Juiz de Fora, 03 abr (RV) - A “boa nova” da Páscoa não é o anúncio de que um
morto voltou à vida, mas que o Filho de Deus, que se fez homem entre os homens e doou
toda a sua vida por amor, venceu a morte! Só a vida entregue nas mãos de Deus é subtraída
do poder da morte. Quando nos acontece alguma coisa muito boa, nós não nos cabemos
em nós mesmos, ansiosos para contar a todos o grande acontecimento.
Assim aconteceu
com as santas mulheres e assim aconteceu com Pedro. Ele foi um dos que fez a experiência
do Cristo ressuscitado e tinha necessidade de contar para que o mundo se alegrasse
com essa imensa garantia das nossas esperanças.
Pedro diz que é testemunha
de que Jesus de Nazaré passou pela terra fazendo o bem, ungido pelo Espírito Santo.
A ressurreição é vista como um selo confirmador do Pai sobre tudo de bom que Jesus
fez, apesar da aparente derrota na cruz.
A ressurreição fez os seguidores de
Jesus entenderem melhor, não só as Escrituras, mas também as ações e palavras de Cristo
que tinham presenciado durante o seu ministério. Ela funcionou como uma chave de leitura
para o escândalo da cruz e para o conjunto da missão de Jesus.
Assim, a ressurreição
foi percebida como aprovação do Pai ao modo como Jesus viveu e desempenhou sua missão.
Este
fato está fora do tempo. Ele é atual nos dias de hoje. Quem defende a vida e os valores
do projeto de Deus é parceiro dos discípulos de Jesus. Hoje, como na época deles,
através da celebração da PÁSCOA, podemos perceber que buscar as coisas do alto não
é fugir da vida concreta. Ninguém foi mais do alto e mais solidário com os problemas
humanos do que o próprio Jesus.
A fé na ressurreição deve ser mobilizadora
e transformadora. Temos urgência de apregoá-la aos quatro cantos do mundo e de darmos
o melhor de nós para, com o anúncio da “boa nova”, transformar este mundo, tão conturbado,
em um mundo mais ameno, cheio de paz, justiça e amor.
Portanto, não basta crer
na ressurreição, é preciso entender e atingir os objetivos de Cristo, que veio assumir
nossas dores e nossos erros para ensinar-nos a viver melhor.
Em cada Eucaristia,
celebramos e vivemos de novo a Páscoa do Senhor. Acolhemos Jesus com o amor de Maria
Madalena, queremos que o ressuscitado nos devolva sempre a esperança e a coragem,
como fez Pedro. Dizemos, após a Consagração: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e
proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus.”
Vinde, Senhor Jesus,
caminhar conosco na luta pela justiça. Vinde, Senhor Jesus, fortalecer nossa fidelidade
ao projeto do Pai! Vinde, Senhor Jesus, fazer-nos irmãos solidários e sinais de esperança
para o mundo.
Ao desejar uma Santa Páscoa a todos os meus leitores quero relembrar
a última mensagem de Páscoa do Servo de Deus João Paulo II, esperando que todos nós
possamos neste dia santo rezarmos esta oração comovente e santificadora, própria das
alegrias que vivenciamos com a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte:
“1.
Mane nobiscum Domine! Fica connosco, Senhor! (cf. Lc 24,29). Com estas palavras
os discípulos de Emaús convidaram o misterioso Viajante a permanecer com eles,
no entardecer daquele primeiro dia depois do sábado em que o inacreditável tinha
acontecido. Conforme a promessa, Cristo ressuscitara; mas eles ainda não o sabiam.
Porém as palavras do Viajante ao longo do caminho tinham aos poucos aquecido
seus corações. Por isso Lhe fizeram o convite: “Fica connosco”. Depois, sentados
em volta da mesa da ceia, reconheceram-no ao “partir o pão”. E logo a seguir
Ele desapareceu. Diante deles ficou o pão partido, e no seus corações a douçura
daquelas suas palavras. 2. Caríssimos Irmãos e Irmãs, a Palavra e o Pão da
Eucaristia, mistério e dom da Páscoa, permanecem ao longo dos séculos como memória
perene da paixão, morte e ressurreição de Cristo! Também hoje, Páscoa da Ressurreição, nós,
com todos os cristãos do mundo repetimos: Jesus, crucificado e ressuscitado, fica
connosco! Fica connosco, amigo fiel e seguro apoio da humanidade a caminho pelas
estradas da vida! Tu, Palavra viva do Pai, infunde certeza e esperança naqueles
que buscam o verdadeiro sentido da sua existência. Tu, Pão de vida eterna, nutre
o homem faminto de verdade, liberdade, justiça e paz. 3. Fica connosco, Palavra
viva do Pai, e ensina-nos palavras e gestos de paz: paz para a terra consagrada
pelo teu sangue e empapada com o sangue de tantas vítimas inocentes; paz para
os Países do Médio Oriente e da África, onde continua a ser derramado muito sangue; paz
para toda a humanidade, sobre a qual sempre grava o perigo de guerras fratricidas. Fica
connosco, Pão de vida eterna, partido e distribuído entre os comensais: dá-nos
também a força de uma solidariedade generosa para com as multidões que, ainda hoje, sofrem
e morrem de miséria e fome, dizimadas por epidemias letais ou prostradas por
desastrosas catátrofes naturais. Em virtude da tua Ressurreição possam elas
também participar de uma vida nova. 4. Também nós, homens e mulheres do terceiro
milénio, necessitamos de Ti, Senhor ressuscitado! Fica connosco agora e até
ao fim dos tempos. Faz que o progresso material dos povos jamais ofusque os
valores espirituais que são a alma da sua civilização. Ampara-nos, Te suplicamos,
no nosso caminho. Nós cremos em Ti, em Ti esperamos, pois só Tu tens palavras
de vida eterna (cf. Jo 6,68)” Mane nobiscum, Domine! Aleluia!”.
Feliz Páscoa
para todos, porque Jesus Cristo ressuscitou verdadeiramente, Aleluia!
Dom
Eurico dos Santos Veloso Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)