Rio de Janeiro, 17 abr (RV) - Dezesseis de abril é o dia do aniversário natalício
de Sua Santidade o Papa Bento XVI, gloriosamente reinante. No próximo dia 19 celebraremos
mais um ano de sua eleição à sucessão de Pedro e no dia 24 deste mesmo mês o início
solene do seu ministério de Pastor Universal da Igreja. Foi também em abril, no dia
5, que ele recebeu a nomeação como Cardeal. Este mês normalmente é o mês em que ocorre
a Páscoa e que a primavera começa no hemisfério Norte. Sempre é tempo de esperança
que renasce e de horizontes novos que vislumbramos ao viver este tempo de grandes
mudanças culturais. Quero aqui manifestar meu sincero agradecimento ao Papa, por ter,
apesar de minhas limitações pessoais, me confiado o pastoreio da Igreja que peregrina
nesta cidade maravilhosa de São Sebastião do Rio de Janeiro para, na caridade, ser
o Arcebispo deste povo nestes dias tão machucado pelas trágicas situações das consequências
da catástrofe metereológica e da falta de planejamento urbano, além dos problemas
sociais enormes já existentes, mas com um sonho de mudanças e fraternidade decorrentes
de sua tradição cristã anunciada desde os albores da fundação desta cidade. Por
isso, nestes dias em que o Papa Bento XVI comemora os seus oitenta e três anos de
vida e cinco anos de Pontificado, com uma caminhada abençoada, coerente, retilínea,
gostaria de ressaltar um pouco a importância canônica e pastoral do Sucessor de Pedro.
Diz o Código de Direito Canônico no Cânon 330 que: “Assim como, por disposição do
Senhor, São Pedro e os outros Apóstolos constituem um único Colégio, de modo semelhante
o Romano Pontífice, sucessor de Pedro, e os Bispos, sucessores dos Apóstolos, estão
unidos entre si”. Nesta íntima união entre o Vigário de Cristo e o Colégio dos Bispos,
“O Bispo da Igreja de Roma, no qual perdura o múnus concedido pelo Senhor singularmente
a Pedro, primeiro dos Apóstolos, para ser transmitido aos seus sucessores, é a cabeça
do Colégio dos Bispos, Vigário de Cristo e aqui na terra Pastor da Igreja universal.
Ele, pois, em virtude de seu múnus, tem na Igreja o poder ordinário, supremo, pleno,
imediato e universal que pode sempre exercer livremente” (cf. Cânon 331). O ministério
da Igreja é universal e ele tem a primazia sobre todas as Igrejas particulares (cf.
Cânon 333, § 1); ele está sempre em comunhão com os outros Bispos e até com toda a
Igreja, tendo o direito de determinar o que for necessário para o bem de todos os
fiéis e da Igreja. “O Romano Pontífice, como sucessor de Pedro, é o perpétuo e visível
princípio e fundamento da unidade quer dos Bispos quer da multidão dos fiéis.” (cf.
LUMEN GENTIUM, 23) Nas Sagradas Escrituras, em São Mateus,
capítulo 16, diz Cristo só a Pedro: “tudo o que ligares na terra será ligado
no céu…” Logo, a São Pedro e os seus legítimos sucessores têm a plenitude dos
poderes na Igreja de Deus. O Evangelho de São Mateus, capítulo 18, ensina que Cristo
disse aos seus apóstolos com Pedro: “tudo o que ligardes na terra será ligado
nos céus…” Logo, no Colégio apostólico com Pedro, reside também a plenitude dos poderes
eclesiásticos. Eis o Evangelho. E a Igreja ensina que no Papa, sucessor de São Pedro,
reside a plenitude dos poderes e serviços, e que no corpo episcopal em união com o
Papa – sucessão do Colégio apostólico com Pedro – se acha igualmente a mesma plenitude
de jurisdição. Por isso, nestes dias em que comemoramos o natalício e o início
do ministério de Pastor Universal da Igreja do sucessor de Pedro deve ressoar em nossos
corações o Evangelho de São Mateus, capitulo 17, que afirma que Pedro é a rocha da
Igreja. Jesus conscientizava os Apóstolos perguntando-lhes quem Ele é na opinião dos
outros e deles mesmos. Pedro responde pelos Doze, chamando-o de Messias (cf. Mc. 8,29)
e “filho de Deus” (Mt. 14,33). Sobre esta fé de Pedro, Jesus edifica a sua comunidade
– a Mãe Igreja. O poder do inferno e as suas manifestações exteriores não poderão
jamais sucumbir a Igreja, calar a voz de Pedro e de seu legítimo sucessor, o Papa
Bento XVI. Por isso, Jesus confiou a Pedro o serviço de administrar a comunidade eclesial,
através da simbologia das chaves que abrem as portas do céu e que fecham as portas
do céu, ligando e desligando. Cada domingo, com o Credo, renovamos a nossa profissão
de fé na ressurreição de Cristo, acontecimento surpreendente que constitui a chave
do cristianismo. Na Igreja tudo se compreende a partir deste grande mistério, que
mudou o curso da história e que se torna atual em cada celebração eucarística. Mas
existe um tempo litúrgico no qual esta realidade central da fé cristã, na sua riqueza
doutrinal e inexaurível vitalidade, é proposta aos fiéis de modo mais intenso, para
que cada vez mais a redescubram e mais fielmente a vivam: é o tempo pascal. Dentro
deste contexto nós comemoramos o aniversário do Papa Bento XVI, quando somos chamados
a renovar a nossa adesão a Cristo morto e ressuscitado por nós: a sua Páscoa é também
a nossa Páscoa, porque em Cristo ressuscitado é-nos dada a certeza da nossa ressurreição.
