Tóquio, 24 mar (RV) - “Nasci no Japão por acaso” – dizia Akira Kurosawa. Como
muitos grandes artistas, este insuperável mestre do cinema não foi profeta em sua
pátria. Descendente de um clã de samurais, filho de um férreo administrador militar,
ele nasceu em Tóquio no dia 23 de março de 1910, e “saiu de cena” em 1998, aos 88
anos, vítima de um derrame cerebral.
Kurosawa morreu sem saber se boa parte
de seus compatriotas o admiravam. 55 anos de carreira, 32 filmes, inúmeros prêmios
e a projeção que deu ao cinema japonês no exterior não foram suficientes a convencer
seus detratores, que o definiam como um "cineasta de exportação" demasiadamente "ocidentalizado",
que teria cometido o crime de renegar as tradições e os costumes japoneses.
Certamente,
a obra de Akira Kurosawa, em seu conjunto, representa um encontro entre a cultura
japonesa e diversas outras civilizações, inclusive a ocidental. Sem dúvida, foi o
criador do Japão que melhor se comunicou com o público fora de seu país – e ao fazê-lo,
incorporou a uma linguagem internacional do cinema elementos que, até então, eram
operados apenas por cineastas e espectadores japoneses.
O centenário do maior
representante do “jidai-geki” (filmes de samurai), está ganhando homenagens no Rio
de Janeiro e em São Paulo. Na capital paulista, a Sala Cinemateca inicia uma programação
especial que rememora o Kurosawa do começo da carreira, nos anos 1940, e a etapa final.
No Rio, o Instituto Moreira Salles promove a revisão da obra do diretor.
De
sua filmografia, citamos "Céu e Inferno", "Os Sete Samurais", "Sanjuro", "Juventude
sem Arrependimento", "O Anjo Embriagado", "Duelo Solitário" - conhecido como "A Luta
Solitária" -, "Cão Danado", "Rashomon" “Kagemusha”, “O Trono de Sangue”, “Senhores
da Guerra”. (CM)