Cidade do Vaticano, 24 abr (RV) - "Tendo como objetivo o bem comum, a Igreja
não pretende nada mais que a liberdade de poder propor" a sua "mensagem sem impô-la",
"no respeito pela liberdade das consciências": foi o que disse o Pontífice em seu
discurso ao novo Embaixador da Bélgica junto à Santa Sé, Charles Ghislain, recebido
na manhã deste sábado, no Vaticano, para a apresentação de suas credenciais.
Recordando
o importante papel da Bélgica no âmbito das instituições européias, o Santo Padre
ressaltou como o país tem se sobressaído "na busca de um consenso em situações muito
complexas".
Para Bento XVI, essa busca do consenso que distinguiu a Bélgica
nas questões políticas européias deve ser encorajada também para os "desafios internos".
"Para produzir frutos a longo prazo – acrescentou – a arte do consenso não se reduz
a uma habilidade puramente dialética, mas deve buscar o verdadeiro e o bem".
Ao
pedir ao novo Embaixador para transmitir suas saudações ao Rei Alberto II, o Papa
quis recordar as duas dolorosas tragédias que atingiram a Bélica este ano: o desabamento
de um prédio – causado por um escapamento de gás – verificado em Liege, em janeiro;
e o acidente ferroviário de Buizingen, em fevereiro.
"Essas catástrofes – observou
Bento XVI – nos fazem perceber a fragilidade da existência humana e a necessidade,
para protegê-la, de uma autêntica coesão social, que não enfraquece a legítima diversidade
das opiniões."
"A vida e a dignidade humanas constituem um bem precioso que
precisa ser defendido e promovido com resoluções apoiando-se no direito natural" –
prosseguiu o Papa.
Em seguida, Bento XVI reiterou que "a Igreja se inscreve
plenamente na história e no tecido social" da nação belga e "faz votos de continuar
sendo um fator de convivência harmoniosa entre todos", dando "uma contribuição bastante
ativa, especialmente, mediante as suas numerosas instituições educacionais, as suas
obras de caráter social, e através do empenho benévolo de numerosos fiéis".
O
Pontífice afirmou ainda que a Igreja tem a satisfação de "colocar-se a serviço de
todos os componentes da sociedade belga" e ela, "como instituição, tem o direito a
expressar-se publicamente", direito partilhado "com todos os indivíduos e todas as
instituições para manifestar o seu parecer sobre questões de interesse comum".
Ademais,
recordou a figura do belga Joseph de Veuster, recentemente canonizado, exemplo de
caridade cristã do qual os belgas devem ter orgulho.
Bento XVI se disse convencido
de que, "apesar dos desdobramentos sociais, o húmus cristão é ainda rico" na terra
belga e que este pode robustecer generosamente "o compromisso de um número crescente
de voluntários".
Por fim, o Santo Padre dirigiu um pensamento aos bispos da
Bélgica – que estarão em Roma em visita "ad Limina" a partir de 3 de maio próximo
– e também aos sacerdotes e à comunidade católica belga, exortando-os a um testemunho
audaz da fé e de "valores que respeitem a natureza humana e que correspondam às aspirações
espirituais mais profundas e mais autênticas da pessoa". (RL)