VISITA DO PAPA À SINAGOGA: BOAS INTENÇÕES E EMOÇÃO
Cidade do Vaticano, 19 jan (RV) - Bento XVI definiu sua visita à comunidade
judaica de Roma como um ‘momento de graça’, e hoje, o L’Osservatore Romano concorda:
“realmente o foi”.
Notamos a emoção do papa ao homenagear os deportados no
Holocausto e as vítimas do terrorismo anti-semita, vimos as lágrimas dos que sofreram
suas conseqüências, constatamos o orgulho e a alegria dos velhos judeus romanos ao
apertar a mão do bispo de sua cidade; ouvimos os cantos entoados no Templo Maior,
diante de representantes judeus de Israel e de todo o mundo, e os aplausos, que por
9 vezes interromperam o discurso de Bento XVI.
“O encontro de Bento XVI com
a comunidade judaica demonstrou a intenção comum de enfrentar e resolver os problemas
que existem, reforçando o caminho do diálogo”.
Segundo o Cardeal Walter Kasper,
presidente da Comissão vaticana para as relações religiosas com o judaísmo, as duas
partes confirmaram sua determinação de prosseguir o diálogo, não apenas no sentido
acadêmico, mas também como intercâmbio de valores.
Para o cardeal alemão,
foi muito importante o que o papa disse sobre a ‘herança comum’ dos Dez Mandamentos:
que eles são um ‘código ético’ para toda a humanidade.
Admitindo que existem
ainda diferenças e problemas concretos a superar, Dom Kasper ressalva que eles podem
ser resolvidos hoje num contexto de amizade, sem hostilidades.
“A visita construiu
confiança e amizade, e podemos prosseguir assim, pois este diálogo é um sinal importante
de que mesmo depois de um longo período de contrastes, pode-se recomeçar”.
Para
o diretor do L’Osservatore Romano, Giovanni Maria Vian, apesar de ter sido precedida
por polêmicas, a visita ‘demonstrou que a vontade de enfrentar as questões abertas
é comum e firme’. Em um editorial, Vian descreve os contrastes como a beatificação
de Pio XII como ‘fruto de enfatizações da imprensa’, de ‘operações irresponsáveis’
e ‘sem alguma consistência real’.
Em relação ao ‘nó’ sobre Pio XII, segundo
Vian, ‘nem a abertura de todos os arquivos levará a um acordo sobre seu comportamento
diante do Holocausto, porque interpretações históricas serão sempre possíveis e legítimas.
Para o jornalista, o encontro de domingo foi importante por ter sido mais
um passo no caminho comum de judeus e católicos, mas mais ainda, porque foram ‘corajosos
e francos’ ao admitirem suas dificuldades.
Grandes especialistas de hebraísmo,
como o prior do mosteiro de São Gregório, em Roma, propuseram ‘institucionalizar’
a visita dos pontífices à Sinagoga de Roma logo após sua eleição, como um ‘sinal de
resguardo’ com os ‘irmãos mais velhos’.
Ontem enquanto abriam-se os trabalhos
da Comissão mista para o diálogo católico-judaico, o papa recebia, no Vaticano, Jacob
Neusner, rabino norte-americano com o qual é muito ligado por laços de amizade, tanto
que o citou em seu livro ‘Jesus de Nazaré’, no capítulo dedicado ao Sermão da Montanha.
(CM)