2010-01-23 13:26:24

"O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos meios ao
serviço da Palavra."Mensagem do Papa para o Dia Mundial das comunicações sociais de 2010


(24/1/2010) Queridos Irmãos e Irmãs,
O tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais - "O
sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço
da Palavra" - insere-se perfeitamente no trajecto do Ano Sacerdotal
e traz à ribalta a reflexão sobre um âmbito vasto e delicado da
pastoral como é o da comunicação e do mundo digital, que oferece
ao sacerdote novas possibilidades para exercer o seu serviço à
Palavra e da Palavra. Os meios modernos de comunicação fazem
parte, desde há muito tempo, dos instrumentos ordinários através
dos quais as comunidades eclesiais se exprimem, entrando em
contacto com o seu próprio território e estabelecendo, muito
frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes, mas a sua
recente e incisiva difusão e a sua notável influência tornam cada vez
mais importante e útil o seu uso no ministério sacerdotal.
A tarefa primária do sacerdote é anunciar Cristo, Palavra de Deus
encarnada, e comunicar a multiforme graça divina portadora de
salvação mediante os sacramentos. Convocada pela Palavra, a
Igreja coloca-se como sinal e instrumento da comunhão que Deus
realiza com o homem e que todo o sacerdote é chamado a edificar
n’Ele e com Ele. Aqui reside a altíssima dignidade e beleza da
missão sacerdotal, na qual se concretiza de modo privilegiado aquilo
que afirma o apóstolo Paulo: "Na verdade, a Escritura diz: "Todo
aquele que acreditar no Senhor não será confundido". [...] Portanto,
todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas como
hão-de invocar Aquele em quem não acreditam? E como hão-de
acreditar n’Aquele de quem não ouviram falar? E como hão-de ouvir
falar, se não houver quem lhes pregue? E como hão-de pregar, se
não forem enviados?" (Rm 10,11.13-15).
Hoje, para dar respostas adequadas a estas questões no âmbito das
grandes mudanças culturais, particularmente sentidas no mundo
juvenil, tornaram-se um instrumento útil as vias de comunicação
abertas pelas conquistas tecnológicas. De facto, pondo à nossa
disposição meios que permitem uma capacidade de expressão
praticamente ilimitada, o mundo digital abre perspectivas e
concretizações notáveis ao incitamento paulino: "Ai de mim se não
anunciar o Evangelho!" (1 Cor 9,16). Por conseguinte, com a sua
difusão, não só aumenta a responsabilidade do anúncio, mas esta
torna-se também mais premente reclamando um compromisso mais
motivado e eficaz. A este respeito, o sacerdote acaba por encontrarse
como que no limiar de uma "história nova", porque quanto mais
intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e
mais ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais
será chamado o sacerdote a ocupar-se disso pastoralmente,
multiplicando o seu empenho em colocar os media ao serviço da
Palavra.
Contudo, a divulgação dos "multimédia" e o diversificado "espectro
de funções" da própria comunicação podem comportar o risco de
uma utilização determinada principalmente pela mera exigência de
marcar presença e de considerar erroneamente a internet apenas
como um espaço a ser ocupado. Ora, aos presbíteros é pedida a
capacidade de estarem presentes no mundo digital em constante
fidelidade à mensagem evangélica, para desempenharem o próprio
papel de animadores de comunidades, que hoje se exprimem cada
vez mais frequentemente através das muitas "vozes" que surgem
do mundo digital, e anunciar o Evangelho recorrendo não só aos
media tradicionais, mas também ao contributo da nova geração de
audiovisuais (fotografia, vídeo, animações, blogues, páginas
internet) que representam ocasiões inéditas de diálogo e meios
úteis inclusive para a evangelização e a catequese.
Através dos meios modernos de comunicação, o sacerdote poderá
dar a conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a
descobrirem o rosto de Cristo, conjugando o uso oportuno e
competente de tais meios - adquirido já no período de formação -
com uma sólida preparação teológica e uma espiritualidade
sacerdotal forte, alimentada pelo diálogo contínuo com o Senhor. No
impacto com o mundo digital, mais do que a mão do operador dos
media, o presbítero deve fazer transparecer o seu coração de
consagrado, para dar uma alma não só ao seu serviço pastoral, mas
também ao fluxo comunicativo ininterrupto da "rede".
Também no mundo digital deve ficar patente que a amorosa
atenção de Deus em Cristo por nós não é algo do passado nem uma
teoria erudita, mas uma realidade absolutamente concreta e actual.
