem de Fátima. Foram os temas abordados esta manhã por Bento XVI no encontro com os 65 jornalistas a bordo do avião que levou o Papa e comitiva a Portugal.

Referindo-se, em particular, à questão dos abusos cometidos pelo clero, o Santo Padre afirmou que "as maiores perseguições" contra a Igreja hoje vêm não de fora, mas "dos pecados" dentro dela.

As palavras do Pontífice ecoaram de modo claro e incisivo a bordo do Airbus A320 Alitalia, lotado de jornalistas como sempre ansiosos para ouvir as primeiras considerações do Papa no início de uma viagem apostólica.

A terceira pergunta dos jornalistas foi concernente a um dos pontos nevrálgicos: é possível colher na Mensagem de Fátima, além daquilo que disse respeito a João Paulo II e ao atentado sofrido, também o sentido dos sofrimentos vividos hoje pela Igreja, fortemente atingida pelos episódios dos abusos sexuais contra menores?

A resposta de Bento XVI foi contundente: aquilo que se pode descobrir de novo na Mensagem de Fátima é que nela se vê – disse – a "paixão" que a Igreja vive que "se reflete na pessoa do Papa":

"Os ataques ao Papa e à Igreja vêm não somente de fora, os sofrimentos da Igreja vêm justamente de dentro dela, do pecado que existe nela. Embora isso tenha sido sempre sabido, hoje o sabemos de modo realmente terrificante: que a maior perseguição contra a Igreja não vem de fora, mas nasce do pecado na Igreja, e que a Igreja, portanto, precisa profundamente reaprender a penitência, aceitar a purificação, aprender novamente, de um lado o perdão, mas também a necessidade da justiça. O perdão não substitui a justiça."

Dito isso – reiterou o Pontífice – devemos recordar que "o Senhor é mais forte do que o mal, e que Nossa Senhora é para nós garantia visível, materna, da bondade de Deus, que sempre é a última palavra na história".

Precedentemente, Bento XVI respondera a uma pergunta sobre a realidade de secularização de Portugal, país no passado profundamente católico.

Em primeiro lugar, o Santo Padre reconheceu a presença, ao longo dos séculos, de uma "fé corajosa, inteligente e criativa", testemunhada pela nação lusitana também em muitas partes do mundo, como no Brasil. Embora notando que "a dialética entre fé e secularismo em Portugal" tem "uma longa história", todavia – observou – não faltaram pessoas intencionadas a "criar pontes", a "criar um diálogo" entre as duas posições. Uma missão que jamais conheceu o seu ocaso e é ainda hoje atual:

"Penso que justamente a tarefa, a missão da Europa nesta situação, é encontrar este diálogo, integrar fé e racionalidade moderna numa única visão antropológica que completa o ser humano e se torna assim também comunicável às culturas humanas. A presença do secularismo é uma coisa normal, mas a separação, a contraposição entre secularismo e cultura da fé, é anômala e deve ser superada. O grande desafio deste momento é que os dois se encontrem, de modo que encontrem a sua verdadeira identidade. É uma missão da Europa e uma necessidade humana nesta nossa história."

O Santo Padre respondeu também a uma pergunta sobre a crise econômica que colocaria em risco, segundo alguns, a própria estabilidade da Europa comunitária. Partindo da Doutrina Social da Igreja, que convida o positivismo econômico a entrar em diálogo com uma visão ética da economia, o Papa recordou que a fé católica muitas vezes, no passado, deixou as questões econômicas para o mundo, pensando somente "na salvação individual". E concluiu:

"Toda a tradição da Doutrina Social da Igreja se coloca no sentido de estender o aspecto ético e da fé, para além do indivíduo, à responsabilidade do mundo, a uma racionalidade moldada pela ética. E, por outro lado, os últimos eventos no mercado nestes últimos dois-três anos demonstraram que a dimensão ética é interna e deve entrar no agir econômico (...) somente assim, a Europa realiza a sua missão." (RL)







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