Juiz de Fora, 24 jan (RV) - A língua portuguesa tem origem no Latim, que era
a língua falada na região do Lácio que hoje é a Itália. Os romanos levaram sua língua
para a região de Portugal, nascendo ali o Português, que foi trazido para o Brasil
pelos nossos colonizadores. Assim, a palavra latina "virtus" originou em Português
a palavra "virtude", que significa um conjunto de qualidades próprias do homem. O
homem nasceu para fazer o bem. Do Gênesis, primeiro livro da Bíblia, e que fala do
começo do mundo, extraímos a fala de Deus: "Façamos o homem a nossa imagem e semelhança".
Somos imagem e semelhança de Deus, portanto, nascemos para cuidar bem das coisas que
Deus criou para nós e também para viver bem, uns com os outros. Nascemos para cultivar
e praticar a virtude, que é a boa vontade de sempre fazer o bem. As virtudes podem
ser HUMANAS e TEOLOGAIS. Nós cultivamos e usamos as virtudes humanas para conviver
bem com as outras pessoas, no meio da nossa família, na nossa comunidade e no mundo,
enfim. Também devemos cultivar as virtudes teologais no nosso relacionamento com Deus. Quando
recebemos o sacramento do Batismo é infundida em nós a graça santificante, que nos
torna capazes de nos relacionar com a Santíssima Trindade e nos orienta na maneira
cristã de agir. O Espírito Santo se torna presente em nós, fundamentando as virtudes
teologais, que são três: FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE. I - PRIMEIRA VIRTUDE: A FÉ. Cultivando
a fé, acreditamos no Deus Criador, que é o Pai, no Deus Salvador, que é Jesus Cristo
e no Deus Santificador, que é o Espírito Santo. Cultivando a fé, compreendemos que
Deus é uno e trino e que tudo isto nos foi revelado nas Sagradas Escrituras. Cremos,
então, que Deus é a verdade. No dia-a-dia, nós usamos muito a fé. Temos fé nas
pessoas, às vezes até em pessoas em quem não sabemos se podemos confiar. Por exemplo:
ninguém pode ser testemunha do seu próprio nascimento, mas a fé que nós cremos nos
pais ou no cartório que fez o registro nos faz acreditar na data e no local do nosso
nascimento. Do mesmo modo, quando entramos em um ônibus ou em um avião, acreditamos
que o motorista ou o piloto são habilitados para transportar-nos e nós nem os conhecemos,
mas acreditamos. E Deus, que criou todas as coisas e nos deu a faculdade de pensar,
de raciocinar, de acreditar? Temos muito mais motivos para acreditar n'Ele, para confiar
n'Ele, para nos abandonar livremente em suas mãos. A fé que devemos cultivar em
relação a Deus é muito mais segura do que a fé que naturalmente temos nas pessoas.
Assim, pela fé, cremos em Deus e em tudo o que Ele nos revelou. Ele se revela sempre
a nós. Primeiro pelos Profetas, depois, através de seu Filho, que é a sua Palavra.
Ele se revela também através do testemunho dos Apóstolos. E, constantemente, através
dos acontecimentos da história da humanidade e da história de cada um de nós. A
criança tem uma fé sem limites na mãe, desde muito pequena, porque foi ela quem a
gerou, a amamentou, ensinou-lhe a andar e falar. E Deus, que preparou um mundo
maravilhoso para nós e nos colocou como centro desse mundo?... É forçoso que confiemos
n'Ele, com total confiança. Precisamos procurar conhecer a vontade do Pai e realizá-la
em nós, porque, como diz São Paulo em sua carta aos Gálatas (Gl 5,6), a fé age por
amor. Mas não basta que nós cultivemos a fé. Esta, quando verdadeira, exige ação.
