2010-04-09 10:41:49

BELO MONTE, UMA POLÊMICA DE 20 ANOS


Brasília, 09 abr (RV) - “O Brasil precisa de energia de qualidade, mas a usina de Belo Monte não trará energia limpa e barata. Que energia limpa é essa que afetará milhares de famílias, trará doenças, apodrecerá um lago e acabará com o meio de subsistência de tantas pessoas?”.

A questão foi levantada ontem pelo presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e bispo prelado do Xingu (PA), Dom Erwin Kräutler, durante um debate transmitido ao vivo pela Rede Vida de Televisão, de Brasília. O encontro foi organizado pela Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), pelo CIMI e pela Comissão para Amazônia, com apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com o objetivo de envolver a população no debate sobre a obra pública.

Além de Dom Erwin, compuseram a mesa o pesquisador de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), Francisco Hernandez; o diretor de Licenciamento do Ibama, Pedro Alberto Bignelli; e o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.

Na avaliação do bispo do Xingu, a energia que será gerada pela usina de Belo Monte não será tão barata como o governo propaga, e as consequências negativas para a região e a população local não justificam a obra. “Falar só das coisas boas é meia verdade, e meia verdade é mentira” - disse.

A respeito dos reais impactos da obra na sociedade, Dom Erwin afirmou que ela afetará pelo menos 30 povos indígenas. “Haverá ainda perda de biodiversidade e deslocamento compulsório da população rural e urbana”.

“Essa obra vai ser a maior agressão já vista na Amazônia” - declarou. “O projeto foi imposto de cima para baixo; foi feito aqui em Brasília e o povo não foi consultado. É uma falácia dizer que o povo não será atingido. O governo só fala das vantagens e nunca das desvantagens que Belo Monte trará. Cerca de 30 mil pessoas serão chutadas de lá e levadas sei lá pra onde”.

Por parte do governo, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, defendeu que o projeto da Usina de Belo Monte tem impacto ambiental 10 vezes menor do que a média brasileira: “Para cada MegaWatt de energia gerado no país, alaga-se mediamente meio km2. No caso de Belo Monte, o alagamento corresponderia a 0,05 km2: uma relação excepcionalmente baixa” - avaliou.

O representante do governo ressaltou ainda que o custo da produção de energia a partir de Belo Monte vai ser praticamente a metade do verificado em outras formas de geração. Ele sublinhou também que a energia produzida a partir de hidrelétricas pode receber complementos de energia eólica e da gerada a partir do bagaço de cana-de-açúcar.

Tolmasquim garantiu que a construtora vencedora do leilão terá que investir R$ 3 bilhões em atividades para a preservação do meio ambiente e para as condições sociais da população local: “O imposto a ser arrecadado pela usina será 19 vezes maior do que todos os recursos gerados pelo Estado”.

Já para o pesquisador da Universidade de São Paulo, Francisco Hernandez, o tema é polêmico porque se trata da 3ª maior usina hidrelétrica do mundo, ficando atrás apenas de Três Gargantas, na China; e Itaipu.

Mas em sua avaliação, Belo Monte é um projeto inviável e deve ser abandonado: “Reconheço a importância da geração de energia, mas sou contra a usina porque sei dos impactos desastrosos que ela trará” – afirmou, citando que “o Rio Xingu seria desviado de 100 a 120 quilômetros do leito original, causando grandes prejuízos para a população local”.

Enquanto isso, as 15 etnias indígenas que vivem às margens do rio, no Parque Nacional do Xingu, continuam mobilizadas para uma manifestação contra a construção da hidrelétrica. Antes do dia 20, estão previstos atos na reserva Capoto-Jarina, em Mato Grosso, São Paulo, Brasília, e na Vila Ressaca, próximo a Altamira.
(CM)







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