Rio de Janeiro, 16 mar (RV) - Um dos grandes empenhos do meu antecessor no
serviço desta nossa querida Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, o Cardeal
D. Eusébio Oscar Scheid, foi com o Ministério do Acolhimento, que ele deu início oficial
e foi um tema ao qual ele se dedicou com carinho que, além do empenho pastoral, também
escreveu um livro sobre o assunto. Quero retomar esse tema importante e necessário.
Gostaria que ele continuasse com o mesmo ardor com que se iniciou e fosse ainda mais
incrementado. O acolhimento não se resume apenas no fato da entrega de folhetos na
porta de nossas igrejas no momento das missas dominicais. Ele vai muito mais além
como, aliás, assim se referiu D. Eusébio. É muito importante que busquemos ser uma
Igreja acolhedora sempre, tanto nas secretarias, sacristias, pastorais, residência
paroquial, catequese – enfim, em todas as atividades. Uma delas, porém, creio que
seria muito importante que conquistássemos: permanecendo abertas nossas igrejas, termos
sempre pessoas que acolham os que ali chegam, muitas vezes machucados pela vida e
circunstâncias da grande cidade, e que querem uma palavra de conforto e um caminho
a ser trilhado. Acolher o pobre, o excluído e o necessitado, algumas vezes pessoas
que se jogaram no álcool e na droga, deveria também ser uma missão diaconal de nossas
comunidades. Muitas paróquias e instituições entregam alimentos, roupas e cuidam dos
irmãos que residem nas ruas da cidade, mas acredito que devemos avançar – e muito
– na direção da superação da miséria e da fome. Faltam-nos pessoas que exerçam
o ministério do acolhimento por mais tempo e façam disso o seu trabalho de evangelização.
Quantas pessoas poderiam ser evangelizadas só pelo acolhimento em nossas comunidades?
Cada igreja tem situações especiais: algumas são frequentadas por muitas pessoas durante
o dia e em outros locais a frequência diurna é menor, mas aumenta durante a tarde.
Enfim, são situações às quais temos que estar atentos. Temos algumas igrejas que estão
abertas 24 horas por dia. É um belo exemplo que, mesmo com as dificuldades da violência,
existem locais de oração, adoração e acolhimento onde mesmo os notívagos podem passar
para rezar e adorar a Cristo presente na Eucaristia, além de encontrar pessoas abertas
a acolher. No dia 27 de fevereiro, durante a peregrinação do clero da arquidiocese,
dentro do Ano Sacerdotal, pessoalmente, com muita alegria ao querido clero da nossa
Arquidiocese, entreguei uma carta dedicada a todos os presbíteros que trabalham nesta
bela Igreja Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro. Nela, entre outros assuntos,
recordei aos nossos presbíteros esse importante ministério e a necessidade de criatividade
para melhor empreender a evangelização e concretizar a missão. Infelizmente temos
observado que, não raras vezes, por questões várias, seja pela escassez de sacerdotes,
seja pelo tempo tomado com tantas solicitações burocráticas, os padres não conseguem
atender a todas as necessidades pelas quais são procurados. É muito o trabalho e poucos
os operários. Por isso é muito importante os irmãos e irmãs que se dispõem a servir
como evangelizadores nesse belo ministério do acolhimento ou, como costumam chamar
em outros lugares, a pastoral da acolhida. Urge levar em consideração que a própria
paróquia – e às vezes também a diocese –, ainda tendo autonomia própria, não pode
ser uma ilha, especialmente em nosso tempo, no qual abundam os meios de transporte
e de comunicação. As paróquias são órgãos vivos do único Corpo de Cristo, da única
Igreja, na qual se acolhe e se serve tanto os membros das comunidades locais como
todos os que, por qualquer razão, afluem a ela em um momento que pode significar a
ação da graça de Deus em uma consciência e em uma vida. A paróquia, com suas celebrações
litúrgicas e em seus serviços, teria que levar em consideração a mobilidade das pessoas,
a confluência de muitas delas a alguns lugares e a nova assimilação geral de tendências,
costumes, modas e horários. Para cada situação e local, os horários e atendimentos
serão diferenciados devido à inculturação na região. O pároco, ao estabelecer na
paróquia os horários das Missas e das confissões, deve considerar quais são os momentos
mais adequados para a maior parte dos fiéis, permitindo também aos que têm dificuldades
especiais de horário que possam se aproximar facilmente dos sacramentos. É preciso
levar em conta as necessidades das pessoas com os horários de trabalho e estudo. A
maleabilidade e a abertura para verificar o melhor momento fazem com que muitos irmãos
tenham oportunidade de participar de nossas celebrações. Isso também é acolhida. O
presbítero, padre e bispo, enquanto partícipe da ação diretiva de Cristo Cabeça e
pastor sobre seu Corpo, está especificamente capacitado para ser, no campo pastoral,
o “homem da comunhão”: “Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande
desafio que nos espera no milênio que começa se quisermos ser fiéis ao desígnio de
Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo” (NMI, n. 43). Na
nova estrutura paroquial, que procura ser descentralizada e também atender pessoalmente
a cada pessoa que vem à paróquia, não cabe que o pároco faça tudo sozinho. O pároco
não tem condições de realizar pessoalmente todas as atividades na paróquia, mas deve
procurar que se realizem de maneira oportuna, conforme a reta doutrina e a disciplina
eclesial, no seio da paróquia, segundo as circunstâncias e sempre sob a própria responsabilidade.
