2010-03-20 18:47:59

RESUMO DA CARTA DE BENTO XVI AOS CATÓLICOS IRLANDESES


Cidade do Vaticano, 20 mar (RV) - Foi publicada, neste sábado, a Carta do Santo Padre aos católicos irlandeses. Nela, Bento XVI expressa todo seu pesar pelos abusos sexuais cometidos contra jovens por parte de expoentes da Igreja e pelo modo em que foram tratados pelos bispos irlandeses e superiores religiosos. O Santo Padre fala de sua proximidade na oração a toda comunidade católica irlandesa neste tempo cheio de amargura e propõem um caminho de cura, renovação e reparação.

A carta é dirigida a vários segmentos da comunidade católica irlandesa. Em primeiro lugar, o Papa fala às vítimas dos abusos, com as quais se solidariza. Em seguida, se volta também aos sacerdotes e religiosos que cometeram abusos, pedindo que se submetam ao juízo de Deus e dos tribunais constituídos, arrependendo-se para receber a misericórdia divina. Bento XVI escreve ainda em sua carta aos pais das novas gerações e aos bispos irlandeses.

O Papa em seu texto procura descrever alguns fatores que deram origem ao problema, tais como: uma insuficiente formação moral e espiritual nos seminários e nos noviciados, uma tendência na sociedade a favorecer o clero e outras figuras de autoridades, uma preocupação fora de lugar pelo bom nome da Igreja e para evitar os escândalos.

"Somente examinando com atenção os vários elementos que originaram a crise é possível identificar com precisão a causa e encontrar remédios eficazes" – afirma o pontífice.

Como caminho de cura e reconciliação o Santo Padre sugere a penitência, a busca do sacramento da reconciliação, a adoração eucarística, a missão e o modelo de S. João Maria Vianney para os sacerdotes, neste ano mundialmente dedicado a esta figura. Por fim, o Papa cogita a possibilidade de visitas apostólicas em cooperação com a Cúria Romana para acompanhar a situação em algumas dioceses, congregações e seminários em vista de sanar as feridas provocadas e evitar que abusos se repitam. (RD)
A seguir uma síntese da Carta Pastoral de Bento XVI aos fiéis da Irlanda sobre os abusos sexuais contra menores: 
Síntese da Carta Pastoral do Santo aos católicos da Irlanda
 O Papa escreveu uma Carta Pastoral a todos os católicos da Irlanda para expressar seu pesar pelos abusos sexuais cometidos contra jovens por parte de expoentes da Igreja e pelo modo em que foram tratados pelos bispos irlandeses e superiores religiosos. Ele pede que a carta, na sua íntegra, seja lida com atenção. O Santo Padre fala de sua proximidade na oração a toda comunidade católica irlandesa neste tempo cheio de amargura e propõem um caminho de cura, renovação e reparação.

Pede a eles que se recordem da rocha da qual foram talhados (cfr. Is 51, 1), e especialmente da bela contribuição que os missionários irlandeses trouxeram para a civilização da Europa e para a difusão do cristianismo em todo o continente. Nos últimos anos, se verificaram muitos desafios para a fé na Irlanda, com a chegada de uma rápida mudança social e com o declínio do uso de tradicionais práticas de devoção e sacramentais. Este é o contexto dentro do qual se deve compreender a maneira com a qual a Igreja enfrentou o problema dos abusos sexuais contra os jovens.

Muitos são os fatores que originaram o problema: uma insuficiente formação moral e espiritual nos seminários e nos noviciados, uma tendência na sociedade a favorecer o clero e outras figuras de autoridades, uma preocupação fora de lugar pelo bom nome da Igreja e para evitar os escândalos levaram à falta da aplicação, quando necessária, das penalidades canônicas que estavam em vigor. Somente examinando com atenção os vários elementos que originaram a crise é possível identificar com precisão a causa e encontrar remédios eficazes.

Durante a visita ad limina dos Bispos irlandeses em 2006, o papa os exortou a "estabelecerem a verdade daquilo que aconteceu no passado, tomar todas as medidas necessárias para evitar que se repita no futuro, garantir que os princípios de justiça sejam plenamente respeitados e, sobretudo, curar as vítimas e todos aqueles que foram atingidos por estes crimes abomináveis". Desde aquele momento ele quis encontrar as vítimas em mais de uma ocasião, escutando suas histórias, rezando com eles e por eles, e se propondo a fazê-lo novamente no futuro. Em fevereiro de 2010, convocou em Roma os bispos irlandeses para examinar com eles as medidas que estavam tomando para remediar o problema, com particular atenção aos procedimentos e aos protocolos agora em vigor para assegurar a tutela dos jovens nos ambientes eclesiais e para responder com prontidão as denúncias de abusos. Nesta Carta Pastoral ele fala diretamente a vários grupos internos à comunidade católica irlandesa à luz da situação que se criou.

