Brasília, 07 mai (RV) - Desde o dia 04 de maio estamos, cerca de 350 prelados,
entre Cardeais, Arcebispos e Bispos Diocesanos ou equivalentes, tanto do rito latino
como oriental, reunidos em Brasília, Distrito Federal, para a 48ª. Assembleia Geral
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no Centro de Eventos e Treinamento
(CET) da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Comércio (CNTC) para participarmos
deste grande encontro que é a reunião do Episcopado Brasileiro, o qual se concluirá
no dia 13 de maio. Neste ano, a Assembleia Geral está sendo realizada em Brasília
para agradecermos a Deus pelo jubileu de ouro da Arquidiocese de Brasília, que nasceu
no mesmo ano da inauguração da cidade e cinquenta e três anos da celebração da primeira
missa nesse local, iniciando assim a evangelização da capital federal. A escolha de
Brasília, que recebe pela segunda vez uma Assembleia de Bispos favorecerá à nossa
participação como Igreja no Brasil da celebração do XVI Congresso Eucarístico Nacional,
que acontecerá de 13 a 16 de maio de 2010. Fazem parte de nossa Assembleia também
os Bispos Eméritos, que são aqueles que, depois de uma longa jornada de trabalho pela
Igreja, continuam trabalhando em prol do Reino de Deus sem uma responsabilidade diocesana. A
Assembleia Geral tem um tema central e cerca de vinte outros temas, parte deles chamados
de prioritários. Às vezes as notícias que são veiculadas não fazem jus ao que realmente
acontece na Assembleia dos Bispos. Por isso queremos fazer chegar ao nosso povo as
decisões, sonhos, preocupações, esperanças da Igreja que, junto com tantos temas sociais,
dedica uma grande parcela da Assembleia para as orações, missas, confissões, celebrações,
lucernário e tantos outros atos de vida de fé. É um tempo de muita oração e fraternidade. Escolhido
desde o ano passado, os bispos estão estudando como tema central “Discípulos e servidores
da Palavra de Deus e a missão da Igreja no mundo”. É um tema importantíssimo para
a vida da Igreja e foi inspirado no tema e nas propostas enviadas ao Santo Padre no
último Sínodo dos Bispos. Enquanto aguardamos o texto da Exortação Pós Sinodal que
o Papa deverá publicar aprofundando esse tema, a Igreja que caminha nestas terras
de Santa Cruz quis aprofundá-lo de tal maneira que a discussão que ora está sendo
desenvolvida na Assembleia Geral deve gerar muitos frutos para o trabalho de evangelização
e catequese. Aproveitando a reflexão proposta aos Bispos sobre o assunto, partilho
algumas idéias que nos ajudaram a refletir nestes dias. É muito importante aprofundar
porque as várias interpretações bíblicas que perambulam pela mídia nem sempre apresentam
esse tema com a devida clareza e muitas vezes até confundem o nosso povo. Existem
os fundamentalistas em vários grupos religiosos e que levam alguns a darem passos
não condizentes com o espírito religioso de fraternidade e busca do verdadeiro Deus.
Por isso é bom recordar o que a Igreja de Jesus Cristo pensa sobre a Palavra de Deus.
No prólogo do Evangelho de João, ele nos mostra com muita clareza que a Palavra
é uma pessoa que está na origem do mundo e que se torna carne e pode ser vista, tem
um rosto e um nome: é Jesus! “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto
de Deus, e a Palavra era Deus... e a Palavra se fez carne” (Jo 1, 1.14). A Palavra
é uma pessoa, a Palavra de Deus não é primeiramente um livro, mas sim uma pessoa viva!
