Ao chegar a Malta, Papa lembrou o papel de encruzilhada cultural entre a Europa, o
Médio Oriente e a África do Norte, ponte entre povos, culturas e religiões presentes
no Mediterrâneo
Malta tem sido e há-de continuar a ser lugar de encruzilhada e de intercâmbio cultural
entre a Europa, o Médio Oriente e o norte de África, servindo de “ponte na compreensão
entre os povos, culturas e religiões presentes no Mediterrâneo”: sublinhou Bento XVI
no discurso pronunciado à sua chegada à Ilha.
Recordando que a ocasião próxima
desta visita são os 1950 anos do naufrágio que levou São Paulo às costas de Malta,
o Papa observou que este acontecimento humanamente imprevisto, que poderia ser considerado
um mero acidente da história, assume aos olhos da fé os contornos de obra da Providência
divina.
“Na realidade, Malta tem sido uma encruzilhada de muitos dos grandes
acontecimentos e intercâmbios culturais da história europeia e mediterrânica, até
aos nossos dias. Estas ilhas têm desempenhado um papel chave no desenvolvimento político,
religioso e cultural da Europa, do Médio Oriente e do Norte de África”.
A
acção missionária, iniciada por São Paulo e prosseguida depois – observou ainda o
Papa – tem dado “muitos frutos ao longo dos séculos, contribuindo para plasmar de
variados modos a rica e nobre cultura de Malta”. Aludindo às fortificações que emergem
na arquitectura da Ilha, Bento XVI sublinhou que esta “muito contribuiu para a defesa
da cristandade tanto por terra, como no mar”.
“Vós continuais a desempenhar
um papel significativo nos actuais debates sobre a identidade, a cultura e as políticas
europeias. Ao mesmo tempo, congratulo-me com o empenho do governo em projectos humanitários
de amplo horizonte, especialmente na África”.
Bento XVI fez votos de que
“tal possa servir para promover o bem-estar dos menos favorecidos, como expressão
de genuína caridade cristã”. “Na realidade – acrescentou ainda – Malta tem muito a
oferecer em diversos campos, como a tolerância, a reciprocidade, a imigração e outras
questões cruciais para o futuro do Continente”, incluindo o que diz respeito ao matrimónio
e à família e ao respeito pela liberdade religiosa.
“Malta goza de estreito
vínculos com o Médio Oriente, não só em termos culturais e religiosos, mas também
linguísticos. Permiti-me que vos encoraje a colocar este conjunto de habilidade e
de pontos de força a favor de um seu uso mais amplo, para poder servir de ponte na
compreensão entre os povos, as culturas e as religiões presentes no Mediterrâneo”.
-No discurso de boas-vindas, o presidente do país, George Abela, recordou que a presença
de São Paulo na ilha fez com que o povo tivesse recebido a mensagem cristã ainda antes
da data em que se acredita que o primeiro evangelho foi escrito. “Este foi um momento
fundamental na nossa história, que tem de ser encarado não apenas à luz da sua perspectiva
histórica e religiosa mas também nas suas consequências culturais e morais”, que deram
ao país uma “identidade cristã que gradualmente substituiu a cultura pagã e politeísta”,
disse o presidente. “Estou certo de falar pela maioria dos meus compatriotas quando
afirmo que no Crucifixo vemos um símbolo da nossa história, da nossa cultura e acima
de tudo da nossa Fé. O rosto de Jesus que sofre na Cruz é o rosto de Deus que perdoa
aos seus inimigos quando estava a morrer”, disse George Abela. O presidente reconheceu
que as famílias estão a passar por uma mudança acelerada, fomentada principalmente
pelo estilo de vida ocidental e pela secularização crescente, mas defendeu que o multiculturalismo
não implica que Malta “tenha de renunciar às suas crenças”. O acolhimento que o
apóstolo São Paulo recebeu pela população da ilha mantém-se, segundo George Abela,
como um dos valores fundamentais do país que, devido à sua situação geográfica, é
escolhido por muitos imigrantes africanos como porta de entrada na Europa. O presidente
prometeu a Bento XVI que Malta vai continuar a defender os valores do cristianismo,
que “aparentemente começaram por mero acaso mas que hoje prezamos pela nossa própria
escolha”.