2010-03-16 10:00:34

O MINISTÉRIO DO ACOLHIMENTO


Rio de Janeiro, 16 mar (RV) - Um dos grandes empenhos do meu antecessor no serviço desta nossa querida Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, o Cardeal D. Eusébio Oscar Scheid, foi com o Ministério do Acolhimento, que ele deu início oficial e foi um tema ao qual ele se dedicou com carinho que, além do empenho pastoral, também escreveu um livro sobre o assunto.
Quero retomar esse tema importante e necessário. Gostaria que ele continuasse com o mesmo ardor com que se iniciou e fosse ainda mais incrementado. O acolhimento não se resume apenas no fato da entrega de folhetos na porta de nossas igrejas no momento das missas dominicais. Ele vai muito mais além como, aliás, assim se referiu D. Eusébio. É muito importante que busquemos ser uma Igreja acolhedora sempre, tanto nas secretarias, sacristias, pastorais, residência paroquial, catequese – enfim, em todas as atividades.
Uma delas, porém, creio que seria muito importante que conquistássemos: permanecendo abertas nossas igrejas, termos sempre pessoas que acolham os que ali chegam, muitas vezes machucados pela vida e circunstâncias da grande cidade, e que querem uma palavra de conforto e um caminho a ser trilhado.
Acolher o pobre, o excluído e o necessitado, algumas vezes pessoas que se jogaram no álcool e na droga, deveria também ser uma missão diaconal de nossas comunidades. Muitas paróquias e instituições entregam alimentos, roupas e cuidam dos irmãos que residem nas ruas da cidade, mas acredito que devemos avançar – e muito – na direção da superação da miséria e da fome.
Faltam-nos pessoas que exerçam o ministério do acolhimento por mais tempo e façam disso o seu trabalho de evangelização. Quantas pessoas poderiam ser evangelizadas só pelo acolhimento em nossas comunidades? Cada igreja tem situações especiais: algumas são frequentadas por muitas pessoas durante o dia e em outros locais a frequência diurna é menor, mas aumenta durante a tarde. Enfim, são situações às quais temos que estar atentos. Temos algumas igrejas que estão abertas 24 horas por dia. É um belo exemplo que, mesmo com as dificuldades da violência, existem locais de oração, adoração e acolhimento onde mesmo os notívagos podem passar para rezar e adorar a Cristo presente na Eucaristia, além de encontrar pessoas abertas a acolher.
No dia 27 de fevereiro, durante a peregrinação do clero da arquidiocese, dentro do Ano Sacerdotal, pessoalmente, com muita alegria ao querido clero da nossa Arquidiocese, entreguei uma carta dedicada a todos os presbíteros que trabalham nesta bela Igreja Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro. Nela, entre outros assuntos, recordei aos nossos presbíteros esse importante ministério e a necessidade de criatividade para melhor empreender a evangelização e concretizar a missão.
Infelizmente temos observado que, não raras vezes, por questões várias, seja pela escassez de sacerdotes, seja pelo tempo tomado com tantas solicitações burocráticas, os padres não conseguem atender a todas as necessidades pelas quais são procurados. É muito o trabalho e poucos os operários. Por isso é muito importante os irmãos e irmãs que se dispõem a servir como evangelizadores nesse belo ministério do acolhimento ou, como costumam chamar em outros lugares, a pastoral da acolhida.
Urge levar em consideração que a própria paróquia – e às vezes também a diocese –, ainda tendo autonomia própria, não pode ser uma ilha, especialmente em nosso tempo, no qual abundam os meios de transporte e de comunicação. As paróquias são órgãos vivos do único Corpo de Cristo, da única Igreja, na qual se acolhe e se serve tanto os membros das comunidades locais como todos os que, por qualquer razão, afluem a ela em um momento que pode significar a ação da graça de Deus em uma consciência e em uma vida.
A paróquia, com suas celebrações litúrgicas e em seus serviços, teria que levar em consideração a mobilidade das pessoas, a confluência de muitas delas a alguns lugares e a nova assimilação geral de tendências, costumes, modas e horários. Para cada situação e local, os horários e atendimentos serão diferenciados devido à inculturação na região.
O pároco, ao estabelecer na paróquia os horários das Missas e das confissões, deve considerar quais são os momentos mais adequados para a maior parte dos fiéis, permitindo também aos que têm dificuldades especiais de horário que possam se aproximar facilmente dos sacramentos. É preciso levar em conta as necessidades das pessoas com os horários de trabalho e estudo. A maleabilidade e a abertura para verificar o melhor momento fazem com que muitos irmãos tenham oportunidade de participar de nossas celebrações. Isso também é acolhida.
O presbítero, padre e bispo, enquanto partícipe da ação diretiva de Cristo Cabeça e pastor sobre seu Corpo, está especificamente capacitado para ser, no campo pastoral, o “homem da comunhão”: “Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande desafio que nos espera no milênio que começa se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo” (NMI, n. 43).