O sacerdote deve ajudar os leigos a descobrirem e realizarem sua vocação específica
em comunhão com os demais fiéis. O realizador desta comunhão e desta pertença de comunhão
do presbítero ao povo de Deus é o Espírito Santo. Dado que Ele impregna e motiva todas
as áreas da existência, então também penetra e configura a vocação específica de cada
um. Assim se forma e desenvolve a espiritualidade própria de presbíteros, de religiosos
e religiosas, de pais de família, de empresários, de catequistas e outros. Cada uma
das vocações tem uma forma concreta e distintiva de viver a espiritualidade, que confere
profundidade e entusiasmo ao exercício de suas tarefas. O apostolado dos leigos
se desenvolve em boa parte das associações e movimentos que atuam em plena sintonia
eclesial e em obediência às diretrizes dos pastores. É com pessoas bem formadas e
animadas pelo zelo evangelizador que iremos trabalhar com afinco nessa missão de acolhimento
em nossas comunidades, procurando fazer com que todo o clima paroquial esteja respirando
nessa direção. Para que tudo isso aconteça é necessário que façamos uma revisão
da maneira como acolhemos quem vem à Igreja e procura um encontro pessoal com Jesus
ou com o padre, que na paróquia faz às vezes do Bispo Diocesano. Os Papas mesmos manifestaram
a sua alegria em serem bem acolhidos quando fizeram a sua visita apostólica no Brasil,
conforme expressou Sua Santidade o Papa Bento XVI, no Rosário por ele presidido na
Basílica de Aparecida: “Agradeço a acolhida e a hospitalidade do Povo brasileiro.
Desde que aqui cheguei fui recebido com muito carinho! As várias manifestações de
apreço e saudações demonstram o quanto vós quereis bem, estimais e respeitais o Sucessor
do Apóstolo Pedro. Meu predecessor, o Servo de Deus, Papa João Paulo II, referiu-se
várias vezes à vossa simpatia e espírito de acolhida fraterna. Ele tinha toda razão!”. Sim,
é esta simpatia e acolhida, sem fingimentos, mais verdadeira, que deve embalar o espírito
de todo aquele que é ministro sagrado e os seus principais colaboradores, os fiéis
leigos. Que bom seria que ao chegarmos às Paróquias encontrássemos sempre alguém a
nos acolher e informar com simpatia. Aliás, esse é um dom que todo carioca tem pela
sua própria história e formação. Esta é uma cidade acolhedora e alegre por natureza.
É necessário que possamos fazer disso também uma maneira de evangelizar. Algumas
palavras e alguns gestos são simples e fazem muito bem: uma alegre equipe de acolhida
que dissesse aos fiéis bom dia, boa tarde, boa noite, seja bem-vinda, Deus te abençoe.
Um grande amigo nosso, D. Luciano Pedro Mendes de Almeida, se caracterizou por uma
frase que era praticamente a sua vida: “em que posso ajudar?” Que bom seria que sempre
assim o fizéssemos em nossas comunidades! A acolhida fraterna dos que procuram as
nossas paróquias, capelas, comunidades, centros comunitários vai fazer a diferença
na nova evangelização. Por que acolher bem? O acolhimento fraterno e alegre nos
leva a outra indagação: o que o fiel procura em nossas comunidades, ou melhor, quem
é que eles vêm procurar? A resposta só pode ser uma: vieram, mesmo sem saber com clareza,
à procura de Jesus Cristo! Jesus Cristo que, todavia, foi o primeiro a procurar-vos.
De fato, o único significado para uma boa acolhida é levar quem chega a nossos ambientes
sagrados a encontrar Jesus Cristo, o Verbo que Se fez carne e veio habitar entre nós.
As palavras do Prólogo de São João de certo modo deve ser o “cartão de visita” do
ministro que acolhe o seu irmão. “No princípio era o Verbo, o Verbo estava junto de
Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava, ao princípio, junto de Deus” (Jo 1, 1-2). E
diz a grande conclusão: “a quantos, porém, o acolheram, deu-lhes poder de se tornarem
filhos de Deus: são os que creem no seu nome”. (Jo 1, 12) O Senhor também, ao enviar
os seus discípulos, vai lembrar-lhes que quem os “acolhe, acolhe a mim, e quem acolhe
a mim, acolhe Aquele que me enviou”. Assim, aos que buscam o Cristo Senhor nós
queremos repetir a exclamação de Jesus: A paz e a acolhida estejam convosco! Na alegria
comunitária de bem recebermos a todos, de fazermos pontes e nunca destruí-las, que
conclamo a Igreja que peregrina no Rio de Janeiro a incrementar a acolhida em sua
estrutura. Fiéis bem acolhidos são mais dispostos ao seguimento de Jesus Cristo, e
a acolhida gera outras acolhidas. Tornando toda a Igreja acolhedora, e concretamente
acolhendo o fiel com feliz sorriso, estamos abrindo nosso coração para que o Cristo
se manifeste em cada um que bate em nossas comunidades. Não tenhamos medo de ser alegres
e deixar que a felicidade do Verbo Encarnado alegre nossa bonita Igreja do Rio de
Janeiro que, pelo seu jeito carioca, é alegre e acolhedora! + Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