Cidade do Vaticano, 24 jan (RV) - Após as primeiras emoções causadas pelos
abalos sísmicos no Haiti, podemos tomar um pouco de distância e contemplar, com os
olhos da inteligência e do coração, o quadro que vemos.
Vimos e vemos uma comunidade
mundial se movimentar e enviar mantimentos, medicamentos, hospitais de campanha, dinheiro
e, o mais importante, enviar profissionais. Os noticiários nos mostram agentes da
saúde, médicos, militares e sacerdotes exercendo suas funções no auxílio dos desabrigados.
Ao mesmo tempo vemos uma infinidade de crianças, órfãs em sua maioria, sendo
acarinhadas e tratadas pelos atuais samaritanos.
Por outro lado, o Brasil,
atingido fortemente nesse terremoto, enterrou a Dra. Zilda Arns, o diplomata Luiz
Carlos da Costa e 18 militares. Vinte brasileiros mortos em função, trabalhando pela
paz, em prol da comunidade haitiana. Nossa Pátria não se intimidou com essas perdas,
mas as encarou como sacrifício e enviou significativa quantia monetária, medicamentos,
víveres e mais militares. Não satisfeito com o enviado, prometeu mais e a movimentação
pró Haiti continua em solo brasileiro.
Contemplando Porto Príncipe, vemos um
povo sofrido que não perdeu a esperança e muito menos a alegria de viver. Após enterrar
até agora um sem número de corpos – os números são imprecisos, fala-se em mais de
100.000 mortos - a grande maioria em valas comuns, outros sepultados com música no
jazigo da família, a busca de alimento e a solidariedade se fazem presentes. Evidentemente,
não se pode relatar uma convivência absolutamente pacífica. A fome, a ajuda às pessoas
queridas e também a má inclinação, muitas vezes fez surgir atitudes agressivas de
desespero e oportunismo. Do mesmo modo as centenas de crianças precisam de todo tipo
de ajuda e proteção. Em um dos orfanatos improvisados já se deu falta de 15 bebês.
A Comunidade internacional promete continuar seu apoio. É bom que continue. A
destruição foi avassaladora, pior que muitas guerras. Por outro lado, quem ajuda,
enviando donativos ou indo até lá para arregaçar as mangas e trabalhar, deverá ser
imensamente grato ao povo haitiano que está possibilitando algo grandioso e imensamente
humanitário que é colaborar na reconstrução de sua comunidade. Sejamos samaritanos,
sejamos fraternos e com muita humildade, ajudemos nossos irmãos a desatar esse nó.
As lágrimas já secaram, mas a dor continua. Não devemos abaixar o nosso olhar diante
da tragédia daquele povo marcado pelo sofrimento.
Seja símbolo desse renascer,
a figura daquela senhora bastante idosa, resgatada dos escombros, após dez dias sem
comer ou beber, coberta de poeira, e que vem à luz cantando; do mesmo modo aquele
menininho de oito anos, salvo das ruínas, vem à luz sorrindo e alçando os braços,
mesmo com um deles quebrado, como um chefe conclamando seu liderados. É a força, a
garra de um povo sofrido, mas forte, destemido, desejoso de viver, rico em esperança
e, exatamente por isso, lutador! (CAS)