Na visita á Sinagoga de Roma Bento XVI lembrou a acção dos católicos na II Guerra
Mundial e salientou que Judeus e cristãos devem percorrer o caminho do diálogo
(18/1/2010) Bento XVI visitou este Domingo a Sinagoga de Roma, defendendo que o Vaticano
ajudou os judeus, muitas vezes de forma “escondida e discreta”, durante a II Guerra
Mundial. O Papa abordou em particular a questão da Shoah: “Neste lugar, como não
recordar os judeus romanos que foram retirados das suas casas, diante destes muros,
e com horrenda tortura foram mortos em Auschwitz? Como seria possível esquecer os
seus rostos, os seus nomes, lágrimas, desespero de homens, mulheres e crianças?” “
O extermínio do povo da Aliança de Moisés, antes anunciado, em seguida sistematicamente
programado e realizado na Europa sob o domínio nazi, chegou naquele dia tragicamente
também a Roma. Infelizmente, muitos foram indiferentes, todavia muitos, também entre
os católicos italianos, sustentados pela fé e pelo ensinamento cristão, reagiram com
coragem, abrindo os braços para socorrer os judeus perseguidos e fugitivos, muitas
vezes arriscando a própria vida, e merecendo uma gratidão perene”, indicou. Bento
XVI deixou claro que “também a Sé Apostólica desenvolveu uma ação de socorro, muitas
vezes escondida e discreta”. “A memória destes acontecimentos deve levar-nos a
reforçar os laços que nos unem para que cresçam cada vez mais a compreensão, o respeito
e o acolhimento”, assinalou. A terceira visita do Papa tinha como objectivo consolidar
o diálogo e o respeito entre as duas comunidades, procurando ultrapassar as dificuldades
que têm surgido neste relacionamento. “Com sentimentos de viva cordialidade encontro-me
no meio de vós para manifestar a estima e o afecto que o Bispo e a Igreja de Roma,
e toda a Igreja Católica, nutrem por esta Comunidade e pelas Comunidades Judaicas
espalhadas pelo mundo”, indicou. O Papa foi recebido pelo presidente da Comunidade
Judaica de Roma, Riccardo Pacifici, pelo presidente da Comunidade Judaica Italiana,
Renzo Gattegna, e pelo rabino-chefe da Sinagoga de Roma, Riccardo Di Segni. Bento
XVI, alemão, parou diante da lápide que recorda a deportação de 1021 judeus para o
campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, a 16 de Outubro de 1943. O Papa deteve-se
também diante da lápide que lembra o atentado de 9 de Outubro de 1982, em que perdeu
a vida Stefano Taché, menino judeu de dois anos, e ficaram feridos 37 judeus que saíam
do Templo. No seu discurso, Bento XVI agradeceu ao rabino-chefe da Sinagoga de
Roma pelo convite e lembrou a primeira visita papal ao local, que aconteceu há 24
anos, por iniciativa de João Paulo II, o qual quis, segundo o actual Papa, “dar uma
contribuição decisiva em favor da consolidação das boas relações entre as nossas comunidades,
para superar qualquer incompreensão e preconceito”. “Esta minha visita insere-se
no caminho traçado, para confirmá-lo e reforçá-lo”, assegurou. Bento XVI recordou
que Concílio Vaticano II representou para os católicos um ponto decisivo de referência
constante na atitude e nas relações com o povo judeu, abrindo uma nova etapa: "O evento
conciliar deu um impulso decisivo ao compromisso de percorrer um caminho irrevogável
de diálogo, de fraternidade e amizade, caminho que se aprofundou e se desenvolveu
nestes quarenta anos com passos e gestos importantes e significativos". O Papa
sublinhou que “também eu, nestes anos de pontificado, quis demonstrar a minha proximidade
e o meu afecto ao povo da Aliança”. “Conservo bem vivo em meu coração todos os
momentos da peregrinação que tive a alegria de realizar na Terra Santa, em Maio do
ano passado, como também os vários encontros com comunidades e organizações judaicas,
em particular os das sinagogas de Colónia e Nova Iorque", sublinhou Bento XVI. O
Papa disse ainda que "a Igreja não deixou de condenar as faltas de seus filhos e filhas,
pedindo perdão por tudo aquilo que ajudou a favorecer de algum modo as chagas do anti-semitismo
e do antijudaísmo". "Cristãos e judeus possuem uma grande parte comum de património
espiritual, rezam ao mesmo Senhor, possuem as mesmas raízes, mas continuam reciprocamente
desconhecidos. Cabe-nos a nós, como resposta ao apelo de Deus, trabalhar para que
permaneça sempre aberto o espaço para o diálogo, o respeito recíproco, o crescimento
na amizade, o testemunho comum diante dos desafios do nosso tempo, que nos convidam
a colaborar para o bem da humanidade neste mundo criado por Deus, o Omnipotente e
Misericordioso", ressaltou. Bento XVI fez um apelo para que na cidade de Roma,
onde há dois mil anos, convivem a Comunidade Católica com o seu bispo e a Comunidade
Judaica com o seu rabino-chefe, tal vivência possa ser animada por um crescente amor
fraterno, que se expressa também na cooperação, a fim de oferecer uma contribuição
válida na solução de problemas e dificuldades. O Papa concluiu o seu discurso invocando
ao Senhor o dom precioso da paz na Terra Santa, no Médio Oriente e pediu a Deus para
que reforce cada vez mais a fraternidade e o diálogo entre católicos e judeus.