Tóquio, 06 abr (RV) - A crise econômica mundial atingiu os trabalhadores brasileiros
de modo mais severo do que outros migrantes no Japão. Isso se deve ao fato de que
os brasileiros vieram a este país para trabalhar nas pequenas e médias indústrias
voltadas à produção de insumos para as montadoras de automóveis e componentes eletrônicos
setores que constituem o carro-chefe da economia do país e os mais atingidos pela
queda nas exportações do Japão.
Por conta da crise, muitos migraram para outras
atividades com menor remuneração e de tipo temporário como: limpeza pública, poda
de árvores, agricultura e fabricação de alimentos.
Pelas informações do governo,
aproximadamente 54.700 pessoas voltaram ao Brasil desde o início da crise. Desses,
19.107 voltaram com ajuda de 300.000 yens disponibilizados pelo governo japonês. Segundo
os dados divulgados no dia 2 de março de 2010, no ano de 2009, houve uma estabilização
do número de pessoas que saíram do Japão, mantendo-se próximo de 7.000 (período de
abril a dezembro).
Por sua vez, o número de brasileiros que entraram no Japão
ficou em torno de 3.000 por mês, no mesmo período.
Crise afeta também a
Missão no Japão As missões cristãs com a presença de imigrantes também sofrem
os efeitos da crise. Algumas delas até foram fechadas, devido à partida das pessoas
que compunham as comunidades; especialmente em regiões de forte concentração industrial
voltada à produção de insumos para veículos ou componentes eletrônicos.
As
comunidades ligadas à Igreja também sofrem; pois vêem seus líderes, catequistas e
evangelizadores partirem, deixando vazios no exercício dos ministérios eclesiais.
A
crise afeta até aqueles que não se deslocam para outra província ou retornam à terra
de origem. Não sendo o Japão um país cristão, as igrejas são raras e sempre distantes.
Para ir à missa que, com raras exceções, é oferecida uma vez por mês, faz-se necessário
viajar meia hora, quarenta minutos ou até uma hora e meia para chegar à Igreja. Muitas
pessoas já não participam pelo simples fato de não possuírem o dinheiro para pagar
o ônibus, o trem ou abastecer o carro.
Como o Japão é um dos países com o custo
de vida elevadíssimo, o valor do transporte para ir até a igreja equivale ao preço
dos ingredientes para fazer a comida de uma pessoa, durante uma semana. Mesmo assim,
há pessoas que até pedem dinheiro emprestado, vêm participar, e voltam com mais força
para enfrentar as dificuldades.
Sempre tivemos a atitude de dar as boas vindas
às pessoas que vêm à missa pela primeira vez nas nossas comunidades, como também invocamos
as bênçãos de Deus sobre quem retorna. No entanto, com tristeza, são cada vez menores
as oportunidades que temos de acolher a quem vem chegando, enquanto as despedidas
continuam, embora percebendo que nos últimos tempos elas são um pouco menos intensas.
Para
nós, missionários, com o vazio deixado por aqueles que partiram, sobra trabalho para
despertar e formar pessoas que se engajem, colocando seus dons a serviço das comunidades
de fé. Neste ponto, nossa gente está sendo valente e comprometida.
Padre
Vendelino Lorscheiter sj O missionário, que há mais tempo está no Japão, é
o padre Vendelino Lorschieter, jesuíta do Rio Grande do Sul, irmão de D. Ivo e Primo
de D. Aluisio Lorschieter. Veio para o Japão quando ainda era seminarista e pode orientar
japoneses que migravam para o Brasil depois da Segunda Guerra.
Mais recentemente,
a partir da Igreja de Santo Inácio, em Tóquio, trabalhava com os nikkeis brasileiros
que fizeram o caminho inverso de seus antepassados. De seus 86 anos de vida, 54 foram
dedicados à Missão no Japão. Muito debilitado pela idade e fragilizado por doenças,
por recomendação médica e sob orientação de seus superiores, rezou sua última missa
para a comunidade brasileira, na capela de São Francisco Xavier, da Igreja de Santo
Inácio, no domingo, dia 14 de março.
Ao mesmo tempo em que agradecemos a Deus
pelo labor do Padre Vendelino e oramos por sua saúde, a comunidade fica triste porque,
no momento, não existe nenhum missionário que continue seu trabalho. Rezamos e pedimos
a Ele que mande operários para a sua messe.