Haiti: a distribuição da ajuda humanitária acelera e a ONU lança programa "Dinheiro
por Trabalho". Aumento do tráfico de crianças haitianas preocupa a UNICEF
(22/1/2010) A prometida ajuda internacional às vítimas do terramoto de Port au Prince
está já a chegar a um ritmo mais acelerado e a ser processada e distribuída de forma
mais eficiente.
Contudo uma melhoria que continua a não ser suficiente para
atender às necessidades dos mais de dois milhões de desalojados da capital do Haiti,
que nove dias depois do desastre estão a viver em gigantescos campos de refugiados,
com medo dos efeitos das réplicas que ainda fazem tremer a cidade.
As agências
de assistência no terreno assinalaram progressos evidentes, com a entrada em funcionamento
do danificado porto de mar, a instalação de mais clínicas médicas e a abertura de
vários pontos de distribuição de água e alimentos dentro dos bairros mais carenciados
da cidade.
O aeroporto internacional, agora sob o controlo dos Estados Unidos,
aumentou a sua capacidade de 30 para 130 aviões por dia. Três outros aeródromos estão
também operacionais e começaram a ser utilizados. A lista de espera de voos com destino
ao Haiti é actualmente de 1400.
A limpeza de escombros deixou todas as
vias essenciais da capital em estado transitável. Os comboios da ajuda humanitária,
que partem do terminal do aeroporto ou chegam da República Dominicana, estão a ser
escoltados pelos capacetes azuis da ONU e por forças americanas, que também vigiam
o processo de distribuição nos vários bairros da cidade. Ao contrário do que aconteceu
nos primeiros dias, esta tem decorrido de forma ordeira e sem incidentes.
A
população local continua a queixar-se da desorganização e lentidão no socorro internacional,
e do abandono do seu próprio governo.
Outro problema é o aumento do tráfico
de crianças haitianas ; uma realidade que preocupa o representante da UNICEF no Haiti
Guido Cornale, que lembra que "neste momento, não há qualquer controlo e tudo pode
acontecer". Depois do terramoto de 12 de Janeiro que matou milhares de pessoas,
muitas crianças ficaram órfãs e no país mais pobre do continente americano comprar
um bebé prometendo um futuro melhor pode ser sedutor para os familiares que não têm
como os alimentar. O caos nos hospitais sobrelotados de Port-au-Prince, onde entram
e saem diariamente centenas de pessoas sem qualquer controlo, pode ser um cenário
atractivo para raptos. "Neste momento é fácil tirar uma criança de um hospital
sem que ninguém se aperceba", sublinhou o representante da UNICEF. Um responsável
desta organização da ONU em Genebra, afirmou que são já 15 as crianças desaparecidas
dos hospitais. Nas ruas da cidade e nos acampamentos que foram montados após o
terramoto, milhares de crianças passeiam sozinhas sem qualquer controlo. Situações
que agravam um problema que não é de agora. Entretanto a ONU vai lançar um programa
que consiste em entregar aos haitianos, à sua custa, o trabalho para reconstruir o
país devastado pelo sismo. O secretário-geral Ban Ki-moon, recebeu quinta-feira
o apoio do ex-presidente norte-americano Bill Clinton, o seu emissário especial para
o Haiti, para este dispositivo.
Este programa, dotado até agora de cinco
milhões de dólares, provenientes do PNUD (Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento)
e do governo espanhol, deve permitir aos Haitianos receber cinco dólares por dia para
participar nos trabalhos de limpeza e reconstrução após o sismo e assim «contribuir
para revigorar a sua economia», referiu Ban.
O objectivo é empregar cerca
de 220.000 pessoas, o que permitiria a um milhão de pessoas (as suas famílias) beneficiar
indirectamente do plano, de acordo com os responsáveis da ONU.