Cidade do Vaticano, 10 mar (RV) - É o maior Estado da África e é habitado por
mais de 37 milhões de pessoas, dos quais 80% muçulmanos e 17% cristãos. É o Sudão,
país ainda dilacerado por conflitos apesar do reconhecimento, em 2005, do governo
autônomo do Sudão meridional e do cessar-fogo assinado no último dia 24 de fevereiro
na martirizada região ocidental do Darfur. Nesta crucial fase histórica do país, na
véspera das eleições e a um ano do referendo para a independência das regiões meridionais
habitadas na maioria por cristãos, teve início no Vaticano a visita “ad Limina” dos
bispos do Sudão. Falando à Rádio Vaticano o Bispo de Rumbek, diocese ao sul do Sudão,
Dom Cesare Mazzolari, sublinhou a importância dessa visita.
R. – Para nós
tem um grande valor porque estamos na véspera das eleições, que se realizarão no dia
11 de abril, para escolher os presidentes e os membros dos Parlamentos do Norte e
do Sul. Esperamos que o Vaticano, com a sua voz, possa, de fato, fazer um apelo aos
governantes do Sudão para um caminho sereno em direção das eleições e por uma verdadeira
consolidação da paz no Sudão.
P. A Igreja sempre esteve comprometida com a
paz. Quais foram os passos dados e quais ainda devem ser dados?
R. – Em 2005
foram assinados tratados de paz nos quais se prevê uma divisão dos recursos, das forças
armadas, e a participação no Parlamento e, portanto, no poder. Essas coisas, porém,
caminharam muito lentamente. É uma paz frágil, uma paz que talvez ainda não atingiu
o coração das pessoas e por isso esperamos poder consolidá-la.
P. – Qual é
o auspício pelas regiões meridionais, que são de maioria cristã?
R. – A maior
pobreza da população do Sul do Sudão é, em particular, a falta de identidade. Uma
identidade que nunca foi permitida, há séculos; uma população que vive sob um governo
islâmico que oprime os habitantes do Sul, uma população que deseja descobrir a própria
identidade e chegar ao ponto de assumir a responsabilidade pelo próprio futuro. P.
Outra terra martirizada é a do Darfur. O que a Igreja está fazendo nesta região?
R.
– A Igreja sempre esteve presente e procura levar a sua ajuda humanitária. Desde o
início dissemos ao governo o nosso parecer sobre o Darfur, que consideramos um verdadeiro
e próprio genocídio. A nossa palavra, porém, não foi ouvida e assim continuamos tentando
exercitar uma influência construtiva mas com muita dificuldade. O Sudão é o maior
país do continente africano mas possui somente nove dioceses.
P. Mesmo sendo
o maior país da África, apesar de possuir tantas riquezas, existe também tanta pobreza,
e muitos emigram, deixando o país.
R. – Provavelmente é em absoluto o país
mais pobre do mundo. Os nossos recursos, as nossas riquezas ainda não foram desenvolvidas.
Depois de descobrirmos a nossa identidade e a nossa capacidade, descobriremos os nossos
recursos e os desenvolveremos. Entretanto, porém, vivemos na pobreza da insegurança
e também a Igreja é pobre e caminha com os pobres. (SP)