Mediterrâneo seja realmente um Mar de Direitos Humanos para milhares de pessoas que
fogem da violência, da fome e da miséria
(10/4/2010) "As interceptações e descentralizações realizadas pelas autoridades
europeias em muitos casos torna impossível a milhares de pessoas alcançar a costa
norte do Mediterrâneo, ou mesmo deixar o seu país de origem ou de trânsito." É o que
afirma o Secretário do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes,
Dom Agostino Marchetto, no seu discurso, deste sábado em Roma, por ocasião da II Conferência
Europeia do Conselho Nacional Francês-Escola Superior de Advocacia. Mundos vizinhos
no espaço, mas distantes do ponto de vista cultural, entraram em relação no Mediterrâneo,
graças também aos migrantes. Todos os anos milhares de pessoas procuram fugir dos
controlos nas fronteiras terrestres e marítimas. E as notícias sobre esses fluxos
irregulares – afirma o Arcebispo – fomentaram em vários países uma espécie de "pânico"
por uma presumível invasão de imigrantes. Para travar a imigração irregular emergiu
a urgência de se colaborar "na luta" contra este fenómeno , encorajando a promoção
de acordos de reentrada nos países de partida. Dom Marchetto recorda que tais acordos
devem respeitar a Convenção de Genebra de 1951 e a de 1950 sobre os Direitos Humanos. O
Arcebispo reitera a sua posição de condenação para quem não observa o princípio de
não rejeição, "que está na base do tratamento a ser adoptado para aqueles que fogem
de perseguições". O Secretário do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes
e Itinerantes, salientou o direito a um justo processo como outro direito violado
no acto de interceptar e repelir os migrantes nas costas africanas do Mediterrâneo. Os
actos de repelir os imigrantes são contrários ao próprio "Código de fronteiras Schengen",
no qual se declara que todas as pessoas às quais é negada a entrada no território
terão direito de apelo, salienta ainda Dom Marchetto, acrescentando que "o facto
trágico é que nem todos que partem das costas norte-africanas e confiam o seu destino
ao Mediterrâneo chegarão à sonhada Europa". Milhares foram encontrados sem vida ou
resultam desaparecidos. Fazendo votos de que o Mediterrâneo seja realmente um Mar
de Direitos Humanos, o prelado detém –se em seguida sobre o actual cenário propondo
alguns significativos e dramáticos exemplos. Em particular, recorda o relatório
de Human Rights Watch de Setembro de 2009 que denunciava a interceptação,
por parte da guarda costeira italiana, de imigrantes africanos enviando-os á força
para a Líbia, como previsto por um acordo bilateral entre os governos de Trípoli e
Roma, sem avaliar, porém, a possibilidade que entre eles se encontrassem refugiados
ou pessoas vulneráveis. "Na Líbia – acrescenta – existem centros de detenção e
de repatriação onde as condições variam de aceitáveis a desumanas e degradantes."
O acesso a esses centros é difícil, portanto, "é árduo monitorar o respeito pelos
Direitos Humanos". Ninguém pode ser "transferido, expulso ou extraditado para um
Estado onde existe o perigo sério de que a pessoa seja condenada à morte, torturada
ou submetida a um tratamento desumano" – conclui Dom Agostino Marchetto.