Cidade do Vaticano, 14 jan (RV) - Ainda continuamos surpresos e abalados com
a violência da tragédia que se abateu sobre o Haiti. O terremoto foi devastador. Só
aos poucos será possível contabilizar as vítimas, e avaliar os estragos causados.
Tanto mais urgente se apresenta agora o desafio da solidariedade, para um
país que já vivia em condições de extrema precariedade. O apelo precisa ser respondido
sobretudo pelo Brasil, em vista de duas vinculações especiais que neste episódio ligam
nosso país com o Haiti.
A primeira delas é a presença do contingente do Exército
Brasileiro, no comando da Força de Estabilização das Nações Unidas a serviço da manutenção
da ordem no Haiti, desde 2005. A segunda é o falecimento da Dra. Zilda Arns, que estava
no Haiti em missão de ajuda humanitária, e que acabou morrendo vitimada pelo terremoto.
Este fato envolve todo o episódio com motivações impregnadas de valores humanos
e sentimentos cristãos. A própria tragédia, surpreendendo a todos, acabou dignificando
o testemunho de uma pessoa que dedicou toda a sua existência a serviço da vida humana,
sobretudo dos mais frágeis, de que o povo haitiano é um exemplo singular.
Mártir
é aquele que morre dando testemunho de sua fé. A Dra. Zilda não podia concluir de
maneia mais clara o seu testemunho de caridade, do que morrendo no cumprimento de
uma missão que ela abraçou com extrema tenacidade e competência, ao longo de toda
a sua vida.
Com a Dra. Zilda faleceram, ao lado dela, outros quatro soldados
brasileiros, integrantes do nosso Exército. Eles também se tornaram heróis, que testemunham
o caráter humanitário e a postura de dignidade e de respeito que caracterizou a presença
da Tropa Brasileira no Haiti, como as autoridades e o povo daquele país souberam muito
bem reconhecer e valorizar.
Há dois anos, a Cáritas realizou sua assembléia
no Haiti, como expressão da solidariedade de todos os países latino americanos para
com o país mais pobre do continente. Parecia uma premonição da solidariedade efetiva
que agora somos chamados a exercer com urgência, para socorrer as vítimas e recompor
as condições mínimas de sobrevivência do povo haitiano.
A Cáritas Brasileira
já se coloca a campo, para promover uma campanha nacional, fazendo apelo a todas as
comunidades, para que sejam generosas em socorrer agora nossos irmãos que passam por
situação tão difícil.
Mas a situação do Haiti interpela o mundo inteiro. Este
país, de diversas maneiras, sentiu o peso das adversidades produzidas pelo sistema
econômico e financeiro mundial. Uma medida sensata e justa seria agora o perdão imediato
de toda a dívida externa do Haiti, que corresponde a 30% do seu pobre orçamento.
A
responsabilidade que a comunidade mundial conferiu ao Brasil, confiando-lhe o comando
da Força de Estabilização, confere agora ao nosso país a autoridade para propor e
reivindicar tal medida, como gesto mínimo de solidariedade internacional.
Pensando
na Dra. Zilda, nos quatro soldados brasileiros, no arcebispo da capital que também
morreu sob os escombros da sua igreja, e nas milhares de vítimas anônimas deste pobre
e querido país, sentimos a dor cortando nosso coração.
Que ela se traduza
na participação efetiva na campanha que agora é lançada, e nas reflexões que toda
tragédia humana nos leva a fazer. Também para nos perguntarmos por que o Haiti, o
primeiro país a conseguir no passado sua independência, no presente se encontra em
situação tão precária e tão injusta. (www.diocesedejales.org.br)