Cidade do Vaticano, 04 mar (RV) - O Evangelho da liturgia desta quinta-feira
apresenta a célebre parábola do Evangelho do pobre Lázaro e do rico Epulão, símbolos
da pobreza que pede ajuda e do egoísmo que tem olhos somente para si mesmo.
O
tema da justiça e da equânime distribuição das riquezas foi reiteradas vezes abordado
nestes anos por Bento XVI em muitos de seus discursos, e o próprio trecho do Evangelho
acerca de Lázaro e Epulão foi colocado pelo Papa numa passagem da encíclica Deus Caritas
est como exemplo de como somente o amor é o caminho que redime o homem.
Sobre
o tema repropomos algumas das afirmações salientes do Pontífice.
Lázaro, um
homem maltrapilho e purulento, que não tem mais a força da dignidade, mas somente
a força da fome, reclinado como um cão sob a mesa de um rico à espera que as migalhas
do banquete possam aliviar a sua fome.
E ele, Epulão, o rico que sacia somente
a sua fome e que quando após a morte vê transformar-se em tormento a sua falta de
solidariedade com o pobre, apela em vão com um atrasado arrependimento que não o salvará.
"O
rico – afirmou o Papa num Angelus – personifica o uso iníquo das riquezas por
parte de quem as utiliza para um luxo desenfreado e egoísta, pensando somente em satisfazer
a si mesmo, sem enxergar o mendicante que está à sua porta."
O pobre, pelo
contrário, representa a pessoa de cujo ser somente Deus cuida:
"Quem é esquecido
por todos, Deus não o esquece; quem não vale nada aos olhos dos homens é precioso
aos olhos do Senhor. A parábola mostra como a iniqüidade terrena é invertida pela
justiça divina: após a morte, Lázaro é acolhido "no seio de Abraão", isto é, na beatitude
eterna; enquanto o rico acaba no inferno entre os tormentos." (30 de setembro de
2007).
Na história da humanidade, o pobre Lázaro e o rico Epulão jamais
deixaram, um, de estender a mão, e o outro, comumente, de ignorá-la. Hoje os milhões
de Lázaros são aqueles que sobrevivem como refugiados, que mendigam migalhas de respeito
pelos imigrados, são aqueles aos quais um exíguo salário assegura apenas duas semanas
ao mês de subsistência.
Diante deles, os Epulões são os sistemas financeiros
para os quais a solidariedade é uma voz que não conta, ou então os cálculos de governos
incapazes de políticas solidárias incisivas para as sociedades que administram ou
inertes quando se trata de dar concretude de "Resultados" do Milênio aos que comumente
continuam sendo somente Objetivos.
"A fome – ressaltou o Papa sem meios termos
diante dos membros da FAO, há mais de três meses – é o sinal mais cruel e concreto
da pobreza. Não é possível continuar aceitando a opulência e o desperdício, quando
o drama da fome assume dimensões sempre maiores":
"Se se busca a eliminação
da fome a ação internacional é chamada não somente a favorecer o crescimento econômico
equilibrado e sustentável e a estabilidade política, mas também a buscar novos parâmetros
– necessariamente éticos, bem como jurídicos e econômicos – capazes de inspirar a
atividade de cooperação para construir uma relação igualitária entre países que encontram
um diferente grau de desenvolvimento." (16 de novembro de 2009 – sede da FAO –
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) (RL)