Santa Sé nega «manto de silêncio» sobre caso de pedofilia nos EUA, e afirma que foram
tomadas as medidas adequadas
(25/3/2010) O director da Sala de Imprensa da Santa Sé , Pe. Federico Lombardi, veio
a público defender Bento XVI das acusações de ter escondido um caso de pedofilia nos
EUA. A imprensa norte-americana acusava o antigo Cardeal Joseph Ratzinger de não
afastar o Pe. Lawrence Murphy, que terá abusado de 200 alunos surdos. Respondendo
ao "New York Times", o Pe. Lombardi considera que não existe qualquer relação entre
a aplicação da Instrução Crimen sollicitationis, da Congregação
para a Doutrina da Fé, e a não denúncia de abusos de crianças às autoridades civis. “Contrariamente
a algumas declarações que circularam na imprensa, nem o Crimen nem o Código
de Direito Canónico proíbem a participação de abuso de crianças às autoridades policiais”,
assegura o porta-voz do Vaticano. A Santa Sé admite que o “trágico caso” do Pe.
Murphy, da arquidiocese de Milwaukee (EUA), “envolveu vítimas particularmente vulneráveis
que sofreram terrivelmente com o que ele fez”. “Ao abusar sexualmente de crianças
com deficiências auditivas, o Pe. Murphy violou a lei e, mais importante, a confiança
sagrada que as vítimas tinham nele”, pode ler-se. Após reconhecer a existência
dos casos, o director da sala de imprensa da Santa Sé precisa que “durante os meados
da década de 1970, algumas vítimas do Pe. Murphy denunciaram os seus abusos às autoridades
civis, que o investigaram nessa altura; contudo, de acordo com as notícias da imprensa,
a investigação foi abandonada”. “A Congregação para a Doutrina da Fé só foi informada
do caso cerca de vinte anos mais tarde”, assegura o comunicado. Segundo revela
a Santa Sé, só em finais dos anos de 1990, depois de terem passado mais de duas décadas
da denúncia dos abusos aos responsáveis diocesanos e à polícia, a Congregação para
a Doutrina da Fé se deparou pela primeira vez com a questão de como tratar canonicamente
o “caso Murphy”. “A Congregação foi informada do assunto porque envolvia sedução
no confessionário, o que constitui uma violação do Sacramento da Penitência”, revela
a nota publicada esta Quinta-feira, sublinhando que a questão canónica apresentada
à Congregação “não estava relacionada com eventuais procedimentos civis e criminais
contra o Pe. Murphy”. Nesses casos, o Código de Direito Canónico não prevê sanções
automáticas, mas “recomenda que seja feito um julgamento, não excluindo mesmo a maior
pena eclesiástica, que é a demissão do estado clerical” (Cânone 1395, n.º 2). O
director da sala de imprensa da Santa Sé explica que a decisão da Congregação para
a Doutrina da Fé a este respeito levou em consideração o facto de “o Pe. Murphy ser
idoso, estar em condições de saúde precárias, viver em isolamento e não terem surgido
durante mais de 20 anos alegações de abuso”. Nesse sentido, a Congregação, na altura
presidida pelo Cardeal Joseph Ratzinger, sugeriu que o Arcebispo de Milwaukee “resolvesse
a situação mediante, por exemplo, a restrição do ministério público do Pe. Murphy
e a exigência de que ele aceitasse a total responsabilidade pela gravidade dos seus
actos”. O Pe. Murphy morreu "aproximadamente quatro meses depois", sem registo
de quaisquer incidentes, conclui a nota do Pe. Lombardi.