San Salvador, 19 abr (RV) – A Igreja Católica exortou ontem a "purificar a
memória" para sanar as feridas que a guerra civil deixou em El Salvador entre 1980
e 1992, e evitar assim a violência que afeta o país, onde se registram em média 13
assassinatos por dia.
"A Igreja tem uma proposta que diz: Não podemos esquecer,
não devemos esquecer nem tampouco devemos permanecer prisioneiros do passado, devemos
purificar a memória" – disse o Arcebispo Auxiliar de San Salvador, Dom Gregorio Rosa
Chávez, em coletiva de imprensa ao final da missa dominical.
O prelado se
referiu a uma proposta defendida por instituições humanitárias, para que o Parlamento
modifique ou anule a Lei de Anistia Geral, aprovada em 1993 depois dos acordos que
puseram fim à guerra, e aprove uma legislação que dignifique as vítimas.
Dom
Rosa Chávez considera "vital" sanar a memória, já que as feridas seguem abertas. "Por
isso temos tanta violência, porque as pessoas acabam por expressar seu mal-estar com
violência de diferentes tipos: a violência psicológica, física, inclusive a violência
sexual, além da violência básica, que é a violência da injustiça, que impede muitas
pessoas de viver como seres humanos."
Para o Bispo, o caso de Dom Óscar Arnulfo
Romero, assassinado em 1980, é um caso emblemático, até que finalmente o Estado reconheceu
sua responsabilidade no homicídio.
Em 24 de março passado, o Presidente Mauricio
Funes pediu perdão pelo assassinato de Dom Romero, e admitiu a participação indireta
do Estado por tolerar a existência de esquadrões de morte.
A guerra civil
em El Salvador provocou entre 1980 e 1992 pelo menos 75.000 mortos, a maioria civis,
e 8.000 desaparecidos. A Lei de Anistia aprovada em 1993 deixou na impunidade muitos
desses crimes. (BF)