Cidade do Vaticano, 23 mar (RV) - Causa-nos uma sensação de desconforto cada
vez que ouvimos falar em penitência, ou mudança de vida. Aprendemos tão bem a lição
(legítima), da autoestima, que parece tirar do esquema qualquer alusão a fraquezas
nossas, ou pior ainda, a pecados. Trata-se de uma verdadeira crise de compreensão
da penitência. Soa estranho aos ouvidos quando Jesus insiste na conversão do coração.
Mas toda a crise traz em si a esperança de uma superação, para inaugurar tempos novos.
Precisamos ter clareza sobre o valor das penitências: jejuns, subir escadas de joelhos,
flagelar-se, não comer carne, ou até carregar pedra na cabeça... Tudo isso pode ser
feito, quando entregamos essa penitência a Cristo, para estarmos unidos a Ele na sua
dor. “O sangue de Jesus nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1, 7). Não é o nosso esforço
que nos justifica. “Eis aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29). A penitência,
entendida como virtude, é um esforço permanente do cristão para se manter na santidade,
e na perfeição. Também para superar as fragilidades da vida. É um ideal jamais completado
nesta vida. Ninguém deve ser cristão para ser penitente. Mas ao contrário, se deve
ser penitente para ser bom cristão.
Essa verdadeira ascese deve nos acompanhar
na vida. Mas a Santa Igreja nos convida, de maneira mais acentuada, no tempo quaresmal
(como também em todas as sextas-feiras do ano). O que se pede é tão pouco, nada impossível
de cumprir. A nossa Mãe Igreja nos pede um jejum mitigado, e a abstinência de alguma
coisa que muito nos agrada. Isso na sexta-feira santa, como também nas demais sextas-feiras
do ano (exceção é o tempo pascal). Essas penitências devem levar à coroa de todo arrependimento:
a prática da caridade para com o próximo. Vejam como o Papa Bento XVI sugeriu penitências
muito mais pesadas ao povo irlandês, para alcançar o perdão pelos pecados sexuais
praticados pelo clero. Tenho certeza de que o povo católico da Irlanda vai aceitar
tal purificação. Será um novo começo para uma comunidade mais fiel e mais santa. A
Irlanda vai reencontrar o seu caminho de justificação, em Cristo.
Dom
Aloísio Roque Oppermann scj – Arcebispo de Uberaba, MG. Endereço eletrônico:
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