De facto, a pastoral no mundo digital há-de conseguir mostrar, aos
homens do nosso tempo e à humanidade desorientada de hoje, que
"Deus está próximo, que, em Cristo, somos todos parte uns dos
outros" [Bento XVI, Discurso à Cúria Romana na apresentação dos
votos de Natal: "L’Osservatore Romano" (21-22 de Dezembro de
2009) pág. 6].
Quem melhor do que um homem de Deus poderá desenvolver e pôr
em prática, mediante as próprias competências no âmbito dos
novos meios digitais, uma pastoral que torne Deus vivo e actual na
realidade de hoje e apresente a sabedoria religiosa do passado
como riqueza donde haurir para se viver dignamente o tempo
presente e construir adequadamente o futuro? A tarefa de quem
opera, como consagrado, nos media é aplanar a estrada para novos
encontros, assegurando sempre a qualidade do contacto humano e
a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades
espirituais; oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era
"digital", os sinais necessários para reconhecerem o Senhor; dandolhes
a oportunidade de se educarem para a expectativa e a
esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o
desenvolvimento humano integral. A Palavra poderá assim fazer-se
ao largo no meio das numerosas encruzilhadas criadas pelo denso
emaranhado das auto-estradas que sulcam o ciberespaço e afirmar
o direito de cidadania de Deus em todas as épocas, a fim de que,
através das novas formas de comunicação, Ele possa passar pelas
ruas das cidades e deter-se no limiar das casas e dos corações,
fazendo ouvir de novo a sua voz: "Eu estou à porta e chamo. Se
alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa,
cearei com ele e ele comigo" (Ap 3, 20).
Na Mensagem do ano passado para idêntica ocasião, encorajei os
responsáveis pelos processos de comunicação a promoverem uma
cultura que respeite a dignidade e o valor da pessoa humana. Este é
um dos caminhos onde a Igreja é chamada a exercer uma "diaconia
da cultura" no actual "continente digital". Com o Evangelho nas
mãos e no coração, é preciso reafirmar que é tempo também de
continuar a preparar caminhos que conduzam à Palavra de Deus,
não descurando uma atenção particular por quem se encontra em
condição de busca, mas antes procurando mantê-la desperta como
primeiro passo para a evangelização. Efectivamente, uma pastoral
no mundo digital é chamada a ter em conta também aqueles que
não acreditam, caíram no desânimo e cultivam no coração desejos
de absoluto e de verdades não caducas, dado que os novos meios
permitem entrar em contacto com crentes de todas as religiões,
com não-crentes e pessoas de todas as culturas. Do mesmo modo
que o profeta Isaías chegou a imaginar uma casa de oração para
todos os povos (cf. Is 56,7), não se poderá porventura prever que a
internet possa dar espaço - como o "pátio dos gentios" do Templo
de Jerusalém -também àqueles para quem Deus é ainda um
desconhecido?
O desenvolvimento das novas tecnologias e, na sua dimensão
global, todo o mundo digital representam um grande recurso, tanto
para a humanidade no seu todo como para o homem na
singularidade do seu ser, e um estímulo para o confronto e o
diálogo. Mas aquelas apresentam-se igualmente como uma grande
oportunidade para os crentes. De facto nenhum caminho pode, nem
deve, ser vedado a quem, em nome de Cristo ressuscitado, se
empenha em tornar-se cada vez mais solidário com o homem. Por
conseguinte e antes de mais nada, os novos media oferecem aos
presbíteros perspectivas sempre novas e, pastoralmente, ilimitadas,
que os solicitam a valorizar a dimensão universal da Igreja para
uma comunhão ampla e concreta; a ser no mundo de hoje
testemunhas da vida sempre nova, gerada pela escuta do
Evangelho de Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos
salvar. Mas, é preciso não esquecer que a fecundidade do ministério
sacerdotal deriva primariamente de Cristo encontrado e escutado na
oração, anunciado com a pregação e o testemunho da vida,
conhecido, amado e celebrado nos sacramentos sobretudo da
Santíssima Eucaristia e da Reconciliação.
A vós, queridos Sacerdotes, renovo o convite a que aproveiteis com
sabedoria as singulares oportunidades oferecidas pela comunicação
moderna. Que o Senhor vos torne apaixonados anunciadores da Boa
Nova na "ágora" moderna criada pelos meios actuais de
comunicação.
Com estes votos, invoco sobre vós a protecção da Mãe de Deus e do
Santo Cura d’Ars e, com afecto, concedo a cada um a Bênção
Apostólica.
Vaticano, 24 de Janeiro - dia de São Francisco de Sales - de 2010.








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