Campo Grande, 23 mar (RV) - No dia 15 de março, a direção nacional do Conselho
Indigenista Missionário (Cimi) e integrantes das várias regiões onde a entidade atua,
iniciou uma reunião em Campo Grande (MS) para reafirmar seu compromisso e solidariedade
com os povos da região.
Juntamente com o Presidente do organismo e Bispo da
Prelazia do Xingu, Dom Erwin Krautler, o Cimi pretende dar apoio incondicional à luta
dos indígenas pela garantia de seus direitos e especialmente às suas terras. Nesta
semana, o Secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom
Dimas Lara Barbosa participou desse contato de solidariedade com s comunidades do
estado verificando de perto a situação a que estão submetidos estes povos.
As
graves violações de direitos humanos, os confinamentos em pequenas reservas, os altos
índices de violência e mortalidade infantil, os acampamentos de famílias indígenas
à beira da estrada, numa realidade de miséria e desassistência foram os motivos que
levaram o grupo a decidir pela visita. No início do mês, membros da Secretaria Especial
de Direitos Humanos da Presidência da República também visitaram estes povos e constataram
uma situação miserável. Após análises da conjuntura atual dos povos indígenas no
estado, os integrantes do Cimi reafirmam, em carta pública, que “juntamente com os
Bispos da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e do Caribe, a Igreja
está convocada a ser advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis
desigualdades sociais e econômicas que clamam ao céu”.
Ainda no documento,
os membros do Cimi apóiam a resistência histórica dos indígenas unindo-se às vozes
silenciadas que gritam basta à impunidade, basta à discriminação e basta à falta de
terra e direitos desses povos.
Segue abaixo nota na íntegra:
Carta de
Campo Grande: Solidariedade aos povos indígenas do Mato Grosso do Sul Denunciamos,
mais uma vez, as graves violações de direitos humanos que continuam sendo praticadas
contra o povo Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul: confinamentos em pequenas reservas,
altos índices de violência, mortalidade infantil, famílias acampadas à beira de estradas,
realidade de miséria e desassistência.
Diante desta realidade, o Conselho Indigenista
Missionário (Cimi) reuniu-se em Campo Grande para reafirmar seu compromisso e solidariedade
aos povos indígenas de Mato Grosso do Sul, bem como posicionar-se de forma irrestrita
em apoio às lutas pela garantia de seus direitos, especialmente às suas terras, como
espaços de vida e não de mercadoria.
Enquanto políticos declaram que este estado
não será “terra de índios”, nós nos unimos aos que afirmam: “Mato Grosso do Sul também
é terra dos Kaiowá Guarani, dos Terena, dos Kadiweu, dos Ofaié, dos Kinikinawa, dos
Guató”. Só haverá justiça, democracia e fraternidade quando os direitos de todos
forem assegurados, quando a pluralidade de povos for respeitada como uma riqueza e
a terra voltar a ser um espaço de vida e não apenas mercadoria ou objeto de produção
para o enriquecimento de alguns.
Como já denunciaram os bispos de Mato Grosso
do Sul, “trata-se de uma situação insustentável e iníqua, fruto de uma sociedade de
consumo que privilegia o lucro, e cuja solução, adiada indefinidamente, nada faz senão
aumentar a angústia e a revolta de todos”. O próprio Conselho de Defesa da Pessoa
Humana, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH),
em visita às comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul no início do mês, reconheceu
que os indígenas do estado vivem em situação degradante e miserável. Em vários locais
falta água e alimento. Os povos enfrentam problemas com a falta de demarcação de suas
terras e sofrem constantemente discriminação e preconceitos. Além disso, eles estão
impedidos de realizar atividades básicas à sua subsistência, como a pesca e a caça.
A
certeza da impunidade e a omissão dos governos federal e estadual são estímulos para
que tais crueldades continuem e se ampliem. Por isso, com os povos indígenas deste
estado exigimos apuração e punição rigorosa dessas violências, bem como a imediata
demarcação de todas as terras indígenas. Posicionamo-nos contra medidas paliativas
pretendidas por fazendeiros e algumas autoridades, como a compra de terras ou a transferência
de comunidades para regiões distantes, flagrantes violações aos direitos constitucionais
dos povos indígenas. Juntamo-nos às vozes dos bispos da 5ª Conferência Geral do
Episcopado Latino-Americano e do Caribe (2007), realizada em Aparecida (SP), que “a
Igreja está convocada a ser advogada da justiça e defensora dos pobres diante das
intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu” (DAp. 395). Pode-se
aplicar aos povos do MS o que os bispos afirmaram em Aparecida: “comunidades indígenas
se encontram fora de suas terras porque estas foram invadidas e degradadas. Se não
têm terras suficientes para desenvolver suas culturas, sofrem graves ataques à sua
identidade e sobrevivência [...]” (DAp. 90).
Reafirmamos nosso compromisso
com os povos indígenas deste estado, apoiamos sua resistência histórica, paciência
sábia e profunda espiritualidade, que lhes têm permitido ultrapassar séculos de guerra,
de extermínio e opressão. Com eles aprendemos a construir um outro mundo possível,
necessário e melhor para todos, caminhando firmes em direção ao Reino definitivo.
O
Cimi, unido à voz silenciada dos povos indígenas, diz: basta de violência, basta de
negação a terra, basta de impunidade, basta de intolerância! Terra, Vida, Justiça
e Paz para os povos indígenas no Mato Grosso do Sul!
Campo Grande (MS), março
de 2010. Cimi - Conselho Indigenista Missionário Organismo vinculado à CNBB
– Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CM-CNBB)