Milhares de haitianos abandonam Port-au-Prince :UNICEF divulga e desmente raptos
(23/1/2010) Centenas de milhares de haitianos estão a abandonar Port-au-Prince, informaram
as organizações de ajuda humanitária. De acordo com as mesmas fontes, cerca de
200.000 pessoas encheram autocarros e "ferry" ou fugiram a pé da devastada capital
haitiana. Muitos tentam voltar às zonas rurais onde têm familiares e pelo menos
100.000 terão fugido para Gonaives, uma cidade a cerca de 110 quilómetros a norte
de Port-au-Prince, segundo a agência da ONU para o desenvolvimento internacional. Para
os que ficaram, já foram iniciados trabalhos de terraplanagem em espaços na periferia
da cidade para instalar tendas, que deverão alojar 400.000 pessoas. O objectivo
é travar a propagação de doenças em centenas de acampamentos improvisados, que não
têm água ou local para esgotos. A Organização Internacional para as Migrações (OIM)
registou até quinta-feira 447 acampamentos improvisados com pelo menos 500.000 desalojados
só na capital haitiana.
E num momento em que, de todo o Mundo, surgem pedidos
de adopção, as crianças haitianas são agora mercadoria muito cobiçada pelas redes
de raptos internacionais. A UNICEF diz estar atenta à situação, embora ainda não tenha
casos confirmados. Ontem de manhã, um conselheiro regional do Fundo das Nações
Unidas para a Infância, avançara com a informação de que 15 crianças haitianas foram
levadas de hospitais por "pessoas que não são familiares". Teriam sido raptadas por
criminosos com ligações a redes internacionais que accionam o chamado "mercado de
adopção" em situações de tragédia, como o sismo, no dia 12, devastou o Haiti. Horas
mais tarde, o chefe de comunicação da UNICEF, Jeremy Hartley, disse que a organização
não pode confirmar a existência de menores raptados, embora esteja a investigar. Em
conferência de Imprensa conjunta com porta-vozes de diferentes agências da ONU, Jean-Luc
Legrand, conselheiro regional do Fundo das Nações Unidas para a Infância afirmou que,
antes do grande terramoto, já existia tráfico de crianças no Haiti e que o fenómeno
tende a alastrar-se em contextos de tragédia, como o tsunami de 2004. "Estas redes
são activadas imediatamente aquando de uma catástrofe e servem-se da fraqueza do Estado,
da fraqueza de coordenação dos actores no terreno para levar as crianças." É impossível
calcular quantas crianças saíram, nos últimos dias, do Haiti, onde existiam 380 mil
menores institucionalizados antes do sismo. Não obstante o grande interesse em
adoptar crianças do Haiti, a UNICEF recomendou o congelamento de novas adopções até
haver confirmação dos casos de orfandade e do cumprimento das regras internacionais,
por recear situações de tráfico ilegal.