Belém, 09 fev (RV) - Altamira, no Pará, é o maior município do Brasil e do
mundo em extensão territorial. Tem uma área de 161.584,9 km². Se Altamira fosse um
país seria o 91º mais extenso do mundo, maior que a Grécia e o Nepal. Mas tudo isso
poderá sumir do mapa em pouco tempo para ceder lugar a uma usina hidrelétrica – a
de Belo Monte, no rio Xingu. Na semana passada, o Instituto Nacional do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) expediu licença prévia para a construção
da gigantesca obra.
O alerta é do bispo prelado da Prelazia Territorial do
Xingu, Dom Erwin Kräutler, presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI),
durante um encontro recente com a direção do IBAMA. O prelado e as populações da área,
particularmente os índios, são contrários à construção da Usina Hidrelétrica de Belo
Monte.
A população atual de Altamira é de pouco mais de 110 mil habitantes.
Situado a 740km de Belém (capital do Pará), Altamira tem seu vasto território cortado
de norte a sul pelo rio Xingu.
Segundo Dom Kräutler, os habitantes de Altamira
– os índios, a população ribeirinha – assim como o Parque Indígena do Xingu serão
prejudicados com a obra. "Não acredito que seja possível combinar, de um lado, a destruição
de significativa parte do rio Xingu, e de outro, o povo de Altamira e a construção
dessa hidrelétrica" – disse o bispo.
Na opinião do bispo, a obra da Usina
de Belo Monte propiciará um grande fluxo migratório para a região. Tal situação causará
enormes danos àquela área, "uma vez que – argumenta – os municípios da região do Xingu
não estão preparados para suportar um aumento populacional de tais dimensões".
Dom
Erwin Kräutler conta que algumas cidades já começaram a sofrer com o fenômeno. É o
caso, segundo ele, da cidade de Anapu, que está recebendo várias famílias, atraídas
pela perspectivas de empregos com a construção da hidrelétrica.
O bispo anunciou
que o CIMI entrará com uma ação, nos próximos dias, questionando a licença prévia
expedida pelo IBAMA. Na prática, a licença é a sinalização de que a obra poderá ser
construída como deseja o governo federal. "Há coisas na licença – diz Dom Erwin Kräutler
– que não aceitamos e, por isso, vamos utilizar os canais legais da Constituição,
entre os quais o Ministério Público, para questionar aquilo com que não concordamos."
O IBAMA expediu a licença, mas estabeleceu algumas condições, entre as quais
questões relacionadas à qualidade da água, preservação da fauna e da flora, saneamento
básico, compensações sociais e recuperação de áreas já degradadas. A Usina de Belo
Monte terá capacidade instalada de 11.233 MegaWatts, e contará com dois reservatórios
numa área total de 516Km2.
O presidente do IBAMA, Roberto Messias,
garantiu que manterá um diálogo permanente com as comunidades que serão afetadas pela
construção da hidrelétrica, mas também deixou evidente que, mesmo com a pressão, o
governo Lula não recuará na construção da obra. (AF)