Juiz de Fora, 06 mai (RV) - “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu
Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada.” (João 14,23)
O
texto do sexto domingo da Páscoa tem sabor de testamento-herança: o projeto de Deus
é confiado àqueles que se comprometem com Jesus.
No Antigo Testamento, quando
o povo de Deus, saído do Egito, caminhava rumo à construção de nova sociedade na terra
prometida, Deus se comunicava com o povo na Tenda da Reunião, a “morada” de Javé.
Agora, cada cristão que assume o projeto de Deus é a morada onde o Pai e o Filho se
encontram e se manifestam ao mundo inteiro. Mas isto exclui uma posição intimista,
como se bastasse o esforço individual. Jesus destina sua mensagem de despedida à comunidade
como um todo. Cada cristão é Tenda da Reunião do Pai e do Filho, mas isso só tem sentido
quando o “guardar a palavra” é entendido comunitariamente, como proposta assumida
por todos os que, pela fé, aderiram a Jesus.
O pensamento da morte assusta
os discípulos e os paralisa. Como Jesus confiaria a essa gente medrosa e inerte o
prolongamento da sua prática libertadora? O que os discípulos irão fazer com a Herança
do Mestre? Em nome de Jesus, o Pai vai enviar o Conselheiro, o Espírito Santo, gerador
de vida nova.
A melhor explicação que temos do Espírito Santo aparece neste
texto: “O Espírito Santo que o Pai enviará em meu Nome vos ensinará tudo o que eu
vos disse.” Ele ajuda a comunidade a descobrir-nos diversos lugares a presença de
Deus.
A realidade fundamental e definitiva é a comunhão. A vida deve ser comunhão
para ser entendida e vivida plenamente. Cristo é a chave que possibilita a plena e
definitiva comunhão dos homens com Deus e entre si. O plano de Deus é dar paz em Jesus
Cristo, isto é, levar as pessoas a viverem a comunhão como condição e redescoberta
de sua origem e destino.
Olhando a vida dos santos, percebemos que eles sofreram
para estabelecer a solidariedade e o amor por onde eles viveram. É vivendo em comunidade
que saberemos estabelecer a paz e a concórdia dentro do nosso mundo e em cada um de
nós.
Viveremos na presença de Cristo e de Deus quando, através do Espírito
Santo, soubermos desenvolver uma comunidade cristã.
O Deus Uno e Trino, a Santíssima
Trindade, é uma comunidade de amor. E cada um de nós será templo e sacrário da Trindade,
como Maria, se souber desenvolver na Igreja uma comunidade de amor.
Deus quer
que sejamos felizes, Cristo demonstrou como podemos ser e o Espírito Santo foi enviado
para abrir nossas mentes, muitas vezes limitadas aos valores do mundo, a fim de que
construamos uma comunidade de amor aqui na terra.
Ainda conseguiremos isto,
pois Jesus prometeu que, afinal, haverá um só rebanho e um só pastor, mas não poderemos
esperar que isto aconteça sem que cada um dê a sua parcela de contribuição.
Usando
a imagem do oceano, Madre Teresa afirmou que o seu gesto era uma gota, mas, sem ele,
o oceano seria menor.
Se cada um agir conforme Jesus ensinou, formaremos, gota
a gota, um oceano de amor, plenitude, presença da Trindade em cada um de nós e no
mundo.
Eurico dos Santos Veloso Arcebispo Emérito de Juiz de Fora(MG)