Rio de Janeiro, 28 jan (RV) - Enquanto em nosso país discute-se se todos têm
o direito humano à utilização por todos dos meios de comunicação e à liberdade de
informação devido a algumas tentativas de exclusão, imposições e censuras – e temos
exemplos próximos de nós dessa nova maneira de conceber a democracia –, a Igreja prepara-se
para celebrar mais um Dia Mundial das Comunicações. Este foi o único “dia” criado
pelo documento do Concílio, que foi um dos dois primeiros a serem aprovados – o da
Comunicação!
Neste Ano Sacerdotal, o Santo Padre dirige-se diretamente aos
sacerdotes, mas a mensagem é válida para toda a Igreja, principalmente neste tempo
de tanta comunicação.
A mensagem do Papa Bento XVI para o 44° Dia Mundial das
Comunicações, a ser celebrado no domingo, dia 16 de maio, que no Brasil coincide com
o Dia da Ascensão do Senhor, trata da evangelização no mundo digital. O tema para
este ano, no contexto do Ano Sacerdotal, figura assim: “O sacerdote e a pastoral no
mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra”. Esta mensagem mostra intensamente
a solicitude papal de pastor empenhado em prol da difusão da mensagem do Evangelho.
O apelo que faz aos sacerdotes de toda a Igreja revela como o seu coração arde de
amor pela causa da difusão da Boa-Nova de Jesus Cristo. Ele tem profunda consciência
de que o encontro do homem de hoje com Jesus é, como sempre foi, um evento de primeira
importância. Por isso, não mede esforços para promover, como pastor universal da Igreja,
a amizade verdadeira com Cristo, amizade decisiva, capaz de imprimir à vida uma nova
direção e um colorido novo. O ardor do coração missionário do Papa quer atingir os
corações dos sacerdotes e dos fiéis de toda a Igreja. O Evangelho deve ser comunicado!
A Palavra deve ser anunciada! Os sacramentos da salvação devem ser administrados!
O serviço da caridade jamais pode cessar! Na verdade, a Igreja existe para Deus e
para abrir aos homens acesso a Deus, promovendo a fraternidade entre os membros da
família humana, que deve tornar-se, cada vez mais, família de Deus. Assim, a comunicação
não pode faltar!
Bento XVI pede aos sacerdotes que lancem mão dos meios modernos
de comunicação, principalmente daqueles que nos últimos anos conheceram uma larga
difusão, como a internet, a fim de que a mensagem de Jesus Cristo possa difundir-se
de modo eficaz no mundo contemporâneo. Os homens, que cada vez mais se valem dos novos
meios de comunicação, devem ouvir, através deles, também o anúncio de Deus e do seu
Filho amado, nosso Redentor. Disse o Papa com muito acerto e com a visão de um pastor
que quer sempre acompanhar de perto as ovelhas que Cristo lhe confiou: “Também no
mundo digital deve ficar patente que a amorosa atenção de Deus em Cristo por nós não
é algo do passado nem uma teoria erudita, mas uma realidade absolutamente concreta
e atual. De fato, a pastoral no mundo digital há de conseguir mostrar, aos homens
do nosso tempo e à humanidade desorientada de hoje, que ‘Deus está próximo, que, em
Cristo, somos todos parte uns dos outros’”. E lança a pergunta, que é um desafio para
os sacerdotes: “Quem melhor do que um homem de Deus poderá desenvolver e pôr em prática,
mediante as próprias competências no âmbito dos novos meios digitais, uma pastoral
que torne Deus vivo e atual na realidade de hoje e apresente a sabedoria religiosa
do passado como riqueza donde haurir para se viver dignamente o tempo presente e construir
adequada mente o futuro?”
Muitas vezes a difusão de mentiras e calúnias são
tão difundidas que parecem tornar-se verdadeiras, e nós não estamos presentes no meio
digital para dar a alternativa da verdade, restaurando-a ou anunciando-a. O grande
segredo de toda comunicação católica é a pessoa que está por trás do teclado, da câmera,
do microfone, da direção – se tiver princípios cristãos todo o trabalho será de utilidade
para a vida humana com dignidade.
A Igreja, com seus sacerdotes, deve levar
a sério as palavras do Santo Padre. O êxito de sua missão evangelizadora depende,
em parte, de seu empenho efetivo no campo dos modernos meios de comunicação, este
vasto horizonte missionário que nos foi aberto. É certo, porém, e os sacerdotes estão
conscientes disto, que o anúncio através dos novos media não substitui, de maneira
alguma, o contato pessoal e a vida comunitária do Povo de Deus. Aliás, todo anúncio
da fé deve reforçar concretamente os laços que nos unem a Cristo e entre nós, tornando
autêntica a nossa vida comunitária, e benfazeja a nossa presença amiga entre os irmãos.
Os sacramentos da nossa fé, que significam e comunicam eficazmente a graça da Redenção,
só podem acontecer no âmbito bem concreto da vida comunitária da Igreja. E o serviço
da caridade, do qual a Igreja jamais descuida, não pode renunciar ao contato vivo
com o irmão. Desse modo, o empenho do sacerdote no anúncio do Evangelho através dos
novos recursos e meios de comunicação que o mundo atual nos disponibiliza deve contribuir
para promover e reforçar os laços da união dos homens com Deus e da unidade dos homens
entre si.
No texto da mensagem, o Santo Padre fala da “diaconia da cultura”
que a Igreja é chamada a exercer. Com efeito, a cultura é o espaço onde o homem acontece.
O homem gera a cultura, mas também é gerado por ela. A cultura, assim, pode ajudar
o homem a desenvolver suas ricas potencialidades, mas também pode impor-lhe graves
limitações. Prestar um serviço à cultura, no sentido de torná-la mais humanizada e
humanizante, é dever de todos nós. E a Igreja sabe que o autêntico humanismo não coloca
Deus entre parênteses. Sem Deus nenhum humanismo é verdadeiramente tal. A cultura
precisa de Deus, porque o homem tem sede de Deus. Como ser naturalmente religioso,
o homem só encontra o sentido último de sua existência tendo como referência fundamental
o relacionamento com Deus. Santo Agostinho, grande conhecedor da condição humana,
o exprimiu através de palavras que se tornaram célebres: “Fizestes-nos, Senhor, para
vós, e nosso coração estará inquieto enquanto não repousar em vós” (Confissões I,
1).
Assim, presta-se grandíssimo serviço à cultura quando a Igreja anuncia
a Palavra de Deus, do Deus cheio de poder e de bondade que se manifestou em Jesus
Cristo. Os sacerdotes, valendo-se da nova “ágora” dos tempos atuais, os novos media,
contribuirão de modo decisivo para o incremento da cultura e o engrandecimento do
homem de hoje. Até mesmo aqueles para os quais o Deus que nos fala em Jesus é ainda
um desconhecido poderão ser atingidos, conforme as palavras do Papa: “Do mesmo modo
que o profeta Isaías chegou a imaginar uma casa de oração para todos os povos (cf.
Is 56,7), não se poderá porventura prever que a internet possa dar espaço – como o
‘pátio dos gentios’ – do Templo de Jerusalém também àqueles para quem Deus é ainda
um desconhecido?” Os novos meios de comunicação constituem, na verdade, como bem disse
Bento XVI, um “continente digital”, um amplo continente que está a reclamar a presença
do anúncio salvífico. Avancemos para as águas mais profundas!
+ Orani
João Tempesta, O. Cist. Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro,
RJ (CM)