Cidade do Vaticano, 24 jan (RV) - Reflexão para o 3º Domingo do Tempo Comum
– C
O Livro de Neemias nos dá um relato do que poderíamos chamar a “primeira
celebração da Palavra”. Ela foi realizada quando se percebeu a desordem que havia
no meio do povo, onde cada um fazia o que desejava. Por ignorância, não se praticava
a Lei e o caos imperava. Esdras, doutor da Lei mosaica, foi enviado por Artaxerxes,
rei persa, a Jerusalém, para colocar ordem na cidade.
Ele preparou o povo
e esperou o primeiro dia do novo ano para fazer uma solene celebração litúrgica, com
todas as pessoas capazes de compreender.
Os convocados compareceram, com absoluta
boa vontade e sabiam que a solenidade duraria muitas horas, e na verdade era o Senhor
quem os convocava.
Esdras, consciente de que o momento era emblemático, usou
de sua sensibilidade para demonstrar ao povo a grandeza do momento: mandou erguer
um estrado de madeira, em um lugar visível a todos, e nele criou um ponto elevado
para ser o local da tribuna, onde seria proclamada a Lei do Senhor. Era necessário
que todos o vissem e ouvissem quando fosse abrir o livro e fazer sua leitura.
Quando
isso aconteceu, o povo todo ficou de pé e o ouvia com atenção. Esdras explicava seu
sentido para que o povo pudesse compreender a leitura. Ao final da proclamação o povo
disse “Amém! Amém! e se prostrou por terra. Era o Senhor que falava através de Esdras
e a prostração foi o sinal de que todos estavam conscientes disso. O povo, conhecedor
de suas próprias falhas, chorava, contudo Esdras chamava-lhes a atenção para o aspecto
da amizade de Deus; ela é mais importante que tudo, daí não chorar, mas festejar.
Mais ainda, a alegria do Senhor é e será a força do povo. Por outro lado, sentir-se
pecador, deve ser celebrado com alegria, pois ter essa consciência é um dom de Deus!
São
Lucas, logo no início de seu Evangelho, escreveu: “...história dos acontecimentos
que se realizaram entre nós, como nos foram transmitidos por aqueles ministros da
palavra”. O evangelista nos diz que o que vai narrar não é uma fábula, mas aconteceu
realmente e nos foi transmitido pelos servidores de Jesus Cristo, o personagem central
de seus relatos.
Para mostrar a todos a excelência de Jesus dentro da tradição
dos profetas, Lucas recorda o dia em que o Mestre, com trinta anos de idade, foi à
sinagoga e o presidente dela convidou-o a fazer a segunda leitura do dia. Jesus abriu
o rolo que continha os escritos que falavam sobre sua vinda, mas indecifráveis até
então. Escolheu o texto do profeta Isaías que diz: “O Espírito do Senhor está sobre
mim e...enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres”. Ao enrolar o volume e entregá-lo
ao assistente, Jesus diz, com esse gesto, que todos os escritos do Antigo Testamento
acabaram, naquele instante, de cumprir sua missão: conduzir as pessoas até ele. Por
isso podem ser enrolados e guardados.
Nesse exato momento, todos os olhos estão
voltados para ele. Todos desejam ouvir o que o Mestre irá dizer. Começaram os novos
tempos!
Se hoje continuamos a ler textos do Antigo Testamento, os lemos antes
dos do Novo, pois eles são indispensáveis para nossa preparação à acolhida de Jesus
Cristo.
A partir da homilia de Jesus, após as leituras bíblicas, sabemos que
ela deverá estar dentro da realidade das pessoas e sempre ser mensagem de alegria,
de esperança em Deus.