A pior crise humanitária das ultimas décadas em Haiti
(18/1/2010) A situação no Haiti é "a pior crise humanitária das últimas décadas",
disse ontem o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apelando à comunidade internacional
para "não desperdiçar um único dólar" na ajuda aos milhões de pessoas que perderam
tudo no tremor de terra de terça-feira. "Os prejuízos, a destruição e a perda de vidas
são simplesmente esmagadores." Em Port au Prince, Ban Ki-moon encontrou-se com
a "número dois" do Governo espanhol, María Teresa Fernández de la Vega, e propôs-lhe
que a União Europeia organize uma missão especial sob a égide da ONU para realizar
tarefas de socorro e distribuição de ajuda. Espanha ocupa a presidência da UE, que
hoje terá uma reunião dos ministros da Ajuda e Desenvolvimento onde será decidido
desbloquear 100 milhões de euros para a reconstrução do Haiti. Até agora, Bruxelas
já desbloqueou 20 a 30 milhões.
A Organização Mundial de Saúde e a Cruz
Vermelha estimam que o terramoto tenha causado entre 45 mil e 50 mil mortos. As autoridades
haitianas apontam um número mais elevado, acima dos cem mil mortos. O comandante das
forças especiais americanas no terreno alertou para a "hipótese" de o número total
de vítimas chegar às 200 mil. Três milhões de pessoas terão ficado desalojadas. Cerca
de 60 por cento da cidade já foi vistoriada pelos 43 grupos especializados na resposta
a situações de catástrofe que chegaram a Port au Prince. São mais de 1700 trabalhadores,
que dispõem de equipamento sofisticado para detectar a existência de vida, bem como
de maquinaria pesada para proceder à remoção dos sobreviventes. A secretária de
Estado norte-americana, Hillary Clinton, também já viu, em primeira mão, o grau de
devastação causada pelo violento sismo, de magnitude sete na escala de Richter, no
país mais pobre do hemisfério ocidental. Clinton esteve reunida com o primeiro-ministro
Jean-Max Bellerive e o Presidente René Préval, que está provisoriamente alojado no
aeroporto depois do colapso do Palácio Presidencial e da sua residência. O Governo
assinou um protocolo de cedência temporária do controlo do aeroporto aos EUA.. Um
navio-hospital, com mais de 500 médicos e enfermeiros, deve atracar na terça-feira.
Hoje já estarão 10 mil soldados dos EUA em Port au Prince e o Presidente Barack Obama
ordenou a mobilização de reservistas.
No fim-de-semana, milhares de sobreviventes
começaram a abandonar Port au Prince em direcção ao interior norte do país e à República
Dominicana. Na zona do aeroporto concentravam-se muitos estrangeiros à espera de uma
oportunidade para sair do país. Na cidade, a ajuda humanitária começava a chegar
com a distribuição de água, comida, medicamentos e roupa. Os capacetes azuis da ONU,
que já antes do terramoto eram responsáveis pela segurança do país, tentavam garantir
que a distribuição decorria sem incidentes. Mas não conseguiam evitar o caos: as pessoas
amontoavam-se e lutavam pelo acesso aos mantimentos, empurrando os mais pequenos e
fracos para o fim das filas de distribuição. Dois voluntários dominicanos foram atingidos
por tiros quando distribuíam biscoitos de alta energia. As tropas no terreno sentiam
idênticas dificuldades em controlar a actividade de dezenas de gangues armados que
circulavam pelos campos de refugiados, roubando e ameaçando a desprotegida população.