Belo Horizonte, 19 fev (RV) - Pelo terceiro ano, 2000, 2005 e agora em 2010,
a Campanha da Fraternidade Ecumênica é promovida em conjunto pelas Igrejas que fazem
parte do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC): Igreja Católica
Apostólica Romana, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão
Luterana no Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Sirian Ortodoxa
de Antioquia. Os cristãos todos têm a insubstituível tarefa de testemunhar a fraternidade
e trabalhar, incansavelmente, pela justiça e pela paz.
Essa convocação deve
ecoar e ser acolhida, fazendo valer, mais do que as diferenças, a unidade em torno
da recomendação de Jesus Mestre: “Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos,
se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). O que é próprio do discípulo, o amor fraterno,
com consequente empenho pela paz e pela justiça, é o selo de sua qualidade e de sua
autenticidade. Essa é a razão fundamental para que a Campanha da Fraternidade Ecumênica
2010 tenha em sua questão central “como a fé cristã pode inspirar uma economia que
seja dirigida para a satisfação das necessidades humanas e para a construção do Bem
Comum?”
É incontestável que o balizamento moral de que a economia precisa
está, de modo abundante e fundamentado, nas propostas e princípios da fé cristã. Esta
é sustentáculo da cultura da sociedade brasileira, e precisa ser levada em conta de
modo sério para ajudar a superar os desafios e equívocos que cotidianamente ocorrem
em nossa sociedade. A fé cristã, alimentando um processo de permanente conversão pessoal
na “pertença” eclesial e confessional, tem força e tarefa de impulsionar a mudança
estrutural para que a economia esteja a serviço da vida.
Economia e Vida, tema
da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010, baliza um empenho missionário que deve
congregar todos os que creem em Cristo, iluminando suas responsabilidades cidadãs
em prol da justiça social e da implantação urgente de correções morais e práticas
para uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.
A Campanha da Fraternidade,
promovida durante o Tempo da Quaresma, tradição quase cinquentenária na prática da
Igreja Católica, busca a construção de novas relações sustentadas nos princípios da
justiça e ancoradas na denúncia de ameaças e violações da dignidade humana e dos direitos
de toda pessoa. Só a fraternidade e a solidariedade têm força própria para edificar
a sociedade como família, em paz, harmonia e segurança. A iluminação, que só o Evangelho
de Jesus Cristo traz, convida todos os homens e mulheres a se voltarem para a valorização
da pessoa, o cuidado da natureza e os direitos dos seres humanos.
O que se
quer, portanto, como objetivo geral da Campanha da Fraternidade Ecumênica é “colaborar
na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura e
da paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade,
para que todos contribuam na construção do bem comum em uma sociedade sem exclusão”.
Isso se fará concretamente com o crescimento da sensibilização indispensável na valorização
de cada pessoa, na superação do consumismo, na criação de laços que sedimentem uma
convivência mais próxima, superando os individualismos inócuos, fomentando a prática
da justiça e convencendo a todos a respeito das responsabilidades de cada um diante
dos problemas decorrentes da vida econômica.
A Campanha da Fraternidade Ecumênica
traz o foco para o complexo tema da economia para iluminá-lo com a luz do Evangelho,
ajudando a compreendê-lo com intuições criativas que possibilitem a superação da lógica
econômica vigente, geradora de exclusões. Essa luz tem elementos inigualáveis para
alavancar o processo de superação do quadro, ainda tão vergonhoso, da exclusão social
que configura os cenários das sociedades contemporâneas. Ao pensar Economia e a
Vida com a iluminação do dizer orientador e educativo de Jesus aos seus discípulos,
no clássico Sermão da Montanha, “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24),
toca-se em aspectos e temáticas que têm a ver com o cotidiano de todos. A moldura
dessa proposta convocatória é o caminho penitencial do tempo da Quaresma, iniciado
na Quarta-feira de Cinzas e que se estende até a celebração da Páscoa.
O tempo
da Quaresma, quarenta dias, é uma pedagogia de Deus na vivência da fé para iluminar
a vida de todos, tocando os recônditos da consciência moral de cada um - chama que
apagada compromete tudo - para alavancar uma conduta marcada por princípios éticos
e morais com força de sustentação, equilíbrio, correção e conquistas. Tudo começa
e se mantém com a escuta do profeta Joel 2,13: “Voltai para o Senhor, vosso Deus”
e pela convocação do apóstolo Paulo: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (II Cor 5,20).
Dom
Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte