Aos Bispos brasileiros da Amazónia, Bento XVI falou da centralidade do mistério eucarístico
na vida da Igreja e das condições da correcta celebração da Liturgia
(15/4/2010) A um mês do Congresso Eucarístico Nacional que terá lugar em Brasília,
foi sobre o mistério e culto eucarístico na vida da Igreja que Bento XVI centrou a
sua alocução a mais um grupo de Bispos brasileiros, na conclusão da respectiva visita
“ad limina Apostolorum”. Trata-se da Região Norte II, que abrange, como disse o Papa,
“dioceses disseminadas na imensidão da região amazónica”. Nove dioceses e cinco prelazias
territoriais.
Partindo das manifestações do Senhor Ressuscitado, proclamadas
na liturgia deste tempo pascal, Bento XVI declarou considerar que “o centro e a fonte
permanente do ministério petrino estão na Eucaristia, coração da vida cristã, fonte
e vértice da missão evangelizadora da Igreja”. Razão por que se preocupa com “tudo
o que possa ofuscar o ponto mais original da fé católica”.
“…hoje Jesus Cristo
continua vivo e realmente presente na hóstia e no cálice consagrados. / Uma menor
atenção que por vezes é prestada ao culto do Santíssimo Sacramento é indício e causa
de escurecimento do sentido cristão do mistério, como sucede quando na Santa Missa
já não aparece como proeminente e operante Jesus, mas uma comunidade atarefada com
muitas coisas em vez de estar recolhida e deixar-se atrair para o Único necessário:
o seu Senhor. Ora, a atitude primária e essencial do fiel cristão que participa na
celebração litúrgica não é fazer, mas escutar, abrir-se, receber…”
Tal não
significa – esclareceu o Papa – adoptar uma atitude de passividade ou desinteresse,
mas sim “cooperar… segundo a autêntica natureza da verdadeira Igreja, simultaneamente
humana e divina… empenhada na acção e dada à contemplação…”
“Se na liturgia
não emergisse a figura de Cristo, que está no seu princípio e está realmente presente
para a tornar válida, já não teríamos a liturgia cristã, toda dependente do Senhor
e toda suspensa da sua presença criadora. / Como estão distantes de tudo isto quantos,
em nome da inculturação, decaem no sincretismo introduzindo ritos tomados de outras
religiões ou particularismos culturais na celebração da Santa Missa! O mistério eucarístico
é um «dom demasiado grande – escrevia o meu venerável predecessor o Papa João Paulo
II – para suportar ambiguidades e reduções», particularmente quando, «despojado do
seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor
de um encontro fraterno ao redor da mesa». Subjacente a várias das motivações aduzidas,
está uma mentalidade incapaz de aceitar a possibilidade duma real intervenção divina
neste mundo em socorro do homem.”
O Papa advertiu contra o risco de reduzir
a celebração litúrgica a “um sinal correspondente a um vago sentimento de comunidade”.
Ora – sublinhou – “o culto não pode nascer da nossa fantasia; seria um grito na escuridão
ou uma simples auto-afirmação”. “A verdadeira liturgia supõe que Deus responda e nos
mostre como podemos adorá-Lo”.
Bento XVI concluiu as suas palavras aos Bispos
da Amazónia referindo o XVI Congresso Eucarístico Nacional que vai ter lugar daqui
a um mês na capital, Brasília.
“Jesus Eucaristia. Que Ele seja verdadeiramente
o coração do Brasil, donde venha a força para todos homens e mulheres brasileiros
se reconhecerem e ajudarem como irmãos, como membros do Cristo total. Quem quiser
viver, tem onde viver, tem de que viver. Aproxime-se, creia, entre a fazer parte do
Corpo de Cristo e será vivificado!”
Na saudação ao Papa, em nome deste grupo
de bispos brasileiros, D. Jesus Maria Cizaurre, Prelado de Cametá, recordou que são
pastores de “Igrejas particulares que, no meio da Amazónia, com todas as limitações
de impostas pela geografia e pelo clima” e testemunhou o “admirável trabalho pastoral”
dos líderes leigos “que, através das Comunidades Eclesiais de base, movimentos e serviços,
com grande espírito missionário se alimentam da Palavra de Deus e a levam a todos
os que a não conhecem suficientemente”. Isso sem esquecer da “presença testemunhal,
no meio do povo mais pobre, das comunidades de vida consagrada”.
“No âmbito
social, estamos empenhados pela preservação do meio ambiente e a defesa da exploração
racional e sustentável da floresta amazónica que, por causa da ambição de cunho capitalista,
a cada ano vem sofrendo constante redução da área de cobertura florestal. / Olhamos
com preocupação a situação de violência urbana alimentada pelo consumo de drogas,
pela falta de educação familiar e pela busca de dinheiro fácil. Também nos preocupa
a violência rural que tem como pano de fundo a questão da propriedade sobre a terra
e é gerada pela ambição daqueles que para consegui-la, mandam matar. Entre os bispos
aqui presentes, três deles já foram ameaçados de morte. / Queremos para o nosso povo,
que é pobre, um modelo de desenvolvimento sustentável que traga progresso para todos
e favoreça a promoção humana. Mas, infelizmente, não é esse o modelo de desenvolvimento
que o Governo e as grandes empresas pensaram para a nossa região. Em diversas ocasiões
temos nos manifestado contra os grandes projectos na Amazónia que não escutam nem
levam em conta a opinião do povo”.