Papa aborda questões fundamentais deste momento, em conversa com jornalistas durante
o voo
Durante o voo para Lisboa, o Papa respondeu, como habitualmente nas viagens, a algumas
perguntas dos jornalistas presentes. As questões abordadas desta vez foram: o anúncio
da fé num Portugal outrora profundamente católico e hoje a braços com a secularização;
lições a tirar, do ponto de vista ético, da crise económica que afecta Portugal e
põe em risco o futuro da União Europeia; e o significado da mensagem das Aparições
de Fátima no contexto dos sofrimentos actuais da Igreja.
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Embora
reconhecendo que Portugal sempre teve uma fé forte, corajosa, inteligente e criativa
que soube, aliás, levar a outros povos, o Papa disse que o secularismo sempre existiu
em Portugal. Já em 1700 havia correntes iluministas no país. Basta pensar em Pombal.
Mas sempre houve também uma constante dialéctica entre iluminismo, secularismo e fé.
E ao lado disto, havia também quem propugnasse pelo dialogo entre estas diferentes
realidades. Só que isto não foi possível e o fenómeno foi-se radicalizando ao longo
da História até assumir as características do espírito da Europa de hoje. Contudo,
tem-se a consciência de que essa dialéctica é uma oportunidade para se enveredar pelo
caminho da síntese, de um dialogo profundo, pois, como mostra o contexto multicultural
em que vivemos actualmente, o racionalismo sem a dimensão religiosa transcendente
não seria capaz de entrar em dialogo com as culturas da humanidade. A cada dia que
passa – prosseguiu Bento XVI – descobre-se que a ideia de que existe uma razão pura
é um erro. A razão como tal está aberta ao transcendente. A missão da Europa é, portanto,
encontrar o caminho de um dialogo que permita integrar fé e razão numa única visão
antropológica. A presença do secularismo é normal. É a separação entre fé e secularismo
que é anómalo – rematou o Papa, segundo o qual o grande desafio neste momento é o
encontro entre estas duas realidades a fim de que cada uma encontre a sua verdadeira
identidade.
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O Papa abordou depois a questão da crise económica
que ameaça Portugal e à pergunta que lições tirar do ponto de vista ético e moral
da actual crise que põe em risco o futuro da União Europeia, Bento XVI disse que isto
é um caso emblemático de demonstração de que fé e razão devem caminhar juntos, caso
contrário não encontraremos o caminho em direcção ao futuro. Há um positivismo económico
que pensa que o mercado resolve tudo sozinho, sem nenhuma intervenção ética, mas a
realidade está a demonstrar que isso cria problemas sem soluções. O Papa não deixou
de sublinhar que a fé católica concentrou-se muito na salvação do individuo sem ter
em conta que isto comporta uma responsabilidade global para com o mundo. Aqui também
é preciso um dialogo concreto – disse, recordando que a Encíclica Caritas in Veritate
convida a alargar o aspecto ético da fé, à responsabilidade, a uma racionalidade permeada
pela ética. Além disso, os acontecimentos dos últimos anos ligados ao mercado, mostram
que a dimensão ética não pode ser dissociada do agir económico, porque o homem é um.
Trata-se, também aqui duma visão antropológica sã que implica todas as dimensões da
pessoa humana - disse Bento XVI - frisando mais uma vez que só assim a Europa poderá
cumprir a sua missão.
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Finalmente, falando do significado
das aparições de Nossa Senhora em Fátima e se a sua mensagem vai para além do sofrimento
de João Paulo II para se estender a outros Papas e à Igreja nesta hora difícil em
que está a enfrentar a questão dos abusos sexuais, Bento XVI disse que a mensagem
passa dos pequeninos ao mundo inteiro, a toda a História, iluminando-a. Então, através
dessa grande visão do sofrimento de João Paulo II, são os sofrimentos, a paixão da
Igreja que vão emergindo. O importante é que a mensagem de Fátima seja entendida não
como uma resposta a situações particulares, mas um apelo à conversão permanente, à
penitência, à oração.
Recordando depois que o Senhor disse que a Igreja será
sempre sofredora até ao fim dos tempos e de várias formas, Bento XVI sublinhou que
a novidade de hoje é que esse sofrimento não vem só de fora, mas nasce também do pecado
da própria Igreja, a qual deve aprender de novo a fazer penitência, a aceitar a purificação,
a perdoar, sem todavia, substituir a justiça com o perdão. Enfim, é preciso conversão,
concluiu o Papa, confiante de que as forças do bem estão sempre presentes e que a
bondade de Deus é sempre a última resposta da História.
pois
o Papa está na Igreja. O Senhor disse que a Igreja será sempre sofredora de vários
modo, até ao fim dos tempos – recordou o Papa – frisando que a Igreja .