Bispos portugueses traçam itinerário quaresmalatento às circunstâncias da
Igreja e da sociedade.
(17/2/2010) Os Bispos das várias Dioceses portuguesas apresentam por estes dias as
suas mensagens para a Quaresma, procurando traçar um itinerário de vida, atento às
circunstâncias da Igreja e da sociedade. D. José Policarpo escreve, por exemplo,
que para se conseguir uma “verdadeira justiça” não “basta mudar as leis, corrigir
desequilíbrios sociais”. Num texto que retoma o tema escolhido pelo Papa para este
tempo de preparação para a Páscoa, o Cardeal-Patriarca coloca a “grande causa das
injustiças da sociedade” no “coração dos homens”. Já D. Jorge Ortiga, Arcebispo
de Braga e presidente da Conferência Episcopal, indica que o tempo de preparação para
a Páscoa deve ajudar a construir “um mundo onde cada um tenha o que é ‘seu’, acabando
com injustiças escandalosas”. “Para entender esta dinâmica, importa abrir-se a tempos
fortes de acolhimento da Palavra para que esta desmonte as nossas estruturas egoístas
e nos projecte na responsabilidade duma sociedade mais justa”, acrescenta. O Bispo
de Beja, D. António Vitalino, afirmou que “vivemos num tempo de barulho, de palavreado,
de demagogia, de processos infindáveis, em que os sofismas das palavras procuram escamotear
e ocultar os factos, criando realidades virtuais contra as vítimas reais”. Para este
responsável, “precisamos de escutar os outros, sobretudo as vítimas, os que sofrem,
as crianças e mães maltratadas, os pais de família desempregados, as vítimas do tráfico
laboral, sexual e de órgãos”. D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu, convidou os fiéis
da sua Diocese a deixar-se “tocar pelos mais pobres” durante a Quaresma, lembrando
os que “vivem abaixo do mínimo de dignidade, justa e necessária, a todo o ser humano”.
A mensagem do Bispo das Forças Armadas e de Segurança aponta o dedo a “problemas
da maior gravidade do ponto de vista económico-social” no nosso mundo “nacional e
internacional”. “Coincidente com a Caminhada da Quaresma, o drama do Haiti, a decisão
de se instituir o ano de 2010 como Ano Europeu de combate à pobreza e à exclusão social
e as dificuldades no âmbito do desemprego em Portugal, são apelos em ordem a minorar
privações e dramas, não desconhecendo que um grande número de pessoas sofredoras se
escondem na vergonha de nada possuírem”, indica D. Januário Torgal Ferreira. D.
Gilberto Reis, Bispo de Setúbal, considera que a Quaresma de 2010, Ano Europeu de
luta contra a pobreza e a exclusão social, deve ser marcada pelo “desejo de contribuir
para uma sociedade mais justa”. O Arcebispo de Évora, D. José Alves, indica que
“aqueles e aquelas que acolheram no coração a mensagem evangélica e a tomam como norma
de vida, estão cientes da necessidade da conversão e reconhecem na partilha dos dons
recebidos da mão de Deus um meio eficaz para a alcançar”. D. Manuel Clemente,
Bispo do Porto, divulgou através do YouTube a sua mensagem de Quaresma, indicando
que este tempo tem uma “motivação acrescida pelas próprias circunstâncias da Igreja
e do mundo”, onde tantos homens e mulheres “vivem e lutam”. Nos vários destinos
escolhidos para a partilha a que os Bispos convidam os seus fiéis, destaca-se este
ano a preocupação com a população haitiana. Até ao momento, são já oito as Dioceses
portuguesas que decidiram enviar parte ou mesmo a totalidade das renúncias quaresmais
para este país: Algarve, Beja, Braga, Lamego, Leiria-Fátima, Santarém, Viana e Viseu. A
renúncia quaresmal é uma prática habitual na Igreja Católica durante o período que
serve de preparação para a Páscoa. Os fiéis são chamados a abdicar de alguns dos seus
bens em favor das populações mais desfavorecidas e a entregar esse montante à sua
Diocese, que o encaminha para um projecto à sua escolha.