“Esta Palavra de Deus transcende a sagrada escritura, ainda que a contenha de modo
totalmente singular”. Por isso a Palavra de Deus está nas Sagradas Escrituras divinamente
inspirada do Antigo e Novo Testamento. Um tema que será ainda mais aprofundado
é o da Lectio Divina, ou a Leitura Orante da Bíblia, que deveria ser a maneira de
trabalhar e refletir em nossas comunidades os grupos, pastorais e, em especial, os
círculos bíblicos. Isso resolveria o problema da falta de unidade que existe entre
os que se reúnem em nossos grupos, pois, quando se parte de fatos da vida, eles são
diferentes para cada situação das pessoas e da região onde residem. Se partirmos da
Palavra de Deus, será ela mesma a iluminar a vida concreta e, ao mesmo tempo, teremos
certa unidade de reflexões, temas e orações, mesmo que os grupos e histórias sejam
diferentes. Outro assunto interessante e importantíssimo é a animação Bíblica da
pastoral. É um enunciado que traduz uma nova postura com relação ao trabalho que deve
ser realizado. Agora não se diz Pastoral Bíblica, mas sim da Animação Bíblica da Pastoral,
ou seja, é ela que anima todo o nosso trabalho. Este é um assunto muito importante
e que deve ser aprofundado também em nossas comunidades Como consequência de tudo
isso, e também devido às várias circunstâncias da cultura e da vida de hoje, a necessidade
e a importância da iniciação cristã como ocasião propícia para a formação dos cristãos. Acerca
desse tema, recordo ainda que vivemos uma mudança de época que é plural, diversificada
e com várias situações ao nosso redor. No último dia 5 de maio comemoramos o Dia Nacional
das Comunicações Sociais (nós celebraremos a Jornada Mundial das Comunicações Sociais
no Domingo da Ascensão do Senhor). Lemos que durante a sua vida terrena, Jesus se
manifestou como perfeito comunicador do Pai e comunicava a mensagem com a palavra
e com a vida, “não falava como que ‘de fora’, mas ‘de dentro’ a partir do seu povo”
(CProgressio n. 11). A cultura do nosso tempo é fortemente midiática e, como adverte
Bento XVI, o nosso tempo vem marcado por novas tecnologias digitais, que estão provocando
“mudanças fundamentais nos modelos de comunicação e nas relações humanas”. As redes
digitais modernas “podem facilitar novas formas e métodos de animação bíblica, pois
elas nos levam a considerar “os novos olhares sobre a cidade”, tão necessários para
desenvolver o diálogo entre fé e cultura.
Este tema central nos leva a
rever a nossa prática pastoral, onde o sistema paroquial centralizado deve abrir-se
para a caminhada ao encontro do fiel, quando somos convocados a formar Escolas de
Evangelização Inculturada, incentivando a busca de novas linguagens (formas de expressar
a mensagem: internet, celular, twiter e outras ferramentas) na cultura midiática contemporânea
(redes digitais), e novos métodos para o anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo. Assim,
de uma maneira inaudita, somos convidados a usar corajosamente os MCS para proclamar
o “Verbo Encarnado por sobre os telhados”. Mas não basta pura e simplesmente coragem
para usar os meios de comunicação. É preciso nova mentalidade, horizontes novos. Devemos
superar a evangelização “ad intra” para uma nova e eficaz evangelização, que parta
ao encontro do fiel, usando de todos os métodos para atingir os que não são atingidos
pela ação da Igreja, superando o interesse imediato pela efetiva vivência da ação
evangelizadora naqueles que estão afastados da vida comunitária e eclesial. O grande
enfoque do texto central que os bispos estão estudando é que devemos superar uma pastoral
da “conservação” para dialogar efetivamente com a cultura contemporânea, como nos
pediu a V Conferência em Aparecida e foi também a reflexão do Sínodo dos Bispos sobre
a Palavra de Deus. A missão de Jesus ultrapassa a esfera da Igreja. A missão da
Igreja deve ser desenvolvida junto à sociedade. Além do tema central, dezesseis outros
assuntos serão tratados ocupando espaço na Assembléia Geral como a Questão Agrária,
as diretrizes gerais da evangelização da sociedade, as comunidades eclesiais de base,
e tantas outras belas iniciativas. Devemos recordar que nós também evangelizamos quando
trabalhamos pelo bem, vivendo uma vida de sincera oração e comunhão. O futuro
da Igreja no Brasil passa também por esta Assembleia. Convido todos os fiéis e pessoas
de boa vontade para que rezem pelo bom êxito deste encontro, e para que a ação pastoral
e evangelizadora no Brasil nos ajude a uma adesão maior ao seguimento de Jesus Cristo
para sermos discípulos-missionários da Palavra de Salvação.
+ Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo
de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