A notícia da sua ressurreição dos mortos não envelhece e Jesus está sempre vivo; e
vivo é o seu Evangelho. "A fé dos cristãos, observa Santo Agostinho, é a ressurreição
de Cristo". Os Atos dos Apóstolos explicam-no claramente: "Deus ofereceu a
todos um motivo de crédito com o fato de O ter ressuscitado dentre os mortos" (17,
31). De fato, não era suficiente a morte para demonstrar que Jesus é verdadeiramente
o Filho de Deus, o Messias esperado. No decorrer da história muitos consagraram a
sua vida a uma causa considerada justa e morreram! E permaneceram mortos. A morte
do Senhor demonstra o amor imenso com que Ele nos amou até ao sacrifício por nós;
mas só a sua ressurreição é "prova certa", é certeza de que quanto Ele afirma é verdade
que vale também para nós, para todos os tempos. Ressuscitando-o, o Pai glorificou-o.
São Paulo assim escreve na Carta aos Romanos: "Se confessares com a tua boca
o Senhor Jesus e creres no teu coração que Deus O ressuscitou dentre os mortos, serás
salvo" (10, 9). O Papa Bento XVI vem sendo o corajoso anunciador da verdade que
incomoda: JESUS CRISTO, morto e ressuscitado! Ele está vivo e a sua mensagem e o Seu
Evangelho nos interpelam a mudar de vida e a buscar uma coerência evangélica, em defesa
da vida e na construção de uma civilização do amor. Embora façamos sempre, em especial
neste mês, rezemos neste tempo pascal nas intenções do Romano Pontífice, o Papa. Quero
manifestar meus votos e da Arquidiocese do Rio de Janeiro de felicidade, saúde e vida
longa ao Papa BENTO XVI, fazendo minhas as suas proféticas palavras, na sua primeira
fala, eleito Pontífice Romano, a 20 de abril de 2005: “Tu és o Cristo! Tu és Pedro!
Parece-me reviver a mesma cena evangélica; eu, Sucessor de Pedro, repito com trepidação
as palavras trepidantes do pescador da Galileia e ouço novamente, com íntima emoção,
a promessa tranquilizante do divino Mestre. Se é enorme o peso da responsabilidade
que recai sobre os meus pobres ombros, é certamente desmedido o poder divino sobre
o qual posso contar: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja"
(Mt 16, 18). Ao escolher-me para Bispo de Roma, o Senhor quis-me para seu Vigário,
quis-me "pedra" sobre a qual todos possam apoiar-se com segurança. Peço-Lhe que auxilie
a pobreza das minhas forças, para que eu seja corajoso e fiel Pastor do seu rebanho,
sempre dócil às inspirações do seu Espírito.” Santo Padre, quem o chamou e o
colocou à frente da barca de Pedro (é) foi a Trindade. Neste tempo de grandes transformações
necessitamos também de grandes profetas, mesmo sabendo que nem sempre são compreendidos
e muitas vezes martirizados, mas não temos para onde ir, pois só Cristo tem “palavras
de Vida Eterna. Nestes dias em que ressoa em seu coração as mesmas Palavras de Pedro
a Jesus: “tu sabes que Te amo”, razão de toda a missão, desejo ao querido Pai e Pastor,
“ad multos et multoques annos”. Amém, Aleluia! + Orani
João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano do Rio de Janeiro,
RJ