CHINA: INAUGURADA PRIMEIRA GRANDE EXPOSIÇÃO SOBRE UM MISSIONÁRIO CATÓLICO
Pequim, 06 fev (RV) - A primeira grande exposição organizada na China sobre
a vida de um missionário católico ocidental – o jesuíta italiano Pe. Matteo Ricci
(1552-1610) – foi inaugurada em Pequim, nesta sábado, com o título "Um encontro de
civilizações."
"Ter-se conseguido fazer esta exposição é, por si só, muito
importante. É a primeira vez que os chineses fazem uma exposição sobre um religioso"
– revelou o curador da exposição, Filippo Magnini, acrescentando: "Mas não foi fácil!"
Pe.
Ricci foi o primeiro missionário europeu autorizado a estabelecer-se em Pequim, em
1601, e é – juntamente com Marco Pólo – o italiano mais conhecido na China.
Profundo
conhecedor da língua e da cultura chinesas, Pe. Matteo Ricci (Li Madou, em chinês)
viveu quase metade de sua vida na China e foi sepultado em Pequim com as honras devidas
a um mandarim.
"Para os chineses, ele é uma figura de sua história e, durante
a organização da exposição – um projeto que demorou dois anos – pediram -nos para
não realçar os aspetos religiosos" - contou também Filippo Magnini.
A exposição,
intitulada "Matteo Ricci: Um encontro de civilizações na China Ming", reúne cerca
de duzentas peças de museus chineses e italianos, entre as quais "algumas obras-primas"
do Renascimento.
Em chinês, o título da exposição é "Intercâmbio cultural,
científico e tecnológico entre o Ocidente e a China, no final da dinastia Ming". "Política
e ideologicamente, esses são temas ainda muito sensíveis" – comentou Filippo Mignini.
A
exposição estará aberta até o dia 20 de março próximo, no novo Museu da Capital, seguindo
depois para Xangai, Nanjing (Nanquim) e Macau.
Pe. Matteo Ricci está sepultado
no antigo cemitério de Zhalan, na zona ocidental de Pequim, onde se encontram também
os túmulos de 62 outros missionários estrangeiros, entre os quais 14 portugueses.
Como era frequente nos séculos XVI e XVII, Pe. Ricci viajou para o Extremo
Oriente a partir de Portugal e entrou na China através de Macau.
Até há poucos
anos, os missionários ocidentais eram descritos como "agentes do colonialismo" e,
oficialmente, a China continua a defender o ateísmo.
Mas ao contrário da ex-União
Soviética, a China já não encara a religião como "ópio do povo", indicou no mês passado
o novo diretor da Administração Estatal para os Assuntos Religiosos, Wang Zuoan.
"A
ex-União Soviética e as nações do (extinto) Pacto de Varsóvia não conseguiram lidar
bem com as questões religiosas. Isso foi uma profunda lição para a China (...) O governo
chinês encoraja a religião a adaptar-se à sociedade socialista e atribui um papel
mais positivo à religião" - acrescentou Wang Zuoan.
O número oficial de cristãos
na China é de cerca de 20 milhões de fieis, dois terços dos quais protestantes, mas
segundo estimativas ocidentais, seram cerca de 50 milhões, o que significa 3,7% da
população do país. (AF)