Quando temos um amigo, não basta que gostemos dele. Devemos dar-lhe atenção, ajudá-lo
quando necessário e possível, e ajudar também as pessoas que ele ama. Se não for assim,
a amizade e a confiança não são verdadeiras. Com Deus, é do mesmo modo. De que
adianta a pessoa acreditar em Deus e não fazer nada para melhorar o mundo que Ele
criou com tanto amor? Madre Teresa de Calcutá dizia: "Eu sei que o meu trabalho é
como uma gota no oceano, mas, sem ele, o oceano seria menor". E São Tiago, em uma
carta, nos diz que "a fé sem obras é morta."(Tg 2,26) A fé nos leva, portanto,
a praticar a justiça em tudo que fazemos. II - SEGUNDA VIRTUDE: A ESPERANÇA. A
Esperança é a virtude que nos ajuda a desejar e esperar tempos melhores em nossa vida
aqui na terra e ter a certeza de que conquistaremos a vida eterna, que será a nossa
felicidade. Muitas vezes, passamos por momentos difíceis e achamos que nossa vida
não tem solução. O mundo hoje está muito violento e cheio de catástrofes. A cada dia,
assistimos na televisão e até bem perto de nós, cenas de maldade, agressões, violência.
E assistimos também a tragédias provocadas por desastres da natureza. Precisamos
refletir sobre tudo o que está acontecendo, encontrar onde está a falha e buscar uma
solução. Sozinhos, não somos nada, mas, com Deus, tudo podemos. A esperança nos leva
a tentar vencer os obstáculos. Há poucos dias, um fato nos chamou a atenção. Houve
um tremor de terra no Haiti e 70% dos prédios da capital se desmoronou. Um repórter
conseguiu mostrar que, em meio à quase completa ruína de uma igreja católica, restou
intacta, a imagem do Cristo Crucificado. Tudo quebrado no chão e ela lá, em pé, fulgurante,
como a mostrar que Ele está presente junto ao povo sofrido. Esta cena é muito significativa.
Pode-se compreender muita mensagem de Deus para nós. Precisamos aprender a escutar
a voz do Pai. Cada um, no seu coração, vai interpretar, a seu modo, fatos como este,
tão significativos. No Antigo Testamento, a esposa de Abraão era estéril, mas o
Senhor lhe prometeu uma descendência mais numerosa do que as estrelas do céu e todo
o povo de Deus constitui a sua descendência, porque Sara, sua esposa, concebeu na
velhice e gerou seu filho Isaac. No Novo Testamento, o anjo do Senhor anunciou
à Virgem Maria que ela seria Mãe de um rei. E ela, de início sem compreender o que
anjo falara, se prontificou a cumprir a vontade do Pai. Sofreu muito, meditando tudo
no silêncio do seu coração. Esperou, esperou contra toda esperança e foi elevada aos
céus e coroada Rainha dos anjos e dos santos, Mãe de Deus e Mãe da humanidade. Seu
Filho não foi aquele rei rico em coisas materiais, como nós imaginamos, no nosso mundo
serem os reis. Mas Ele mesmo disse: "O meu reino não é deste mundo". E Ele é o rei
dos reis e ao som do seu nome se dobram todos os seres do céu, da terra e sob a terra.
Somos, por meio de Cristo, herdeiros da esperança de vida eterna. III - Terceira
Virtude: CARIDADE. A Caridade é amor. São palavras sinônimas. A Caridade não é
somente procurar uma moedinha no fundo da bolsa e jogá-la na latinha de quem pede.
A Caridade não é somente ofertar um prato de comida a quem tem fome. A Caridade não
é somente tirar do nosso guarda-roupa um vestido, uma blusa, um sapato ou qualquer
objeto que não usamos mais e dar a quem nada tem. A Caridade é amor. É conhecer a
dor da pessoa que vive perto de nós, quer seja na nossa família, na comunidade ou
mais distante. Conhecer a sua dor e procurar com ela resolver o seu problema. A
Caridade é dar um bom dia, é sorrir para uma criança indefesa, para um jovem, às vezes
desorientado, para um idoso que carrega seu fardo com dificuldade. A caridade,
o amor é a virtude perfeita. Neste mundo, precisamos ter fé, esperança e amor. Precisamos
ter fé e esperança porque aqui estamos caminhando nas trevas, isto é, acreditamos
em algo que não vemos com os nossos olhos humanos e limitados. Mas cremos na aurora
que dissipará essas trevas e, quando alcançarmos a vida eterna, a fé e a esperança
já não serão necessárias, porque já estaremos diante do Pai. Entretanto, o amor
permanece, porque Deus é amor e, se estamos diante d'Ele, também somos amor. Por
isto é que São Paulo, em sua Primeira carta aos coríntios, termina o capítulo 13 dizendo:
"Agora, portanto, permanecem três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas
é o amor". + Eurico dos Santos Veloso Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)