Cidade do Vaticano, 08 mar (RV) - "Na Quaresma, cada um de nós é convidado
por Deus a dar uma reviravolta na própria vida": na visita neste domingo à paróquia
romana de São João da Cruz, Bento XVI voltou a ressaltar o significado autêntico do
percurso quaresmal.
Um tempo forte – disse – que nos convida "à conversão da
nossa vida", "pensando e vivendo segundo o Evangelho". Tendo chegado à metade do caminho
quaresmal, repercorramos algumas meditações do Papa sobre a Quaresma deste ano.
Entrar
na justiça "maior", a justiça do amor realizada por Cristo, "a justiça de quem se
sente mais devedor do que credor": na Mensagem para a Quaresma Bento XVI indicou a
meta rumo à qual os fiéis devem caminhar neste período que nos prepara para a Páscoa
do Senhor. O Papa chama a atenção para a ilusão da autossuficiência, do egoísmo individualista
que está "na origem da própria injustiça". Ao invés, o homem deve reconhecer a sua
pequenez: Somente nesta perspectiva, se pode compreender "o sinal penitencial das
Cinzas":
"É essencialmente um gesto de humildade, que significa: reconheço-me
por aquilo que sou, uma criatura frágil, feita de terra e destinada à terra, mas também
feita à imagem de Deus e destinada a Ele. Pó sim, mas criatura amada, plasmada por
seu amor, animada por seu sopro vital, capaz de reconhecer a sua voz e de responder-Lhe;
livre e, por isso, capaz também de desobedecer-Lhe, cedendo à tentação do orgulho
e da autossuficiência." (Missa da Quarta-feira de Cinzas, 17 de fevereiro de 2010)
Eis
então a necessidade de conversão. "Converter-se – observou o Pontífice – significa
mudar direção no caminho da vida: não, porém, com um pequeno ajustamento, mas com
uma verdadeira guinada".
"Conversão é caminhar contracorrente, onde a "corrente"
é o estilo de vida superficial, incoerente e ilusório, que muitas vezes nos arrasta,
nos domina e nos torna escravos do mal ou, de certo modo, prisioneiros da mediocridade
moral. Ao invés, com a conversão se busca a medida alta da vida cristã, se confia
no Evangelho vivo e pessoal, que é Jesus Cristo." (Audiência Geral, 17 de fevereiro
de 2010)
No primeiro domingo da Quaresma, o Pontífice nos convidou desse
modo a entrarmos no deserto com Jesus e a percorrermos com Ele o itinerário quaresmal.
Assim como Cristo luta "em primeira pessoa contra o tentador, até a Cruz", também
nós somos chamados, "com a graça de Deus", a mudar "aquilo que não está bem" em nossa
vida – foi a sua exortação. A Quaresma – reiterou ainda – é "como um longo "retiro"
durante o qual devemos entrar em nós mesmos e escutar a voz de Deus, para vencer as
tentações do Maligno":
"Um tempo de "intensidade" espiritual a ser vivido junto
com Jesus, não com orgulho e presunção, mas usando as armas da fé, isto é, a oração,
a escuta da Palavra de Deus e a penitência. Desse modo poderemos chegar a celebrar
a Páscoa na verdade, prontos a renovar as promessas do nosso Batismo." (Angelus,
21 de fevereiro de 2010)
No segundo Domingo da Quaresma, em que a liturgia
é dominada pelo episódio da Transfiguração do Senhor, o Papa se deteve sobre o significado
deste evento extraordinário. Pedro queria permanecer no monte Tabor, porque – justifica
ele mesmo – "é bom estarmos aqui" com o Senhor:
"Mas a Transfiguração nos recorda
que as alegrias semeadas por Deus na vida não são pontos de chegada, mas são luzes
que Ele nos dá na peregrinação terrena, para que "somente Jesus" seja a nossa Lei
e a sua Palavra seja o critério que guia a nossa existência." (Angelus, 28 de fevereiro
de 2010)
Daí, o convite a todos, neste período quaresmal, a "meditarem
assiduamente o Evangelho". Exortação ainda mais forte para os sacerdotes, neste Ano
jubilar a eles dedicado, a fim de que sejam verdadeiramente "impregnados pela Palavra
de Deus, a conheçam realmente, amem-na a ponto de ela realmente dar-lhes vida e formar
o seu pensamento". (RL)