Cidade do Vaticano, 1° mai (RV) - Todo dia 1º de maio de cada ano, a Igreja
celebra a Memória de São José Operário. A Igreja, providencialmente, nesta data civil
marcada, muitas vezes por conflitos e revoltas sociais, deu um direcionamento cristão
ao evento.
O Papa Pio XII, em 1955, quis oferecer ao trabalhador cristão um
modelo e um digno protetor, lembrando que “todo trabalho possui uma dignidade inalienável
e, ao mesmo tempo, uma íntima ligação com a pessoa e seu aperfeiçoamento: nobre dignidade
e prerrogativa, que não são de modo algum aviltadas pela fadiga e pelo peso que devem
ser suportados como efeito do pecado original em obediência e submissão à vontade
de Deus” (Mensagem de Natal, 1942).
Com isso, Pio XII, na presença de mais
de 200 mil pessoas na Praça de São Pedro, as quais gritavam alegremente: “Viva Cristo
Trabalhador, viva os trabalhadores e viva o Papa”, deu aos trabalhadores um protetor
e modelo: São José, o Operário de Nazaré”. Com relação à reflexão sobre o capital
e o trabalho e outros temas afins, todos os últimos Pontífices Romanos escreveram
muitas Encíclicas acompanhando o povo de Deus em sua caminhada para a realização da
vida e da dignidade da pessoa humana.
Esta data, comemorada diferentemente
nas várias regiões do mundo, é uma oportunidade para repensarmos nossas vidas e valores
que modelam o mundo atual. Apesar de tantos passos dados, descobriremos como ainda
somos chamados a progredir na dignidade humana, no valor da pessoa, na importância
e remuneração do trabalhador. Esse tema, que já ocasionou tantas mortes em tantos
momentos da história, deve ser iluminado pela luz do Evangelho e pela presença do
Cristo Ressuscitado, que dá um sentido novo à vida de todos nós e tem como consequência
a reflexão sobre a dignidade humana e a importância do trabalho.
São José,
reconhecido na Bíblia como um homem justo, é quem revela com a sua vida que o Deus
que trabalha sem cessar na santificação de suas obras, é o mais desejoso dos trabalhos
santificados: “Seja qual for o vosso trabalho, fazei-o de boa vontade, como era para
o Senhor, e não para os homens, cientes de que recebereis do Senhor a herança como
recompensa... O Senhor é Cristo” (Col 3,23-24). A Igreja recorda a todos, seguindo
o exemplo de São José e sob o seu patrocínio, o valor humano e sobrenatural do trabalho.
A Igreja, ao apresentar-nos hoje São José como modelo, não se limita a louvar
uma forma de trabalho, mas a dignidade e o valor de toda forma de trabalho humano
honrado. É a forma como colabora com a providência divina sobre o mundo. Todo trabalho
é testemunho da dignidade do homem, do seu domínio sobre a criação; é meio de desenvolvimento
sobre a personalidade; é vínculo de união com os outros seres; fonte de recurso para
o sustento da família; meio para construir para o progresso em que vive e para o progresso
de toda a humanidade. Ao propormos São José como modelo e padroeiro, vemos: um homem
que viveu do seu “ofício” e a quem devemos recorrer com frequência para que não se
degrade nem se distorça o trabalho que temos entre as mãos, pois o nosso trabalho,
com a ajuda de São José, deve sair das nossas mãos como uma oferenda ao Senhor, convertido
em oração.
Peçamos a São José que nos ensine ter a presença de Deus que ele
teve enquanto exercia o seu ofício. Os Santos Evangelhos exprimem em simples, mas
em singelas palavras, quem foi o Pai Nutrício de Jesus: Homem justo, fundamentado
na fé e no serviço. Homem temeroso, que bastou o sinal divino para acreditar e confiar
no Senhor. A grandeza de São José sobressai porque ele soube desempenhar a sua missão
na humildade e no escondimento da casa de Nazaré.
São José, protetor universal
da Igreja, assumiu este compromisso de não deixar que nenhum trabalhador de fé – do
campo, indústria, autônomo ou não, homem ou mulher – se esqueça que ao seu lado estão
Jesus e Maria. A Igreja, na festa do trabalhador, deu um lindo parecer sobre o esforço
humano que gera, dá a luz e faz crescer obras produzidas pelo homem: “queremos reafirmar,
em forma solene, a dignidade do trabalho, a fim de que inspire na vida social as leis
da equidade e repartição de direitos e deveres”. São José ensina-nos a bem fazer o
ofício que nos ocupa tantas horas: as tarefas domésticas, o laboratório, a sala de
aula, o computador, o trabalho de carregar pacotes, de ser executivo ou ainda de cuidar
da portaria de um edifício. A categoria de um trabalho que reside na sua capacidade
de nos aperfeiçoar humana e sobrenaturalmente, nas possibilidades que nos oferece
de levar adiante a família e de colaborar nas obras em favor dos homens, na ajuda,
que através dele, prestamos à sociedade.
No dia 01 de maio, recordo com carinho
o início de meu ministério episcopal na Diocese de São José do Rio Preto, aonde exerci
a missão como terceiro bispo diocesano. Minha vida tem uma ligação íntima com São
José: nascido em São José do Rio Pardo, de São José sempre aprendi a justiça, o silêncio,
o entrar na vontade de Deus, a dignidade do trabalho. Agora, no Rio de Janeiro, busco
o exemplo na vida iluminada e silenciosa de São José as forças necessárias para bem
servir aos irmãos e irmãs, principalmente na nova evangelização. Agradeço a todos
os que trabalham pela vinha do Senhor. Neste tempo de tantas dificuldades, peço, em
especial aos dirigentes cristãos de empresas com a partilha de responsabilidade por
parte do governo, emprego e renda a todos os que vivem em situação de dificuldades.
Que São José Operário nos ilumine e nos inspire sempre a servirmos a Deus, ao próximo
e à sociedade.
São José Operário! Rogai por nós!
+ Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