"O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos meios ao serviço da Palavra."Mensagem
do Papa para o Dia Mundial das comunicações sociais de 2010
(24/1/2010) Queridos Irmãos e Irmãs, O tema do próximo Dia Mundial das Comunicações
Sociais - "O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da
Palavra" - insere-se perfeitamente no trajecto do Ano Sacerdotal e traz à ribalta
a reflexão sobre um âmbito vasto e delicado da pastoral como é o da comunicação
e do mundo digital, que oferece ao sacerdote novas possibilidades para exercer
o seu serviço à Palavra e da Palavra. Os meios modernos de comunicação fazem parte,
desde há muito tempo, dos instrumentos ordinários através dos quais as comunidades
eclesiais se exprimem, entrando em contacto com o seu próprio território e estabelecendo,
muito frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes, mas a sua recente
e incisiva difusão e a sua notável influência tornam cada vez mais importante e
útil o seu uso no ministério sacerdotal. A tarefa primária do sacerdote é anunciar
Cristo, Palavra de Deus encarnada, e comunicar a multiforme graça divina portadora
de salvação mediante os sacramentos. Convocada pela Palavra, a Igreja coloca-se
como sinal e instrumento da comunhão que Deus realiza com o homem e que todo o
sacerdote é chamado a edificar n’Ele e com Ele. Aqui reside a altíssima dignidade
e beleza da missão sacerdotal, na qual se concretiza de modo privilegiado aquilo que
afirma o apóstolo Paulo: "Na verdade, a Escritura diz: "Todo aquele que acreditar
no Senhor não será confundido". [...] Portanto, todo aquele que invocar o nome
do Senhor será salvo. Mas como hão-de invocar Aquele em quem não acreditam? E como
hão-de acreditar n’Aquele de quem não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar,
se não houver quem lhes pregue? E como hão-de pregar, se não forem enviados?" (Rm
10,11.13-15). Hoje, para dar respostas adequadas a estas questões no âmbito das grandes
mudanças culturais, particularmente sentidas no mundo juvenil, tornaram-se um instrumento
útil as vias de comunicação abertas pelas conquistas tecnológicas. De facto, pondo
à nossa disposição meios que permitem uma capacidade de expressão praticamente
ilimitada, o mundo digital abre perspectivas e concretizações notáveis ao incitamento
paulino: "Ai de mim se não anunciar o Evangelho!" (1 Cor 9,16). Por conseguinte,
com a sua difusão, não só aumenta a responsabilidade do anúncio, mas esta torna-se
também mais premente reclamando um compromisso mais motivado e eficaz. A este respeito,
o sacerdote acaba por encontrarse como que no limiar de uma "história nova", porque
quanto mais intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais
ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais será chamado o sacerdote
a ocupar-se disso pastoralmente, multiplicando o seu empenho em colocar os media
ao serviço da Palavra. Contudo, a divulgação dos "multimédia" e o diversificado
"espectro de funções" da própria comunicação podem comportar o risco de uma
utilização determinada principalmente pela mera exigência de marcar presença e
de considerar erroneamente a internet apenas como um espaço a ser ocupado. Ora,
aos presbíteros é pedida a capacidade de estarem presentes no mundo digital em
constante fidelidade à mensagem evangélica, para desempenharem o próprio papel
de animadores de comunidades, que hoje se exprimem cada vez mais frequentemente
através das muitas "vozes" que surgem do mundo digital, e anunciar o Evangelho
recorrendo não só aos media tradicionais, mas também ao contributo da nova geração
de audiovisuais (fotografia, vídeo, animações, blogues, páginas internet) que
representam ocasiões inéditas de diálogo e meios úteis inclusive para a evangelização
e a catequese. Através dos meios modernos de comunicação, o sacerdote poderá dar
a conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a descobrirem o rosto de
Cristo, conjugando o uso oportuno e competente de tais meios - adquirido já no
período de formação - com uma sólida preparação teológica e uma espiritualidade sacerdotal
forte, alimentada pelo diálogo contínuo com o Senhor. No impacto com o mundo digital,
mais do que a mão do operador dos media, o presbítero deve fazer transparecer o
seu coração de consagrado, para dar uma alma não só ao seu serviço pastoral, mas também
ao fluxo comunicativo ininterrupto da "rede". Também no mundo digital deve ficar
patente que a amorosa atenção de Deus em Cristo por nós não é algo do passado nem
uma teoria erudita, mas uma realidade absolutamente concreta e actual. De facto,
a pastoral no mundo digital há-de conseguir mostrar, aos homens do nosso tempo
e à humanidade desorientada de hoje, que "Deus está próximo, que, em Cristo, somos
todos parte uns dos outros" [Bento XVI, Discurso à Cúria Romana na apresentação
dos votos de Natal: "L’Osservatore Romano" (21-22 de Dezembro de 2009) pág.
