PAPA: UM CONSAGRADO CRÍTICO MUSICAL: "LODATE DIO CON ARTE"
Cidade do Vaticano, 29 abr (RV) - Bento XVI transformou-se num consagrado crítico
musical com seu livro "Lodate Dio con arte", que compila seus discursos e outros escritos
sobre arte e, especialmente, sobre música.
O conteúdo do livro, que reúne textos
do Papa Ratzinger tanto da época em que era cardeal como de seu pontificado, foi antecipado
ao jornal italiano "La Stampa". Na obra, o pontífice analisa, entre outras obras,
a Nona Sinfonia de Beethoven, sobre a qual diz: "A Nona (...) suscita sempre em mim,
uma renovada surpresa."
"Após anos de autoisolamento e de vida retirada, nos
quais Beethoven tinha que combater dificuldades internas e externas que ameaçavam
sufocar sua criatividade artística, o compositor – já totalmente surdo – surpreendeu
o público em 1824" – diz Bento XVI no livro.
Trata-se de uma composição – assegura
o papa – que "rompe a forma tradicional da sinfonia e que, com a colaboração da orquestra,
do coro e dos solistas, se eleva a um extraordinário final de otimismo e de alegria".
"O que levou a isso?" – pergunta o papa. E responde: "Para ouvidos atentos, a própria
música deixa intuir algo que está na base desta explosão de júbilo."
"O arrasador
sentimento de alegria transformado aqui em música – prossegue o Papa Ratzinger –
não é nada rápido nem superficial: é um sentimento conquistado com esforço, superando
o vazio interno que a surdez dá e que o levou ao isolamento."
"A solidão silenciosa,
no entanto, tinha mostrado a Beethoven – prossegue o papa – um novo modo de escutar,
que ia além da simples capacidade de experimentar na imaginação o som das notas que
se leem ou se escrevem."
Bento XVI comenta que "quando o Coro e a Orquestra
da Rádio Bávara, por ocasião da queda do Muro de Berlim, em 1989, sob a regência do
maestro Leonard Bernstein, modificaram o texto da sinfonia "Hino à Alegria" para "Liberdade:
bela faísca de Deus", expressaram melhor a emoção do momento histórico: a verdadeira
alegria está naquela liberdade que, em última instância, só Deus pode nos dar".
"Ele
quer que estejamos atentos à sua presença silenciosa não só no céu, mas também no
íntimo de nós mesmos. É aí – onde arde a centelha do amor divino – que Ele pode nos
abrir ao que somos realmente" – conclui o papa, sobre a obra de Beethoven, antes de
se lançar na apreciação de outros compositores como, por exemplo, Schubert. (AF)