Juiz de Fora, 28 fev (RV) - Deus nos deu inteligência e perspicácia, mas nós,
apegados à vidinha do dia-a-dia, não conseguimos enxergar além do nosso nariz. O homem
consegue ir à lua e não vê o que é mais profundo, que está bem ao seu alcance e que
é verdadeiro e eterno, que não o faz arriscar a vida, mas renová-la. E não é porque
não temos capacidade. Um pouco é desinteresse, pois ficamos preocupados com o que
é palpável, vantajoso; o que é mais cômodo, aquilo que não exige que abramos o coração,
deixando a amor, a fé, a confiança entrar.
Os apóstolos conviveram com Jesus,
ouviram a sua mensagem, assistiram a seus milagres, acompanharam-no cotidianamente,
mas ainda não tinham compreendido a verdadeira dimensão da sua missão messiânica.
Querendo
forçar o raciocínio deles, disse-lhes que, como os fariseus não O escutavam, eles
também, os apóstolos, se quisessem, poderiam seguir outro mestre. E São Pedro responde:
"A quem iremos, Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna."
Em outra ocasião,
Ele pergunta a seus discípulos: "Quem vocês acham que eu sou?" E o mesmo São Pedro
responde: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo."
Muito bom. Estavam reagindo.
Mas, quando Ele disse que devia ir a Jerusalém para se submeter a sua Paixão, os apóstolos
se revoltaram. Não concordaram, não compreenderam.
A Transfiguração de Cristo
tem por finalidade justificar a fé dos apóstolos em vista da Paixão: a subida à montanha,
onde Ele se transfigurou, prepara a subida ao Calvário. "Cristo, cabeça da Igreja,
manifesta o que o seu corpo contém e irradia nos sacramentos: a esperança da Glória",
nas palavras de São Paulo aos colossenses.
A presença de Moisés e Elias documenta
o que a Lei e os Profetas já diziam, no Antigo Testamento sobre o Redentor. Ainda
assim, São Pedro queria construir uma tenda para eles, sem ter a compreensão total
do que estava presenciando.
Uma nuvem cobre os apóstolos, fazendo-os enxergar
melhor, sob a ação do Espírito Santo. E uma voz ressoa para eles: "Este é o meu Filho
muito amado. Escutem-no."
Como no Batismo de Cristo, a Santíssima Trindade
se manifestou. Foi então que os apóstolos compreenderam e acreditaram. Eles tiveram,
por um momento, um vislumbre do Céu.
Somos todos nós lerdos no pensar e no
agir. É preciso que se coloquem as verdades no nosso nariz para que possamos pensar
em compreender. Somos como os apóstolos. Somos ainda piores, porque eles eram homens
rudes, sem muita instrução. E nós, mesmo quando estudamos acerca da vida e do mundo,
mesmo quando somos muito "instruídos", ainda necessitamos que o Senhor se transfigure
ante nós, para crermos na sua missão salvífica.
Nesses dias estou peregrinando
na cidade eterna de Roma, visitando os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo e fazendo
a experiência quaresmal de peregrinação e de penitência. Faço esta peregrinação em
agradecimento a Deus pela graça de ter servido com destemor e dedicação exclusiva
às Igrejas de Luz e de Juiz de Fora. Aqui rezo por você que me acompanha semanalmente
na partilha destes modestos textos. O que me anima ainda a escrever é partilhar a
existência vivida na busca do Transfigurado. O testemunho dos evangelistas sobre a
transfiguração de Cristo (e os sinóticos documentam os fatos) deve levar-nos a, não
só crer, mas agir, como conseqüência desta crença, amando-nos uns aos outros, perdoando
os tropeços de cada um, ajudando-nos mutuamente a se levantar, combatendo a ganância,
a violência, o egoísmo, para que consigamos construir um mundo novo, transfigurado,
cheio de luz, paz, igualdade, justiça, amor. Sem dúvida este será um vislumbre do
Céu.