Presença e unidade dos Católicos na sociedade britânica e o exemplo do cardeal Newman
para todos os padres: aspectos recordados pelo Papa aos Bispos da Inglaterra e País
de Gales
(1/2/2010) No Ano Sacerdotal em curso, a figura do cardeal Newman, que o Papa beatificará
em Setembro próximo, constitui para todos os padres “exemplo de dedicação à oração,
de sensibilidade pastoral para com as necessidades dos seus fiéis, e de paixão pela
pregação do Evangelho”. Sublinhou-o Bento XVI, ao receber em audiência, no Vaticano,
os Bispos da Inglaterra e País de Gales, na conclusão da respectiva visita “ad limina
Apostolorum”. Uma deslocação que, como observou o Papa, contribui para “reforçar os
elos de comunhão entre a comunidade católica do país e a Sé Apostólica, uma comunhão
que desde há séculos mantém a fé do seu povo e que hoje em dia assegura energias vivas
para a renovação e para a evangelização”.
O Papa congratulou-se com os “muitos
sinais de fé viva e de devoção” que se podem encontrar nos católicos de Inglaterra
e País de Gales, “não obstante as pressões de uma época secularista”. Aludindo a sua
futura visita apostólica à Grã Bretanha, Bento XVI considerou que será uma ocasião
para ele próprio poder testemunhar esta fé e de, como Sucessor de Pedro, a fortalecer
e confirmar.
Observando que este país é “bem conhecido pelo seu firme empenho
pela igualdade de oportunidades para todos os membros da sociedade”, o Papa deplorou
“o efeito de certa legislação que pretendia visar esse objectivo acabou por impor
injustas limitações à liberdade de as comunidades religiosas agirem de acordo com
as suas convicções. Sob certos aspectos, (esta legislação) na realidade viola a lei
natural sobre a qual se apoia a igualdade dos seres humanos e pela qual esta se encontra
garantida”. “Peço-vos insistentemente que, como Pastores, façais com que o ensinamento
moral da Igreja seja sempre apresentado na sua inteireza e convictamente defendido.
A fidelidade ao Evangelho de modo algum limita a liberdade dos outros, pelo contrário,
está ao serviço da sua liberdade oferecendo-lhes a verdade. Continuai a insistir sobre
o direito a participar no debate nacional sobre um diálogo respeitoso com outros elementos
da sociedade”.
O Papa observou que, com esta atitude, os Bispos não estarão
apenas a “manter as longas tradições britânicas de liberdade de expressão e de franco
intercâmbio de opiniões”. Trata-se de “dar também voz às convicções de muitas pessoas
que perderam os meios para as exprimir”. Quando tantas cidadãos se declaram cristãos,
como é que se pode discutir o direito do Evangelho a ser ouvido? - interrogou-se o
Papa. Em todo o caso, “para que a mensagem salvadora de Cristo possa ser apresentada
de modo efectivo e convincente, na sua totalidade, é preciso que a Comunidade Católica
do país fale com a unidade de uma mesma voz” – advertiu Bento XVI.
“Isso exige
que não só vós, Bispos, mas também os padres, professores, catequistas, escritores
– isto é, todos os que se encontram empenhados na tarefa de comunicar o Evangelho
– estejam atentos às chamadas do Espírito, que guia toda a Igreja à verdade, congrega
na unidade e inspira o seu zelo missionário”.
“Num meio social que encoraja
a expressão da variedade de opiniões sobre toda e qualquer questão, é importante reconhecer
o dissentimento como aquilo que é, sem o confundir com um contributo maduro para um
debate amplo e equilibrado. É a verdade revelada através da Escritura e da Tradição
e formulada pelo magistério da Igreja que nos torna livres”.
“Bem o compreendeu
o cardeal Newman, que nos deixou um claro exemplo de plena adesão da fé à verdade
revelada, seguindo aquela terna luz aonde quer que nos conduza, mesmo se isso
representar um sério custo pessoal. Na Igreja são hoje necessários escritores
e comunicadores com a sua estatura e integridade. Tenho esperanças de que a devoção
a ele possa inspirar muitos a seguirem as suas pegadas”.
Aliás, sublinhou
o Papa, o cardeal Newman sempre se viu a si próprio sobretudo e antes de mais como
padre.
“Neste Ano Sacerdotal, encorajo-vos vivamente a propordes aos vossos
padres este exemplo de dedicação à oração, de sensibilidade pastoral para com os seus
fiéis e de paixão pela pregação do Evangelho. Um exemplo que vós próprios tendes o
dever de dar”.
Sendo “insubstituível o papel do padre na vida da Igreja”,
Bento XVI pediu aos bispos britânicos que não poupem esforços para encorajar as vocações
sacerdotais e para recordar aos leigos o sentido e a necessidade do sacerdócio (ministerial),
ajudando-os a “evitar a tentação de encarar o clero como meros funcionários”.
A
concluir, o Santo Padre lembrou ainda aos Bispos da Inglaterra e do País de Gales
a grande importância que ali assume o diálogo ecuménico e inter-religioso e exortou-os
a serem “generosos na aplicação das medidas da Constituição Apostólica Anglicanorum
Coetibus, prestando “assistência àqueles grupos de Anglicanos que querem entrar na
plena comunhão da Igreja Católica. “Tenho a convicção – declarou Bento XVI – que,
“se forem acolhidos de modo cordial e caloroso, esses grupos constituirão uma bênção
para a Igreja inteira”