BENTO XVI: PRESERVAR A NATUREZA É UMA EXIGÊNCIA MORAL
Cidade do Vaticano, 11 jan (RV) – A preservação da natureza esteve no centro
do discurso de Bento XVI ao corpo diplomático acreditado junto à Santa Sé, recebido
esta manhã na Sala Regia, no Vaticano, para as felicitações no início do novo ano.
Recebendo
os embaixadores de 178 países, em seu discurso, o papa saudou todas as outras nações
da Terra: "O Sucessor de Pedro mantém aberta a sua porta para todos, e com todos deseja
tecer relações que contribuam para o progresso da família humana".
A seguir,
Bento XVI falou dos perigos ecológicos que ameaçam o planeta: "A negação de Deus desfigura
a liberdade da pessoa humana, mas devasta também a criação. Daqui resulta que a preservação
da natureza não visa tanto responder a uma exigência estética, mas, sobretudo, a uma
exigência moral", citando a recente Cúpula de Copenhague, e os eventos sobre o clima
que aguardam os líderes mundiais em 2010, fazendo votos de que chegue a um acordo
satisfatório.
Ao falar sobre segurança alimentar, o papa recordou de sua viagem
a Camarões e Angola em março do ano passado e realização do Sínodo para a África.
Os Padres Sinodais assinalaram, com preocupação, a erosão e a desertificação de amplas
extensões de terra cultivável, por causa da exploração selvagem e da poluição do ambiente.
Na África, como em outros lugares, é necessário adotar opções políticas e econômicas
capazes de assegurar formas de produção agrícola e industrial que respeitem a ordem
da criação e satisfaçam as necessidades primárias de todos.
Por outro lado,
a luta pelo acesso aos recursos naturais é uma das causas de vários conflitos. "Esta
é mais uma razão que me leva a repetir com vigor que, para cultivar a paz, é preciso
proteger a criação" – disse o papa. "Em diversas partes, há ainda vastas extensões,
por exemplo, no Afeganistão ou em alguns países da América Latina, onde infelizmente
a agricultura ainda está ligada à produção de droga, constituindo uma fonte não indiferente
de emprego e subsistência."
"A proteção da criação é um fator importante de
paz e de justiça" – recordou. O papa condenou as guerras em Darfur, na República Democrática
do Congo e na Somália. Mencionou as perseguições religiosas contra os cristãos do
Médio Oriente, citando a convocação do Sínodo dos Bispos para o outubro próximo, no
Vaticano.
Falando da Europa, analisou a mídia e o tratamento dispensado à
religião, particularmente à religião cristã. Discorreu sobre a laicidade positiva,
aberta, que, fundada sobre uma justa autonomia da ordem temporal e da ordem espiritual,
favorece uma sã cooperação e um espírito de responsabilidade compartilhada.
No
contexto da preservação da natureza e da salvaguarda da Criação, o papa relevou um
aspecto importante, característico do 'ser cristão': a solidariedade, expressa por
muitos nos momentos de necessidade.
Bento XVI citou as catástrofes naturais
que semearam mortes, sofrimentos e destruições, neste ano que passou, nas Filipinas,
no Vietnã, Laos, Camboja, na ilha de Taipei e na Indonésia, e ainda na região italiana
dos Abruzos, ferida pelo terremoto em abril passado.
"Mas, além da solidariedade,
a preservação da criação tem necessidade também da concórdia e da estabilidade dos
Estados" – sugeriu o pontífice.
Para defender a paz em meio a divergências
e hostilidades, os líderes devem seguir com tenacidade o caminho de um diálogo construtivo.
Como exemplo, Bento XVI citou a América Latina, recordando o ocorrido há 25 anos com
o Tratado de Paz e Amizade entre a Argentina e o Chile, concluído graças à mediação
da Sé Apostólica, e a atual aproximação entre Colômbia e Equador, depois de vários
meses de tensão.
A respeito de pacificação, foram recordados o entendimento
concluído entre a Croácia e a Eslovênia e o acordo entre a Armênia e a Turquia, além
de auspiciada a melhora das relações entre todos os países do Cáucaso meridional.
Uma vez mais, o papa elevou a voz pedindo que seja universalmente reconhecido
o direito do Estado de Israel a existir e gozar de paz e segurança nas fronteiras
internacionalmente reconhecidas; e igualmente, que seja reconhecido o direito do povo
palestino a uma pátria soberana e independente, a viver com dignidade e a movimentar-se
livremente.
O pontífice pediu o apoio de todos para que se protejam a identidade
e o caráter sagrado de Jerusalém: “Só assim, esta cidade única, santa e atribulada
poderá ser sinal e antecipação da paz que Deus deseja para toda a família humana”.
Sobre o Iraque, Bento XVI exortou seus governantes e cidadãos a superarem
as divisões, a tentação da violência e a intolerância, para construírem juntos o futuro
do país.
Enfim, abordando um tema da crônica de nossos dias, o papa recordou
a necessidade de respeito, segurança e liberdade para as comunidades cristãs, citando
o Paquistão, duramente fustigado pela violência nestes últimos meses.
Ainda
a respeito de violência anticristã, o papa mencionou o deplorável atentado contra
a comunidade copta egípcia nestes últimos dias, precisamente quando festejava o Natal.
Bento XVI fez votos de soluções compartilhadas para situações difíceis no
Irã, no Líbano, na Guiné e em Madagascar, e se desculpou por não poder citar todos
os países representados.
Concluindo, recordou que há tanto sofrimento na humanidade
e o egoísmo humano danifica a criação de muitas maneiras. É por isso que a expectativa
da salvação, que diz respeito a toda a Criação, aparece ainda mais intensa e está
presente no coração de todos, crentes e ateus. Suas últimas palavras foram de esperança:
"Que
a luz e a força de Jesus nos ajudem a respeitar a ecologia humana, cientes de que
esta beneficiará a ecologia ambiental, porque o livro da natureza é único e indivisível.
Poderemos assim consolidar a paz para as gerações atuais e futuras." (BF/CM)