Cidade do Vaticano, 17 mar (RV) – Nesta quarta-feira, o Papa, fiéis e peregrinos
se reuniram na Praça S. Pedro para a tradicional Audiência Geral.
Pela terceira
catequese consecutiva, Bento XVI falou sobre São Boaventura. Hoje, em especial, sobre
alguns aspectos da doutrina deste Santo, que, com Santo Tomás de Aquino, representam
o ápice do pensamento cristão na Idade Média, com um diálogo fecundo entre fé e razão.
Para
Santo Tomás, na Teologia prevalece o aspecto intelectual, pois, ao conhecimento de
Deus, segue o trabalho segundo sua vontade, fazer o bem. São Boaventura, sem opor-se
a isso, ao conhecimento e ao trabalho acrescenta a contemplação, que é o afeto provocado
ao encontrar quem amamos.
Sem renunciar na Teologia a compreender com a mente,
São Boaventura não se detém na simples satisfação do saber, pois se busca sempre conhecer
melhor o amado e amá-lo cada vez mais. Assim, a primazia do amor é determinante, porque
o destino último do homem é amar a Deus.
Deste modo, o Santo tenta convencer
seus coetâneos não somente com a palavra, mas com toda a sua vida, e prospecta um
"itinerário da mente até Deus", que supõe o caminho da razão, que porém o transcende
no amor. Trata-se de um itinerário que não se pode plasmar em um ordenamento jurídico,
porque é sempre um dom de Deus que ajuda o fiel a aproximar-se cada vez mais Dele.
E nesta aproximação, haverá um momento em que a mera razão não será mais suficiente,
porém onde o amor segue vivo, doando claridade diante do mistério inexplicável de
Deus.
No final da catequese, o Papa fez um resumo em várias línguas, entre
as quais em português, seguida de sua saudação: "Queridos irmãos e irmãs. São Boaventura,
ao lado de Santo Tomás de Aquino, seu contemporâneo, foi responsável por um grande
desenvolvimento no diálogo entre a fé e a razão que caracteriza a Idade Média. Partindo
de pressupostos comuns, ressaltaram aspectos diversos na sua reflexão teológica; Santo
Tomás, por exemplo, insiste na primazia da verdade, enquanto que para Boaventura a
categoria mais importante é o Bem. No fundo, trata-se de acentos diversos de uma visão
fundamentalmente comum que mostram a fecundidade da fé na diversidade das suas expressões.
Na teologia de Boaventura o primado do Amor se explica, por um lado, pelo próprio
carisma franciscano e, por outro, pela influência das obras do chamado Pseudo-Dionísio
Areopagita, um autor siríaco que afirmava que diante de Deus, quando a razão chega
ao seu limite, o amor consegue penetrar mais profundamente no Mistério divino. Por
fim, Boaventura afirma que toda criação fala de Deus, do Deus bom, belo; do seu amor,
por isso, toda a nossa vida é uma peregrinação rumo a Deus. Saúdo os peregrinos
de língua portuguesa, desejando que esta visita aos lugares santificados pela pregação
e martírio dos Apóstolos Pedro e Paulo vos ajude a reafirmar sempre mais a fé que
opera pela caridade. Que Deus abençoe a vós e às vossas famílias". Ouça aqui:
Falando em
inglês, o Papa saudou os peregrinos e fiéis irlandeses, por ocasião da Festa de São
Patrício, Padroeiro da Irlanda. Bento XVI anunciou que no Dia de José divulgará uma
Carta Pastoral à Igreja irlandesa, onde trata da "dolorosa situação" de abusos contra
menores. (BF)