A Igreja que não é noticia: aqueles que testemunham que outro mundo é possível, um
mundo de solidariedade e verdade, de amor gratuito
(6/1/2009) Um editorial do jornal do Vaticano, “L'Osservatore Romano”, questiona
o motivo pelo qual a imprensa não eclesial ignorou o assassinato de 37 missionários
em 2009. "Nos últimos dez anos nunca foi alcançado um número assim tão alto, e
a cifra não é definitiva porque provavelmente outras mortes não tiveram repercussão",
escreve o jornal na edição de 4-5 de Janeiro. De acordo com o editorial, a notícia
não teve relevo porque contradiz a imagem dominante da Igreja nos meios de comunicação
social: "uma estrutura rica e potente, que quer impor as suas leis também a quem não
se sente parte do universo católico, uma oligarquia que é incapaz de entender como
o mundo mudou". A generalidade dos media considera que a Igreja é uma instituição
antiga e rígida, ignorando ou esquecendo que é composta por pessoas seriamente comprometidas
com uma missão difícil, e muitas vezes perigosa, “que perdem a vida por causa dessa
escolha de caridade corajosa", lê-se no artigo assinado pela professora Lucetta Scaraffia,
docente de História Contemporânea da Universidade La Sapienza, de Roma. ''Sem armas,
e frequentemente com pouquíssimos meios, os missionários mártires testemunham que
outro mundo é possível, um mundo de solidariedade e verdade, de amor gratuito. E isso
já é suficiente para torná-los um alvo mortal", destaca o Osservatore Romano, citando
as histórias dos padres mortos por morarem e actuarem sem protecção em regiões violentas. Tratam-se
de "locais pouco visitados e que poderiam ser definidos como estando abandonados por
Deus, mas onde os missionários estão presentes para provar que Deus jamais abandona
alguém”, assinala o jornal. “Esta é a verdadeira Igreja, aquela que não faz notícia",
conclui o editorial de l’Osservatore Romano.