Dirigindo-se em primeiro lugar às vítimas de abuso, ele reconhece a tremenda traição das quais foram vítimas e diz a eles o quanto está sentido por aquilo que eles suportaram. Reconhece como em vários casos ninguém estava disposto a ouvi-los quando tinham coragem de falar daquilo que tinha acontecido. Dá-se conta de como aqueles que moravam em colégios deveriam ter se sentido, diante da impossibilidade deter como fugir de seus sofrimentos. Mesmo reconhecendo que deve ser difícil para muitos deles perdoar ou reconciliar-se com a Igreja, os exorta a não perder a esperança. Jesus Cristo, ele mesmo vítima de sofrimentos injustos, compreende os abismos de seus sofrimentos e a permanência de seus efeitos em suas vidas e sobre seus relacionamentos. Apesar disso, exatamente as suas feridas, transformadas por seus sofrimentos redentores, são os meios através do qual o poder do mal é vencido e nós renascemos para a vida e a esperança. O Papa convida as vítimas a procurar na Igreja a oportunidade de encontrar Jesus Cristo e de encontrar cura e reconciliação redescobrindo o amor infinito que Cristo tem por cada um.

Em suas palavras aos sacerdotes e aos religiosos que cometeram abusos contra os jovens, o Papa lhes recorda que deverão responder diante de Deus e dos tribunais devidamente constituídos pelas ações pecaminosas e criminais que realizaram. Eles traíram uma confiança sagrada e jogaram vergonha e desonra sobre seus confrades. Um grande dano foi causado, não somente às vítimas, mas também à percepção pública do sacerdote e da vida religiosa na Irlanda. Enquanto exige destes que submetam às exigências da justiça, lhes recorda que não devem desesperar da misericórdia divina, que Deus ofereceu livremente também aos maiores pecadores, quando se arrependem de suas ações, fazem penitência e com humildade imploram o perdão.

O Papa encoraja os pais à perseverança na difícil tarefa de educação dos filhos no reconhecimento de que são amados e desejados e no desenvolvimento de uma justa auto-estima. Os pais têm a responsabilidade primária de educar as novas gerações aos princípios morais que são essenciais para uma sociedade civil. O Papa convida os adolescentes e jovens a encontrar na Igreja uma oportunidade para um encontro que dá vida com Cristo e a não se deixar deter pela faltas cometidas por alguns sacerdotes e religiosos. Ele lança um olhar especialmente sobre a necessária contribuição dos jovens para a renovação da Igreja. Exorta também os sacerdotes e os religiosos a não se desencorajarem, mas, ao contrário, renovar a própria dedicação aos respectivos apostolados, trabalhando em harmonia com seus superiores de modo a oferecer vida nova e dinamicidade à Igreja na Irlanda com o próprio testemunho da obra redentora do Senhor.

Dirigindo-se aos bispos irlandeses, o Papa destaca os graves erros de discernimento e o fracasso da liderança de muitos destes, porque não aplicaram de modo correto os procedimentos canônicos para responder às denúncias de abuso. Mesmo que frequentemente fosse difícil saber como enfrentar as situações mais complexas, fica sempre o fato de que foram cometidos erros sérios, que levaram à perda da credibilidade. O Papa os encoraja a prosseguir no esforço de remediar com determinação os erros do passado e prevenir toda possibilidade de que se repitam, aplicando em modo pleno o Direito Canônico e cooperando com as autoridades civis nas áreas de competência destas. Além disso, convida os bispos a um empenho a se tornarem santos, a se apresentarem como exemplos, a encorajarem os sacerdotes e fiéis a fazer cada um a própria parte na vida e na missão da Igreja.

Enfim, o Papa propõe alguns passos específicos para estimular da renovação da Igreja na Irlanda. Pede a todos que ofereçam as penitências das sextas-feiras, por um ano, em reparação dos pecados de abuso que se ocorreram. Recomenda a busca freqüente do sacramento da reconciliação e prática da adoração eucarística. Anuncia a intenção de convocar uma visita apostólica para algumas dioceses, congregações religiosas e seminários, envolvendo a Cúria Romana, e propõe uma missão a nível nacional para os bispos, sacerdotes e religiosos na Irlanda. Neste ano dedicado mundialmente aos sacerdotes, apresenta a pessoa de São João Maria Vianney como modelo e intercessor para a revitalização do ministério sacerdotal na Irlanda. Depois de agradecer a todos que se empenharam com entusiasmo para enfrentar decisivamente o problema, conclui propondo uma oração pela Igreja na Irlanda, para ser usada por todos os fiéis para invocar a graça da cura e da renovação neste tempo de dificuldade. (RD)







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