Cidade do Vaticano, 02 abr (RV) - O relato da Paixão, segundo João, destaca
a liberdade de Jesus, mostrando que é ele quem se entrega por amor a nós.
O
autor do IV Evangelho procura apresentar Jesus como Messias e Filho de Deus. Para
entrar no sinal definitivo, o da morte na cruz, João inicia e conclui seu relato usando
como cenário um jardim.
Começa com a agonia no jardim das oliveiras e termina
com o sepultamento no jardim próximo ao Gólgota. João quer com isso recordar o Jardim
do Édem onde o Homem disse não a Deus e onde imediatamente foi prometida a redenção,
quando Deus falou com a serpente: “Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre tua
linhagem e a linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar.”
Ali estava a árvore do bem e do mal, da autonomia moral, e no Calvário está a árvore
da Vida, da subordinação livre e amorosa ao Pai.
O ser humano ou acata a soberania
de Deus e lhe é submisso, ou se rebela e transforma o mundo ao seu bel prazer, desordenando
o sentido da natureza e proporcionando o caos, mais ético e moral do que outra coisa.
Quando
Pilatos pergunta ao Senhor sobre sua realeza, Jesus a confirma, acrescentando que
veio para dar testemunho da verdade, isto é, ser fiel ao projeto do Pai em relação
ao mundo. Ao acrescentar “o meu reino não é deste mundo”, ele desqualifica o poder
exercido pela opressão, pela sujeição dos mais fracos, a sociedade dividida entre
vencidos e vencedores, entre ricos e miseráveis, e enaltece o amor e o perdão, a inclusão
dos marginalizados. Jesus rejeita a cultura e a sociedade onde reina a morte e proclama
o Reino da justiça, do amor, da verdade, da paz, enfim, o Reino da Vida.
Jesus
aceita a cruz e a transforma em dom de amor, em revelação do Amor de Deus por todos
nós. De fato, o sacrifício redentor de Cristo – cuja Paixão celebramos nesta Sexta-feira
Santa – é a expressão máxima desse Amor. (CAS)