Forum de Bamako: África precisa de investir na agricultura para conseguir auto-suficiência
alimentar
(19/2/2010) A 50 anos da independência de numerosos países do continente africano,
o debate sobre a fome e a segurança alimentar representa o tema central do X Forum
de Bamako, iniciativa promovida pelo Instituto de Estudos Superiores do Mali, em que
participam mais de 500 pessoas: intelectuais, investigadores, expoentes governamentais
e instituições internacionais. Como sublinharam numerosos conferencistas, os dados
são alarmantes: segundo a Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura, mais
de um bilião de pessoas em todo o mundo sofrem de malnutrição; destas, mais de um
quarto são africanos. Se há 50 anos atrás, a África era um grande exportador de produtos
agrícolas, hoje o continente é constrangido a importar cerca de um terço das próprias
necessidades alimentares. Contudo, como recorda Martin Ziguelé, ex-primeiro ministro
da República Centro Africana, a importação de alimentos não resolve o problema e não
impede o verificar-se de desordens, como aconteceu na Costa do Marfim, Senegal e Camarões.
“Desordens que todos recordamos – sublinhou Ziguelé – e que não podemos excluir se
repitam também este ano, após uma crise que afectou todo o planeta: o objectivo deve
ser, portanto, a auto-suficiência alimentar da África”.
Um objectivo que,
segundo Baba Dioum, coordenador da Conferência dos ministros da Agricultura da África
Ocidental e Central, não é uma utopia, mas representa uma alternativa válida ao modelo
industrial e produtivista imposto à agricultura pela Organização Mundial do Comércio.
“Se segurança alimentar significa preocupar-se com a cobertura quantitativa das necessidades
da população (observou Dioum), auto-suficiência alimentar quer dizer conceder mais
importância às condições sociais e ambientais da produção agrícola, sem ceder à lógica
económica e liberista”. Um desafio – este da auto-suficiência alimentar e da
autonomia dos cidadãos – que “deve servir como base para um novo pacto social fundado
na solidariedade e na justiça” – considerou Abdoulah Coulibaly, vice-presidente do
Forum.