Na nova estrutura paroquial, que procura ser descentralizada e também atender pessoalmente a cada pessoa que vem à paróquia, não cabe que o pároco faça tudo sozinho. O pároco não tem condições de realizar pessoalmente todas as atividades na paróquia, mas deve procurar que se realizem de maneira oportuna, conforme a reta doutrina e a disciplina eclesial, no seio da paróquia, segundo as circunstâncias e sempre sob a própria responsabilidade.
O sacerdote deve ajudar os leigos a descobrirem e realizarem sua vocação específica em comunhão com os demais fiéis. O realizador desta comunhão e desta pertença de comunhão do presbítero ao povo de Deus é o Espírito Santo. Dado que Ele impregna e motiva todas as áreas da existência, então também penetra e configura a vocação específica de cada um. Assim se forma e desenvolve a espiritualidade própria de presbíteros, de religiosos e religiosas, de pais de família, de empresários, de catequistas e outros. Cada uma das vocações tem uma forma concreta e distintiva de viver a espiritualidade, que confere profundidade e entusiasmo ao exercício de suas tarefas.
O apostolado dos leigos se desenvolve em boa parte das associações e movimentos que atuam em plena sintonia eclesial e em obediência às diretrizes dos pastores. É com pessoas bem formadas e animadas pelo zelo evangelizador que iremos trabalhar com afinco nessa missão de acolhimento em nossas comunidades, procurando fazer com que todo o clima paroquial esteja respirando nessa direção.
Para que tudo isso aconteça é necessário que façamos uma revisão da maneira como acolhemos quem vem à Igreja e procura um encontro pessoal com Jesus ou com o padre, que na paróquia faz às vezes do Bispo Diocesano. Os Papas mesmos manifestaram a sua alegria em serem bem acolhidos quando fizeram a sua visita apostólica no Brasil, conforme expressou Sua Santidade o Papa Bento XVI, no Rosário por ele presidido na Basílica de Aparecida: “Agradeço a acolhida e a hospitalidade do Povo brasileiro. Desde que aqui cheguei fui recebido com muito carinho! As várias manifestações de apreço e saudações demonstram o quanto vós quereis bem, estimais e respeitais o Sucessor do Apóstolo Pedro. Meu predecessor, o Servo de Deus, Papa João Paulo II, referiu-se várias vezes à vossa simpatia e espírito de acolhida fraterna. Ele tinha toda razão!”.
Sim, é esta simpatia e acolhida, sem fingimentos, mais verdadeira, que deve embalar o espírito de todo aquele que é ministro sagrado e os seus principais colaboradores, os fiéis leigos. Que bom seria que ao chegarmos às Paróquias encontrássemos sempre alguém a nos acolher e informar com simpatia. Aliás, esse é um dom que todo carioca tem pela sua própria história e formação. Esta é uma cidade acolhedora e alegre por natureza. É necessário que possamos fazer disso também uma maneira de evangelizar.
Algumas palavras e alguns gestos são simples e fazem muito bem: uma alegre equipe de acolhida que dissesse aos fiéis bom dia, boa tarde, boa noite, seja bem-vinda, Deus te abençoe. Um grande amigo nosso, D. Luciano Pedro Mendes de Almeida, se caracterizou por uma frase que era praticamente a sua vida: “em que posso ajudar?” Que bom seria que sempre assim o fizéssemos em nossas comunidades! A acolhida fraterna dos que procuram as nossas paróquias, capelas, comunidades, centros comunitários vai fazer a diferença na nova evangelização.
Por que acolher bem? O acolhimento fraterno e alegre nos leva a outra indagação: o que o fiel procura em nossas comunidades, ou melhor, quem é que eles vêm procurar? A resposta só pode ser uma: vieram, mesmo sem saber com clareza, à procura de Jesus Cristo! Jesus Cristo que, todavia, foi o primeiro a procurar-vos. De fato, o único significado para uma boa acolhida é levar quem chega a nossos ambientes sagrados a encontrar Jesus Cristo, o Verbo que Se fez carne e veio habitar entre nós. As palavras do Prólogo de São João de certo modo deve ser o “cartão de visita” do ministro que acolhe o seu irmão. “No princípio era o Verbo, o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava, ao princípio, junto de Deus” (Jo 1, 1-2). E diz a grande conclusão: “a quantos, porém, o acolheram, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus: são os que creem no seu nome”. (Jo 1, 12) O Senhor também, ao enviar os seus discípulos, vai lembrar-lhes que quem os “acolhe, acolhe a mim, e quem acolhe a mim, acolhe Aquele que me enviou”.
Assim, aos que buscam o Cristo Senhor nós queremos repetir a exclamação de Jesus: A paz e a acolhida estejam convosco! Na alegria comunitária de bem recebermos a todos, de fazermos pontes e nunca destruí-las, que conclamo a Igreja que peregrina no Rio de Janeiro a incrementar a acolhida em sua estrutura. Fiéis bem acolhidos são mais dispostos ao seguimento de Jesus Cristo, e a acolhida gera outras acolhidas. Tornando toda a Igreja acolhedora, e concretamente acolhendo o fiel com feliz sorriso, estamos abrindo nosso coração para que o Cristo se manifeste em cada um que bate em nossas comunidades. Não tenhamos medo de ser alegres e deixar que a felicidade do Verbo Encarnado alegre nossa bonita Igreja do Rio de Janeiro que, pelo seu jeito carioca, é alegre e acolhedora!
+ Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ







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