Rio de Janeiro, 09 mar (RV) - A gratidão é uma das principais virtudes humanas.
Nosso venerável irmão no episcopado, Dom Edney Gouvêa Mattoso, até 20 de janeiro passado
nosso Bispo Auxiliar, iniciará o seu ministério como quarto bispo Diocesano de Nova
Friburgo no próximo dia 13 de março de 2010, sábado, às 17h30min horas. Por isso é
hora de dizer Deus lhe pague pelos muitos benefícios que Dom Edney realizou em nosso
meio. De maneira especial agradeço pelo tempo de convivência e de partilha neste meu
início de serviço pastoral nesta Arquidiocese.
Dom Edney nasceu no Rio de Janeiro,
RJ, em 02 de fevereiro de 1957. Foi ordenado Sacerdote em 29 de agosto de 1987 pelo
nosso venerável predecessor, Dom Eugênio Cardeal Salles. Depois de muitos trabalhos
profícuos no presbitério do Rio de Janeiro foi nomeado Bispo Titular de Tunnuna e
Auxiliar do Rio de Janeiro em 12 de janeiro de 2005, tendo recebido a Ordenação Episcopal
a 12 de março de 2005. Seu lema episcopal é: “Fiat voluntas tua”. Na nossa Arquidiocese
Dom Edney foi Vigário Geral, Animador do Vicariato Episcopal Leopoldina, do Ensino
Religioso, da Pastoral da Liturgia, da Música Sacra e Arte Sacra, dos Ministérios,
das Exéquias, da Acolhida, da Iniciação Cristã, da Pastoral da Educação, das Escolas
Mater Ecclesiae e Luz e Vida, dos MESCs e do Conselho de Leigos do Brasil no Regional
Leste 1 da CNBB. Ele leva consigo uma experiência marcante tanto da Imaculada Conceição,
que o segue, o espera e o aguarda, como também de seu querido Realengo.
Neste
agradecimento a Dom Edney, queremos fazer uma reflexão acerca do ministério episcopal.
É uma reflexão que faço para mim, também chamado a essa mesma missão. Nestes tempos
de tantas situações complexas e de mudanças sempre é bom “pensar alto” e aproveitar
o tempo da Quaresma para confrontar a vida com o chamado que recebemos do Senhor,
através da Igreja, para servir ao povo de Deus. Dias atrás, em nossa reunião de Bispos
do Regional Leste 1, fazíamos um pouco essa reflexão ao ouvir a voz de irmãos que
estão no limiar de completar a idade canônica para colocar à disposição do Papa o
seu trabalho. Acredito que sempre é tempo de retomar com renovado ardor a caminhada.
E para quem está iniciando um novo tempo, como D. Edney, a alegria dos inícios e a
graça de estado para a missão que recebeu irá, sem dúvida alguma, conduzi-lo com generosidade
no mister que agora inicia. Refletir sobre a missão do Bispo ajuda também para que
o nosso povo reze por nós.
Jesus nos convida a apascentar o povo santo de Deus
(cf. 1 Pd 5, 2-4). O Bispo, titular ou auxiliar, deve inspirar a ação do seu ministério
por oito princípios: 1. o princípio trinitário e eclesial, segundo o qual ao Bispo
é dada a tarefa de governar uma Igreja particular em nome de Deus Pai, Filho e Espírito
Santo; 2. o princípio da verdade, que deve ser sempre o centro da atividade e do
compromisso pastoral do Bispo, e o primeiro critério com o qual ele avalia opiniões
e propostas que emergem quer na comunidade cristã quer na sociedade civil; 3. o princípio
da comunhão, pelo qual o Bispo deve se comprometer para que a sua Igreja Particular
seja "casa e escola de comunhão". Como afirma a Constituição Dogmática Lumen gentium,
o Bispo é o princípio e fundamento visível da unidade da sua diocese, e assim ele
deve sentir-se e comportar-se; 4. o princípio da colaboração: o Bispo promove a participação
de todos os que compõem a comunidade cristã na única missão da Igreja; 5. o princípio
do respeito das competências, segundo o qual o Bispo encoraja cada um a fazer a própria
parte apoiando as iniciativas justas, estimulando e coordenando harmoniosamente as
diversas forças que trabalham nas dioceses; 6. o princípio da pessoa justa no lugar
justo: o Bispo considera sempre o bem das almas e procura valorizar todos, segundo
os seus carismas e as suas capacidades, da forma mais adequada e útil no interior
da Igreja; 7. o princípio da justiça e da legalidade: o Bispo orienta o governo da
Diocese sobre a justiça e a verdade, evitando visões e esquemas personalistas, para
caminhar juntamente com os seus irmãos pelos binários do amor a todos. 8. O espírito
de serviço e a pastoralidade da "sacra potestas" .
