MALTA: DISCURSO DO SANTO PADRE NA GRUTA DE SÃO PAULO
Malta, 17 abr (RV) - Discurso do Santo Padre durante a visita à Gruta de São
Paulo em Rabat.
Querido Arcebispo Cremona, Queridos irmãos e irmãs,
A
minha peregrinação a Malta teve início com um momento de oração silenciosa na gruta
de São Paulo, que por primeiro trouxe a fé a essas ilhas. Vim seguindo as pegadas
dos inúmeros peregrinos ao longo dos séculos, que neste lugar santo rezaram, confiando
si mesmos, as suas famílias e a prosperidade desta Nação à intercessão do Apóstolo
dos Gentios. Estou feliz de estar finalmente entre vocês e os saúdo com grande afeto
no Senhor. O naufrágio de Paulo e a sua permanência por três meses em Malta deixaram
um sinal indelével na história do seu país. As suas palavras aos companheiros antes
de chegar a Malta são recordadas para nós nos Atos dos Apóstolos e foram o tema especial
na preparação de vocês à minha visita. Essas palavras – “É preciso, porém, que sejamos
arremessados a uma ilha” (At 27,26) – no contexto original são um convite à coragem
diante do desconhecido e à confiança inquebrantável na misteriosa providência de Deus.
De fato, os náufragos foram calorosamente acolhidos pelo povo de Malta, seguindo o
exemplo de São Publio. No plano de Deus, São Paulo tornou-se, por isso, o pai de vocês
na fé cristã. Graças à sua presença entre vocês, o Evangelho de Jesus Cristo enraizou-se
de modo sólido e deu muitos frutos não somente na vida de cada um, das famílias e
das comunidades, mas também na formação da identidade nacional de Malta, como também
na sua vibrante e particular cultura. As fadigas apostólicas de Paulo deram vida
também a uma rica messe na geração de pregadores que seguiram as suas pegadas, e particularmente
no grande número de sacerdotes e religiosos que imitaram o seu zelo missionário deixando
Malta para ir levar o Evangelho a terras distantes. Estou feliz pela oportunidade
de poder me encontrar hoje com tantos nesta Igreja de São Paulo, e encorajá-los na
sua vocação repleta de desafios e muitas vezes heróica. Queridos missionários: agradeço
cada um de vocês, em nome de toda a Igreja, pelo seu testemunho do Senhor Ressuscitado
e pelas vidas consumadas ao serviço dos outros. A presença e atividades de vocês em
tantos países do mundo é uma honra para a sua Pátria e testemunha o impulso evangélico
iniciado na Igreja de Malta. Rezemos ao Senhor para que suscite ainda mais homens
e mulheres, que continuem a nobre missão de proclamar o Evangelho e de trabalhar pelo
progresso do Reino de Deus em todos os lugares e entre todos os povos!. A chegada
de São Paulo a Malta não estava programada. Como sabemos, ele estava se dirigindo
para Roma quando improvisamente chegou um violento temporal e o seu navio foi lançado
sobre essa ilha. Os marinheiros podem traçar uma rota, mas Deus, na sua sabedoria
e providência, realiza o próprio itinerário. Paulo, que tinha encontrado de modo dramático
o Senhor Ressuscitado na estrada de Damasco, sabia disso muito bem. O rumo da sua
vida mudou improvisamente; para ele, portanto, viver era Cristo; cada ação sua e cada
pensamento seu eram dirigidos ao anúncio do mistério da cruz e a sua mensagem de amor
de Deus que reconcilia. Aquela mesma palavra, a palavra do Evangelho, ainda hoje
tem o poder de invadir nossas vidas e mudar o seu rumo. Hoje, o mesmo Evangelho que
Paulo pregou continua a exortar o povo dessas ilhas à conversão, a uma vida nova e
a um futuro de esperança. Enquanto me encontro entre vocês como Sucessor do Apóstolo
Pedro, eu os convido a escutarem a palavra de Deus com novo entusiasmo, como o fizeram
os seus antepassados, e deixarem que essas palavras desafiem os seus modos de pensar
e o modo com o qual vocês passam suas vidas. Deste lugar santo onde a pregação
apostólica se difundiu pela primeira vez nestas ilhas, convido cada um de vocês a
assumir o desafio da nova evangelização. Vivam a sua fé de um modo ainda mais pleno,
junto com os membros das suas famílias, com os seus amigos, nos seus bairros, nos
lugares de trabalho e em todo o tecido da sociedade maltesa. De modo particular exorto
os pais, professores e catequistas a falarem ao demais sobre o seu encontro vivo com
Jesus ressuscitado, especialmente aos jovens que são o futuro de Malta. “A fé se reforça
quando é oferecida aos outros” (Redemptoris missio). Saibam que os seus momentos de
fé asseguram um encontro com Deus, o qual na sua onipotência toca o coração do homem.
Assim, vocês introduzirão os jovens na beleza e na riqueza da fé católica, oferecendo
a eles uma sólida catequese e convidando-os a uma participação sempre mais ativa na
vida sacramental da Igreja. O mundo tem necessidade de tal testemunho! Diante
de tantas ameaças à sacralidade da vida humana, à dignidade do matrimônio e da família,
os nossos contemporâneos não têm talvez necessidade de serem constantemente chamados
à grandeza da nossa dignidade de filhos de Deus e à vocação sublime que recebemos
em Cristo? A sociedade não tem por acaso necessidade de apropriar-se e de defender
as verdades morais fundamentais que estão na base da autêntica liberdade e do genuíno
progresso? Precisamente neste momento, enquanto estava diante dessa gruta, refletia
sobre o grande dom espiritual que Paulo deu a Malta, e rezei para que vocês possam
manter íntegra a herança deixada pelo grande Apóstolo. Possa o Senhor conservar vocês
e suas famílias na fé que atua através do amor, e os torne alegres testemunhas daquela
esperança que não provoca desilusão. Cristo ressuscitou! Ele verdadeiramente ressuscitou!
Aleluia!