Cidade do Vaticano, 21 fev (RV) - Iniciamos nosso tempo quaresmal com a reflexão
sobre a gratidão a Deus pelos frutos recebidos, expressada pela restituição ao Senhor,
através de seus pobres, das primícias dos frutos do trabalho. Essa atitude reconhecedora
de que tudo o que temos vem de Deus, reafirma nossa absoluta dependência Dele.
No
passado, as primícias eram entregues aos representantes de Deus: os levitas, os estrangeiros,
os órfãos, as viúvas, enfim a todos aqueles que não possuíam terras, que eram socialmente
pobres. Não basta a profissão de fé, mas é imperiosa a solidariedade e a generosidade
em favor dos necessitados. Reconheço a bondade de Deus, sua generosidade para comigo,
partilhando com os pobres o que Dele recebi.
O Evangelho nos fala das tentações
a que o ser humano é exposto. Lucas nos mostra Jesus, o Homem por excelência, vivenciando
essas tentações e saindo imune dessas ações demoníacas.
A primeira tentação
é em relação à comida, à subsistência. Todos precisamos nos alimentar para viver.
Todavia Jesus passa um longo tempo sem se alimentar e, apesar da fome, não dá vazão
aos apelos do próprio corpo para que se alimente e se mantém fiel a Deus. Se tivesse
usado seus poderes para saciar suas necessidades, teria sido um vencedor aos olhos
do mundo, mas um derrotado aos olhos do Pai. Jesus rebate o Mal com um pequeno texto
da Sagrada Escritura: “Não só de pão viverá o homem!” Somente aquele que considera
sua vida à luz da Palavra de Deus está em condições de atribuir às realidades terrenas
seu exato valor!
A segunda tentação está voltada ao modo de nos relacionarmos
com as pessoas. Somos levados a uma escolha entre dominar ou servir, competir ou solidarizar,
explorar ou disponibilizar-se. O intelectual, o rico, o mais forte, todos esses podem
se transformar em opressores daqueles que não tiveram oportunidades. O nde quer que
se espezinhe a dignidade humana, aí entra a lógica do diabo. Para Jesus, grande não
é o bem sucedido, aquele perante a quem o mundo se ajoelha, mas aquele que se ajoelha
para lavar os pés do irmão mais pobre.
A terceira tentação, a que deturpa o
relacionamento entre o homem e Deus. Satanás usa a palavra de Deus, o famoso “Está
escrito ...” para desviar Jesus do caminho. Com isso o Mal corrói os fundamentos
da relação com Deus. Colocar Deus à prova, incutir no ser humano a dúvida quanto à
fidelidade do Senhor, fazer o homem desejar ter provas da existência e da bondade
do Pai. Jesus se mantêm firme em toda e qualquer situação, inclusive no momento final
da grande provação, a da agonia no horto e crucifixão. Somos tentados cotidianamente
e o seremos também no final de nossa vida, como foi o Mestre.
A segunda leitura
nos alenta diante desses espinhos diários, Diz-nos o Apóstolo: “Se, pois, com tua
boca confessares Jesus como Senhor e, no teu coração, creres que Deus o ressuscitou
dos mortos, serás salvo!” As obras só têm valor em virtude da união com Cristo. É
ele quem dá a dimensão transformadora dos bens materiais em espirituais.
Nossa
relação com Deus é expressada em relacionamentos fraternos com os homens e no bom
uso dos bens materiais. Se formos livres, já ressuscitados, a maturidade espiritual
falará mais alto, mas se formos imaturos, escravos de nossos desejos, o egocentrismo
ditará nossas escolhas.
Que esta quaresma , tempo de conversão, seja uma caminhada
feliz, alegre que purifique e intensifique nosso relacionamento com Deus! (CAS)