6]. Quem melhor do que um homem de Deus poderá desenvolver e pôr em prática,
mediante as próprias competências no âmbito dos novos meios digitais, uma pastoral
que torne Deus vivo e actual na realidade de hoje e apresente a sabedoria religiosa
do passado como riqueza donde haurir para se viver dignamente o tempo presente
e construir adequadamente o futuro? A tarefa de quem opera, como consagrado, nos
media é aplanar a estrada para novos encontros, assegurando sempre a qualidade
do contacto humano e a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades espirituais;
oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era "digital", os sinais necessários
para reconhecerem o Senhor; dandolhes a oportunidade de se educarem para a expectativa
e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento
humano integral. A Palavra poderá assim fazer-se ao largo no meio das numerosas
encruzilhadas criadas pelo denso emaranhado das auto-estradas que sulcam o ciberespaço
e afirmar o direito de cidadania de Deus em todas as épocas, a fim de que, através
das novas formas de comunicação, Ele possa passar pelas ruas das cidades e deter-se
no limiar das casas e dos corações, fazendo ouvir de novo a sua voz: "Eu estou
à porta e chamo. Se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua
casa, cearei com ele e ele comigo" (Ap 3, 20). Na Mensagem do ano passado para
idêntica ocasião, encorajei os responsáveis pelos processos de comunicação a promoverem
uma cultura que respeite a dignidade e o valor da pessoa humana. Este é um dos
caminhos onde a Igreja é chamada a exercer uma "diaconia da cultura" no actual
"continente digital". Com o Evangelho nas mãos e no coração, é preciso reafirmar
que é tempo também de continuar a preparar caminhos que conduzam à Palavra de Deus, não
descurando uma atenção particular por quem se encontra em condição de busca, mas
antes procurando mantê-la desperta como primeiro passo para a evangelização. Efectivamente,
uma pastoral no mundo digital é chamada a ter em conta também aqueles que não
acreditam, caíram no desânimo e cultivam no coração desejos de absoluto e de verdades
não caducas, dado que os novos meios permitem entrar em contacto com crentes de
todas as religiões, com não-crentes e pessoas de todas as culturas. Do mesmo modo que
o profeta Isaías chegou a imaginar uma casa de oração para todos os povos (cf.
Is 56,7), não se poderá porventura prever que a internet possa dar espaço - como
o "pátio dos gentios" do Templo de Jerusalém -também àqueles para quem Deus é ainda
um desconhecido? O desenvolvimento das novas tecnologias e, na sua dimensão global,
todo o mundo digital representam um grande recurso, tanto para a humanidade no
seu todo como para o homem na singularidade do seu ser, e um estímulo para o confronto
e o diálogo. Mas aquelas apresentam-se igualmente como uma grande oportunidade
para os crentes. De facto nenhum caminho pode, nem deve, ser vedado a quem, em
nome de Cristo ressuscitado, se empenha em tornar-se cada vez mais solidário com
o homem. Por conseguinte e antes de mais nada, os novos media oferecem aos presbíteros
perspectivas sempre novas e, pastoralmente, ilimitadas, que os solicitam a valorizar
a dimensão universal da Igreja para uma comunhão ampla e concreta; a ser no mundo
de hoje testemunhas da vida sempre nova, gerada pela escuta do Evangelho de
Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos salvar. Mas, é preciso não
esquecer que a fecundidade do ministério sacerdotal deriva primariamente de Cristo
encontrado e escutado na oração, anunciado com a pregação e o testemunho da vida, conhecido,
amado e celebrado nos sacramentos sobretudo da Santíssima Eucaristia e da Reconciliação. A
vós, queridos Sacerdotes, renovo o convite a que aproveiteis com sabedoria as singulares
oportunidades oferecidas pela comunicação moderna. Que o Senhor vos torne apaixonados
anunciadores da Boa Nova na "ágora" moderna criada pelos meios actuais de comunicação. Com
estes votos, invoco sobre vós a protecção da Mãe de Deus e do Santo Cura d’Ars
e, com afecto, concedo a cada um a Bênção Apostólica. Vaticano, 24 de Janeiro
- dia de São Francisco de Sales - de 2010.