O Bispo é o primeiro servidor,
o que serve sem limites. De um Bispo se espera o radical espírito de serviço que deve
caracterizar o ministério episcopal, e apresenta o papel do Bispo como um serviço
de amor. Por isso, na pastoralidade da abertura ao diferente, no diálogo com todas
as forças vivas da Igreja Particular, o ministério episcopal deve ser calcado na índole
pastoral do poder episcopal, que tem essencialmente por objetivo a edificação do povo
de Deus na unidade da fé e do amor. O caráter pastoral, o espírito paterno e o fim
eclesial do poder do Bispo são evidenciados de maneira peculiar na doce abertura em
receber e acompanhar os seus sacerdotes, os leigos e os consagrados da Igreja diocesana.
É recordado com particular insistência ao Bispo o estreitíssimo vínculo sacramental
que o une aos seus sacerdotes, para os quais ele deve ser pai, irmão e amigo, a fim
de fazer com que todo o presbitério cresça na fraternidade e naquela "obediência comunitária",
característica própria da identidade presbiteral (cf. Pastores dabo vobis n. 28).
O Bispo, além disso, tem o dever de prover a formação permanente do presbitério
e a dos seminaristas. A este propósito, o Bispo sabe bem que o Seminário é o "coração"
da diocese e que ele é o primeiro responsável pela formação seminarística e o principal
animador da pastoral vocacional. Devemos ressaltar também as relações que o Bispo
deve ter com os diáconos permanentes, com as pessoas consagradas e com os fiéis leigos.
Com a mesma autoridade de Cristo, o Bispo exerce os "tria numera" que constituem
a sua função pastoral. De fato, o Bispo é pastor enquanto evangelizador, santificador
e guia do povo cristão.
O Bispo é mestre da fé e mensageiro da Palavra (munus
docendi), recordando-se os deveres do Bispo como primeiro responsável da evangelização
e da catequese, bem como a sua sensibilidade e atenção aos vários ambientes e meios
para a difusão do Evangelho. Uma das principais tarefas do Bispo é ser santificador
do povo cristão (munus sanctificandi). Por isso realce-se a centralidade da liturgia
na vida da diocese, sobretudo da celebração eucarística. Assim, o Bispo deve sempre
manter atual a centralidade do domingo, a importância da piedade popular, o decoro
dos lugares sagrados.
Como primeiro responsável pela Diocese, o governo pastoral
do Bispo (munus regendi) é evidenciado no radical espírito de serviço e de vigilância
sobre o desenvolvimento da vida diocesana. Em particular, no seu governo, o Bispo
deve refletir as mesmas características do Bom Pastor. Por isso, ao Bispo cabe a responsabilidade
pessoal sobre o papel dos Órgãos de participação na sua função pastoral, como o Sínodo
diocesano, a Cúria e os vários Conselhos diocesanos, Colégio dos Consultores, Conselhos
presbiteral e pastoral e Conselho para os assuntos econômicos. Por fim, o Bispo deve
evidenciar a sua presença permanente nas paróquias, empreendendo pessoalmente à Visita
Pastoral na qual são enfrentados os problemas.
Nesse olhar misericordioso sob
o ofício do Bispo, cientes de que todo este itinerário foi seguido por Dom Edney,
com respeitosa comunhão absoluta com nosso predecessor, o Cardeal D. Eusébio Oscar
Scheid, e durante este breve espaço de tempo também para conosco, peço ao bom Deus
que ilumine com o Seu Espírito o nosso irmão, Bispo eleito de Nova Friburgo. Recorde
com alegria os tempos cariocas que levará em seu coração e também destes pequenos
pensamentos, porém profundos, de que o Bispo deve conhecer as suas ovelhas, amá-las
e levá-las ao seguimento de Jesus, o único Supremo Sacerdote, do qual somos sucessores
do Colégio Apostólico. Estaremos unidos e rezando pela sua nova missão. “Que
o caminho seja brando a teus pés, o vento sopre leve em teus ombros, que o sol brilhe
cálido sobre a tua face, as chuvas caiam serenas em teus campos, e que o Senhor te
guarde na palma de Sua mão!”. Seja muito feliz e bom pastoreio, Dom Edney!
+ Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo
do Rio de Janeiro, RJ